PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|Reunião do Copom levanta suspense como há muito tempo não havia

BC desautorizou sinalização anterior e deixou mercado no escuro sobre definição da nova Selic

Foto do author Fábio Alves

Faz muito tempo que o mercado não chegava ao dia da reunião do Copom tão no escuro sobre a magnitude do corte da taxa Selic: se 0,50 ponto porcentual ou 0,25 ponto. Qualquer um desses desfechos não seria um choque para o mercado, dependendo de como o Banco Central irá sinalizar os próximos passos da política monetária.

PUBLICIDADE

Eis o motivo de tanto suspense: quando reduziu os juros em março, para 10,75%, o Copom avisou que provavelmente manteria o ritmo de corte em 0,50 ponto na decisão de hoje, mas desde então o presidente do BC, Roberto Campos Neto, invalidou essa sinalização e disse que, diante do aumento das incertezas doméstica e externa, se abriu um leque de quatro cenários possíveis.

Do lado doméstico, o governo abalou a credibilidade do arcabouço fiscal ao mudar a meta de 2025 para um resultado primário zero. Do lado externo, o mercado reprecificou a sua expectativa em relação ao ciclo de cortes dos juros americanos pelo Federal Reserve (Fed) para apenas uma redução em 2024. Os mais pessimistas chegaram até a apostar numa alta de juros. Esses dois fatores contribuíram para o dólar subir até R$ 5,29.

Foi quando Campos Neto desautorizou a sinalização dada desde o início do ciclo de cortes da Selic – de redução de 0,50 ponto para, ao menos, a reunião seguinte – ao dizer que, com as incertezas naquele momento, havia quatro desfechos possíveis neste Copom: manter aquele ritmo de corte; desacelerar a redução para 0,25 ponto; parar de cortar; ou até elevar os juros.

Campos Neto endureceu mensagem sobre cortes de juros com cenário pior Foto: Alex Silva / Estadão

De lá para cá, contudo, alguns fatores deram um alívio ao câmbio, elemento crucial para a decisão do Copom. Primeiro, Campos Neto endureceu o tom da sua mensagem. Depois, a prévia da inflação de abril no Brasil veio abaixo das previsões dos analistas. Além disso, o presidente do Fed, Jerome Powell, após a última reunião de política monetária nos EUA, dissipou o temor de uma possível alta de juros, o pior cenário para mercados emergentes. E, por fim, os últimos dados do mercado de trabalho americano vieram mais fracos do que o estimado.

Publicidade

Assim, na sexta-feira, o dólar caiu para menos de R$ 5,07. Nesse nível, os cenários de parar de cortar ou subir a Selic saem de cena. Afinal, faz enorme diferença para as projeções de inflação em 2025, horizonte com maior peso para o Copom, se o dólar estiver mais perto de R$ 5,00 ou de R$ 5,30. Com uma cotação até R$ 5,10, tanto um corte de 0,50 quanto um de 0,25 ponto podem fazer sentido. Mas como as incertezas seguem elevadas e a volatilidade é ainda grande, talvez o melhor seja o Copom ir mais devagar.

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.