Ao longo da disputa presidencial dos Estados Unidos, muitos analistas se voltaram para buscar entender quais as consequências econômicas trazidas pelas promessas de campanha de Donald Trump. Em breve resumo, as previsões eram de que suas políticas seriam uma combinação de cortes de impostos, desregulamentação, protecionismo e estímulos ao setor energético para impulsionar o crescimento econômico e gerar empregos. Como resultado, deveriam ocorrer ampliação do déficit e aumento da dívida pública e o abandono das questões ambientais e da sustentabilidade a longo prazo.
Com a vitória do republicano, os olhos se voltaram para acompanhar as indicações para o novo secretariado do governo para saber se os riscos da Trumpnomics estariam se confirmando. Como não poderia ser diferente, algumas indicações são para lá de polêmicas e já deram problemas. As nomeações-chave mostram o DNA da economia proposta por Trump. A começar pela indicação de Scott Bessent como secretário do Tesouro, um conhecido investidor, mas defensor de reformas fiscais e desregulamentação, visando estimular empréstimos bancários e a produção de energia. Sem dúvida buscando uma política econômica doméstica expansionista, com possíveis cortes de impostos e incentivo ao setor energético tradicional. Como secretário de Comércio foi indicado Howard Lutnick, CEO da Cantor Fitzgerald, conhecido por sua abordagem agressiva nos negócios, o que deve levar a uma postura comercial agressiva e possivelmente protecionista.
Para secretário de Energia, o nome é Doug Burgum, governador da Dakota do Norte, Estado rico em recursos energéticos, indicando que deve promover a exploração de combustíveis fósseis. Uma nomeação em particular vejo com preocupação, a de Paul Atkins para a presidência da Security Exchange Commission (SEC) – a CVM americana –, lobista ligado ao mercado de criptomoedas.
Essas nomeações trazem preocupações, primeiro por mostrar conflitos de interesse pela presença de empresários – Elon Musk é um exemplo forte. O caso de Atkins, defensor de uma postura mais branda em relação a Wall Street, indica possível flexibilização das regulamentações financeiras, o que pode aumentar a volatilidade nos mercados e elevar riscos sistêmicos.
As nomeações indicam políticas mais protecionistas, com tarifas mais elevadas sobre importações, guerras fiscais. Sem falar na ameaça ao Brics pela tentativa de substituir o dólar como moeda de trocas comerciais. O Brasil pode ser afetado diretamente nas questões comerciais, no fluxo de investimentos e na volatilidade cambial. As economias emergentes devem ser afetadas fortemente.