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Dirigente do BC diz que instituição é ‘de Estado’ e não ‘de governo’ e nega ‘leniência’ com inflação

Sem citar Lula, Bruno Serra, que é diretor de Política Monetária do banco, defende autonomia e lembra que órgão manteve Selic a 2% por três anos; petista tem questionado atuação de Campos Neto na autarquia

Foto do author Eduardo Laguna
Foto do author Francisco Carlos de Assis
Por Gabriel Vasconcelos (Broadcast), Eduardo Laguna (Broadcast) e Francisco Carlos de Assis (Broadcast)

RIO - Sem citar nomes, o diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Bruno Serra, respondeu nesta quarta-feira, 8, às críticas que a autarquia e sua política monetária vem recebendo, especialmente nesta semana, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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O dirigente eximiu a autoridade monetária da responsabilidade pela piora das expectativas de inflação nos próximos anos e disse que o afastamento das previsões de longo prazo do centro da meta não aconteceu por “leniência“ do órgão.

“A gente entende que não deve ser leniência do BC, não pode ser. Um Banco Central que não tenha credibilidade para entregar a meta, seja lá qual for, é ruim para a sociedade, é ruim para o governo. É importante que a meta da inflação seja crível”, assinalou, ao participar de um evento no município de Macaé, no interior do Rio de Janeiro.

Segundo ele, há alguns meses, os agentes “entendiam que a meta era crível, entendiam que, em 2025 ou 2026, o Banco Central seria capaz de entregar [a meta de inflação]”.

De acordo com o diretor, a taxa básica de juros no Brasil é maior que nos países desenvolvidos porque a inflação aqui também é maior que nas economias centrais.

“A inflação brasileira é historicamente acima da dos países desenvolvidos. Os juros também são maiores porque a inflação é mais alta que a de países desenvolvidos”, disse Serra.

Nos últimos dias, o presidente Lula (PT) tem feito reiteradas críticas à independência do BC, à meta de inflação e à taxa básica de juros, em 13,75% ao ano, que considera alta demais. Esse valor, para Lula, dificultaria o crescimento econômico.

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O presidente do BC, Roberto Campos Neto, é visto como o principal alvo dos ataques. O Banco Central avalia que o aperto monetário é necessário para debelar a alta de preços.

Serra lembrou que não é o BC, mas o Conselho Monetário Nacional (CMN), de estabelece a meta de inflação. Afirmou ainda que a autoridade monetária atua para atingir a meta estabelecida. “Este foi o mesmo BC, com o mesmo grupo de diretores, que colocou a Selic em 2%”, lembrou o diretor.

Ele também enfatizou que o banco passou três anos entregando a inflação praticamente no centro da meta. “O BC é uma instituição de Estado, não de governo”, disse.

Lula tem atacado a taxa básica de juros do BC, que considera excessiva Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Autonomia é padrão mundial, diz Serra

Em resposta às criticas à autonomia do BC, Serra disse que se trata de um padrão mundial e que beneficia a sociedade. Segundo ele, poucos países não têm seus bancos centrais autônomos. Citou Argentina e Venezuela como exemplos desse último caso.

“É importante segregar o ciclo político do ciclo da economia”, declarou. “A economia não obedece ao ciclo político. O Banco Central tem de tomar decisões com base nos ciclos econômicos.”

O câmbio oscilou em 2002 e 2018, quando ainda não havia autonomia do BC, lembrou.

“O ano de 2022 foi mais tranquilo, em boa medida, porque o BC passou a ser autônomo, com mandatos fixos, um problema a menos para o governante se preocupar”, afirmou.

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Serra afirmou que o Brasil vive um ciclo de aperto monetário. “Vai ter um ciclo de flexibilização à frente”, prometeu. “Está tudo dentro do esperado, do ‘by the book’”.

Segundo Serra, no momento atual, investidores estrangeiros veem oportunidades no Brasil.

“Está vindo muito dinheiro para países emergentes”, disse. Ele opinou que há um movimento de desvalorização do dólar, o que é favorável ao País. ”Sou otimista com o câmbio. O real está performando (se comportando) melhor na margem.”

Campos Neto tem sido alvo das críticas de Lula ao BC Foto: Adriano Machado/Reuters

Para Serra, o ponto mais “desafiador” no momento é ancorar a expectativa de inflação com a perseguição de uma meta crível.

Ele disse também que vai cumprir seu mandato, que se encerra no fim de fevereiro. E declarou que pode ficar no cargo até a indicação de um substituto.

“Fico até o fim do meu mandato, no fim do mês. Se já tiver nome indicado, saio, naturalmente. Se não tiver, posso ficar um pouquinho mais, mas depende do presidente do Banco Central”, disse.

Serra falou com jornalistas antes da palestra “Futuro e Cenários Econômicos”, da iniciativa Repensar Macaé, em hotel da cidade do Norte do Estado do Rio de Janeiro.

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