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Desemprego cai, mas renda média do trabalhador é a mais baixa desde 2012

Rendimento médio dos trabalhadores ocupados teve queda de 4,6% em apenas um trimestre

RIO - O mercado de trabalho absorveu mais de 3 milhões de trabalhadores no trimestre encerrado em outubro, entre formais e informais, reduzindo a taxa de desemprego ao patamar de 12,1%. No entanto, a renda média do trabalho desceu ao pior nível da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

O rendimento médio dos trabalhadores ocupados teve queda de 4,6% em apenas um trimestre, R$ 117 a menos em relação ao recebido no trimestre encerrado em julho. Em relação ao trimestre encerrado em outubro do ano passado, a renda média encolheu 11,1%, R$ 307 a menos, para o piso histórico de R$ 2.449 mensais. Ou seja, há mais pessoas trabalhando, mas o salário está cada vez mais baixo, seja pela forte concorrência pelas vagas que surgem, seja pela inflação elevada que corrói o poder aquisitivo dos brasileiros que possuem algum tipo de remuneração.  

Pessoas em busca de emprego; IBGE divulgou nesta terça o último relatório deste ano daPesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) Foto: Nilton Fukuda/Estadão

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“As pessoas trabalham mais, há mais trabalho na economia, mas com rendimento em processo de queda”, justificou Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE. “A gente tem uma expansão significativa da ocupação que não é acompanhada por crescimento do rendimento”, completou. 

O recuo de 13,7% para 12,1% na taxa de desemprego do trimestre móvel até outubro reflete uma população ocupada (94,0 milhões) que está próxima do pré-pandemia (94,7 milhões), e deve ultrapassar esse nível na próxima leitura, afirma.  

Para o economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, a redução do desemprego é puxada por vagas mais precárias e, consequentemente, rendas menores. 

“O problema é que essa retomada da ocupação não é acompanhada de uma volta da renda”, ponderou Imaizumi. “Ficamos em situação complicada porque vemos essa estagnação da renda. Não temos mais auxílio emergencial, e o Auxílio Brasil não é amplo”, analisa Imaizumi. 

O economista da LCA Consultores lembra que a inflação “incomoda o bolso do brasileiro”. 

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“Por mais que vejamos pessoas ocupadas daqui para frente, há inúmeros indícios de que são ocupações de pior qualidade”, disse Imaizumi. “O retorno da taxa de desemprego a um dígito não vai acontecer tão cedo. O ritmo do aumento da ocupação talvez diminua, e vamos continuar falando dessa estagnação da renda. Precisamos de uma economia que desempenhe bem para observar uma recuperação mais contundente, e sabemos dos riscos para 2022”, completou, que espera uma taxa de desemprego de 11,3% no último trimestre deste ano. 

A população ocupada somou 93,958 milhões de pessoas no trimestre encerrado em outubro, 3,292 milhões trabalhadores a mais em apenas um trimestre. Em relação a um ano antes, 8,674 milhões de pessoas encontraram uma ocupação. 

Adriana lembra que, na passagem do trimestre encerrado em julho para o trimestre terminado em outubro, 40% da expansão da ocupação foi gerada pela criação de vagas com carteira de trabalho assinada no setor privado, que geralmente pagam salários mais elevados que na informalidade. No entanto, a renda média do emprego com carteira assinada também encolheu no período, queda de 3,6%, R$ 88 a menos, para uma média de R$ 2.345 mensais. Em relação ao trimestre terminado em outubro de 2020, a renda média do trabalho com carteira caiu 8,0%, R$ 205 a menos. 

“Embora o trabalho com carteira esteja aumentando, esse emprego com carteira de trabalho assinada também está com rendimento monetário menor, seja no trimestre, seja no ano. Então é um trabalho com carteira, com menores rendimentos, seja no trimestre, seja no ano”, apontou. 

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O total de pessoas trabalhando com carteira assinada no setor privado subiu a 33,876 milhões no trimestre terminado em outubro. Embora tenha havido recuperação em relação ao piso de 30,679 milhões registrado no trimestre encerrado em julho de 2020, essa população ainda está 3,718 milhões aquém do pico alcançado no trimestre até julho de 2014, quando somava 37,594 milhões de pessoas. 

Segundo Adriana Beringuy, o mercado de trabalho como um todo mostra continuidade do processo de recuperação, que já vinha ocorrendo especialmente a partir de julho, impulsionado pelo avanço da vacinação da população contra a covid-19 e pela maior movimentação da economia, com reabertura de estabelecimentos que foram fechados pela crise sanitária e a volta às ruas de trabalhadores informais. 

“A gente começa a perceber uma espécie de generalização do processo de recuperação dos contingentes populacionais de ocupados (formais e informais). A gente sabe que o trabalho informal tem menos prerrogativas, menos salvaguardas pra se manter fora do mercado, então essas pessoas, embora tenham sido as mais afetadas logo no impacto de 2020, elas foram aquelas que foram retornando mais rapidamente. Enquanto que o emprego com carteira não foi tão atingido inicialmente, mas teve o impacto negativo, e só agora vem recuperando”, afirmou Adriana Beringuy. 

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O País alcançou uma taxa de informalidade de 40,7% no mercado de trabalho no trimestre até outubro, com 38,211 milhões de trabalhadores atuando informalmente. Em um trimestre, 1,782 milhão de pessoas a mais atuaram como trabalhadores informais. "54% da expansão da ocupação (no trimestre até outubro) veio da informalidade. Obviamente, em divulgações anteriores, a gente já teve porcentuais da importância da informalidade na expansão da ocupação muito maiores. Já tivemos trimestre em que a informalidade respondia por 70% do crescimento da ocupação. Ainda assim, a informalidade ainda responde por mais da metade da recuperação da ocupação", observou Adriana Beringuy.

Adriana observou ainda que a taxa de informalidade já superou o patamar pré-pandemia: no trimestre até janeiro de 2020, essa taxa era de 40,3%. Um dos reflexos da elevada informalidade no mercado de trabalho é a baixa contribuição para a previdência social. A proporção de trabalhadores ocupados contribuindo para a previdência social ficou em 62,8% no trimestre até outubro, ante 63,4% no trimestre encerrado em julho.

O País ainda tinha 12,906 milhões de pessoas desempregadas no trimestre encerrado em outubro. Se considerada toda a mão de obra subutilizada, faltou trabalho para 29,906 milhões de brasileiros. 

Embora haja recuperação da ocupação tanto na informalidade quanto em ocupações formais, a retomada do mercado de trabalho ainda é mais quantitativa do que qualitativa. 

“O que a gente tem nesse momento é uma recomposição da população ocupada, mas, do ponto de vista do rendimento, da massa de rendimento gerada por essa expansão, a gente ainda não observa efeitos positivos”, disse Adriana Beringuy. “Há muitas pessoas oferecendo trabalho ou encontrando trabalho, só que com rendimentos menores”, acrescentou. 

O economista-chefe do Banco Original, Marco Caruso, espera que o desemprego continue em trajetória cadente e feche 2022 próximo a 10,5%. Ele prevê que a tendência de criação de empregos dentro de uma faixa de renda mais baixa, já apurada em 2021, continue no próximo ano. 

"O lado positivo da história é que começaremos a ter uma descompressão da inflação de forma que a renda real pode ter alguma melhora", avaliou Caruso. 

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A massa de salários em circulação na economia encolheu R$ 4,357 bilhões no período de um ano, para R$ 225,047 bilhões, uma queda de 1,9% no trimestre encerrado em outubro em relação ao mesmo período de 2020. Na comparação com o trimestre terminado em julho, a massa de renda real caiu 1,1%, com R$ 2,393 bilhões a menos. 

“Tem tanto o efeito provocado pela dinâmica do mercado de trabalho, o processo de oferta e demanda por trabalhadores. Pode ter mais oferta de trabalhadores do que demanda, portanto, ele acaba recebendo menos. E também tem o processo inflacionário”, explicou Adriana. “A perda do poder aquisitivo do rendimento está associado à inflação”, concluiu. / COLABORARAM GUILHERME BIANCHINI E MARIANNA GUALTER