
A Gen-t (pronuncia-se ‘gente’) deu mais um passo rumo a se tornar o primeiro banco genético do brasileiro. “Gen-t é a mistura de genética com tecnologia mas, ao mesmo tempo, é uma empresa sobre a ‘nossa’ gente”, diz Lygia Pereira, CEO da Gen-t e responsável pelo projeto Genoma do Brasil, da USP, ao falar sobre como se pronuncia a marca. Por trás da Gen-t, há um pulo do gato: quando se usam dados genéticos em pesquisa e desenvolvimento de medicamentos, as farmacêuticas têm o dobro de possibilidade de sucesso. É um valor potencial enorme.
Investida pelos renomados Armínio Fraga, Eduardo Mufarej, Daniel Gold, Roivant Science e Eurofarma, a Gen-t fez agora a primeira parceria com uma farmacêutica para pesquisa conjunta: a norte-americana especializada em biotecnologia Regeneron, que fará o sequenciamento genético de 20 mil DNAs colhidos aqui.
“Ao contrário de outros bancos genéticos que existem no mundo, como na Islândia, no Reino Unido e nos Estados Unidos, uma plataforma brasileira tem a grande vantagem da diversidade da população”, afirma ela. “Hoje, 90% da pesquisa genética feita no mundo se dá com populações brancas e o resultado não é o mesmo de quando se coletam informações de ancestralidades diferentes.”
Empresa foi criada em 2022
Como qualquer empresa que trabalha com pesquisa, a Gen-t tem seu próprio tempo para ser erguida. Criada em 2022, com investimentos captados em 2021, a empresa passou os primeiros anos lidando com questões regulatórias e montando uma infraestrutura junto a prefeituras e Unidades Básicas de Saúde (UBS), para captar as amostras genéticas e de saúde da população.
Em 2022 e 2023, a Gen-t avançou com a captação de informações de 12 mil brasileiros. As pessoas que cedem seus DNAs e informações clínicas para a pesquisa têm como contrapartida check ups e acompanhamento por cinco anos. Já o SUS vê a fila de exames de sangue, por exemplo, ser desafogada.
Como o nome do jogo de coleta de dados se chama escala, agora a empresa começou a replicar o modelo de coleta em Salvador. Caso seja bem sucedido, o sistema poderá chegar a outras regiões do País. O objetivo é alcançar 200 mil amostras de DNA colhidas até 2027.
Volume de coleta começa a atrair farmacêuticas
O volume feito até agora, porém, já começa a atrair as empresas da área. “Vínhamos conversando com as ‘farmas’, que achavam a ideia bacana, mas nos pediam para voltar quando tivéssemos alguma coisa concreta”, diz Lygia. “Quando chegamos a 10 mil participantes, elas começaram a nos levar a sério.”
Além de captar as informações do maior número de participantes possível, outro desafio é o do sequenciamento genético. A análise de cada amostra custa em torno de US$ 250 - um valor grande por conta da escala, numa empresa praticamente sem geração de receita. Essa foi a dificuldade resolvida na parceria com a Regeneron, que arcará com o custo de US$ 2 milhões, em troca do acesso às informações que serão geradas pela Gen-t.
Essa, aliás, será a fonte de receita da empresa: cada laboratório tem suas premissas para a cura ou o tratamento de doenças e pagará para ter acesso ao mundo de informações dos genes que, eventualmente, podem trazer alguma resposta ao questionamento científico. “É uma demanda do mundo inteiro”, afirma Lygia.
Uma amostra foi dada na Health Care Conference, promovida no fim de janeiro pelo JP Morgan, em São Francisco. A Gen-t foi procurada por empresas do setor como Novo Nordisk, JSK, Astra Zeneca e Genentech. A companhia fez um primeiro projeto piloto para a Abbvie (nascida da Abbot) com 500 participantes. Agora, começa a discutir um projeto para 3,5 mil.
Negócio pode se tornar projeto estruturante
Se, para a indústria, a promessa é acelerar descobertas, para a pesquisa brasileira, a Gen-t pode se tornar um projeto estruturante, voltado tanto ao desenvolvimento da pesquisa básica, quanto à busca das necessidades da população brasileira.
Com a parceria com a Regeneron, a ideia é que até o fim do ano sejam analisados 20 mil amostras de material genético, sempre acompanhado de dados clínicos. Segundo Lygia, a partir do momento em que se chegue a 50 mil ou 100 mil participantes, o poder estatístico da plataforma já é enorme.
Nascida com investimentos totais de pouco mais de US$ 6 milhões, a Gen-t se inspirou em alguns exemplos de sucesso para atrair recursos. A DeCode, da Islândia, foi a primeira empresa daquele país a abrir capital na Nasdaq, em 2000. Parte dela foi vendida à Roche, em 2014, por US$ 400 milhões. Há dois anos, a plataforma CorEvitas foi comprada pelo laboratório Termo Fisher por US$ 1 bilhão.
Esta notícia foi publicada no Broadcast+ no dia 04/02/2025, às 10:56.
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