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Lula aposta em obras públicas e na volta do ‘capitalismo de Estado’, diz ‘Financial Times’

Reportagem publicada nesta semana afirma que presidente brasileiro está tentando reviver uma estratégia já desacreditada

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Por Redação

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está apostando num retorno ao “capitalismo de Estado” e recorrendo às obras públicas como um dos pilares de seu governo para impulsionar a economia brasileira, segundo reportagem publicada nesta semana pelo jornal Financial Times (FT). O texto analisa as estratégias do governo para a área.

A publicação cita como exemplo de apostas do presidente a retomada da expansão da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, que foi um símbolo de “desperdício, corrupção e incompetência” durante os governos do PT. Em 2014, a construção foi interrompida com apenas metade da instalação planejada.

Financial Times faz reportagem sobre política econômica do governo Lula e o "regresso ao capitalismo de Estado" Foto: Ricardo Stuckert / PRESIDENCIA DA REPUBLICA

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Segundo o jornal, desde que Lula voltou ao poder, ele tem tentado fortalecer o papel do Estado para elevar o padrão de vida da população, aumentando investimento em assistência social, flexibilizando restrições de gastos públicos e prometendo melhorias na infraestrutura. Críticos ouvidos pelo jornal afirmam, entretanto, que a abordagem ameaça “reviver um modelo desacreditado de desenvolvimento estatista que deu errado no passado”, escreve o FT.

Defensores do modelo afirmam, por outro lado, que o País está bem posicionado para cumprir seu potencial e ressaltam o desempenho positivo no primeiro ano de governo, como redução do desemprego, da inflação e o crescimento econômico.

Mas investidores e economistas ainda parecem céticos, segundo o jornal, em relação ao controle das contas públicas, o que torna difícil a redução da taxa básica de juros, a Selic, em 11,75% atualmente.

O desafio do País está na escolha entre seguir um caminho macroeconômico mais moderado ou intensificar os gastos para tentar impulsionar o crescimento, afirma a publicação.

O economista-chefe para o Brasil no Barclays, Roberto Secemski, afirma à publicação que a renda per capita ainda não retornou aos níveis de 2013, e que o “País precisa de uma maior produtividade e investimentos de capital, o que seria mais viável com taxas de juros mais baixas. O problema reside na postura fiscal frouxa do Brasil.”

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Já Abinadade Santos, secretário-geral do sindicato dos metalúrgicos, no Recife, acredita que o presidente tem capacidade para gerir a situação, mas que é preciso corrigir os erros do passado.

Petrobras

A reportagem destaca como as indústrias naval e petroleira foram parte da política industrial de Lula, “o último boom e colapso do País”, e menciona o esquema de propina para contratos da Petrobras que levou à prisão diversos políticos e empresários.

“Houve um coro de denúncias e um desmantelamento completo do que havia sido considerado um futuro muito promissor para a região”, diz Ecio Costa, professor de economia da Universidade Federal de Pernambuco, ao Financial Times.

A Petrobras tem planos de fazer novos pedidos a estaleiros nacionais à medida que busca a expansão da produção offshore para colocar o Brasil entre os principais produtores de petróleo. “Mas, para ter sucesso, a indústria terá que superar fatores que anteriormente a deixaram lutando para ser competitiva e cumprir prazos”, escreve o jornal.

Reforma tributária

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A aprovação da reforma tributária foi destacada pela reportagem pela sua boa recepção no mercado, com a S&P elevando a classificação soberana do Brasil em um nível, embora ainda abaixo do grau de investimento.

Mesmo assim, o jornal salienta que o desafio ainda é grande, com a produtividade crescendo pouco no País. Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, afirma à publicação que o Brasil provavelmente se beneficiará no curto prazo com o afrouxamento monetário internacional.

“Mas a capacidade limitada do País de criar impulso interno para a atividade deve manter o crescimento do PIB em taxas modestas”, acrescenta. A economia expandiu a uma taxa anual de apenas 0,5% em média na última década.

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Programa de Aceleração do Crescimento

Outra “fórmula antiga” do governo Lula é o novo programa de obras públicas do governo, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), aponta o Financial Times. No PAC 1, apenas 25% dos projetos foram entregues, enquanto no PAC 2 a cifra foi de 36%.

O jornal coloca que funcionários da administração federal dizem que, desta vez, será diferente, com prioridade para a conclusão de projetos inacabados e maior participação do setor privado por meio de concessões e parcerias.

Questão climática

O jornal ainda ressalta outro foco do governo: a promoção de empreendimentos que combatam o aquecimento global. Entre eles está a repressão a desmatadores, o incentivo para a economia verde e o potencial para energias renováveis, em especial o hidrogênio verde.

A reportagem cita o caso da fabricante chinesa de automóveis BYD, que começará a produzir carros elétricos no Nordeste, como parte de um investimento de R$ 3 bilhões. Para ajudar a produção nacional, o governo está impondo tarifas sobre carros elétricos importados. Porém, alguns economistas estão cautelosos em relação ao protecionismo.

“Subsídios e incentivos a setores tendem a durar mais do que se imagina, com um impacto menor do que o esperado”, diz Gustavo Arruda, economista do BNP Paribas, em entrevista à reportagem.

Endividamento

A dívida pública, atualmente em 74% do PIB, é relativamente alta para uma economia emergente, diz o jornal. Isso pode ter efeitos em cascata na inflação e na confiança do investidor, segundo alguns especialistas ouvidos pelo jornal.

“Embora não estejamos esperando (que a situação fiscal) desencadeie uma crise, o aumento do endividamento continuará expondo as fragilidades do Brasil”, diz Arruda. “A necessidade de ajuste fiscal no futuro pode conter os investimentos do setor privado.”

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Para Paulo Bilyk, CEO da gestora de ativos Rio Bravo Investimentos, também entrevistado pelo FT, a questão mais crítica para o investidor é a estabilidade fiscal. “Todos terão que ficar de olho nos pecados do passado que estão tentando ser repetidos.”, destaca.

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