O Grupo Supernosso não é apenas mineiro, mas belo-horizontino. Das 55 lojas, das quais 35 de supermercados e 20 de atacarejo, com a bandeira Apoio Mineiro, apenas uma está fora da Região Metropolitana de Belo Horizonte e fica em Curvelo, a 170 quilômetros da capital. “Somos o regional do regional”, resume Vinícius Aroeira, diretor de Finanças, Processos e Tecnologia do Grupo Supernosso.
O varejo brasileiro, como um todo, é regional. Quase a metade (46%) das 300 maiores empresas em faturamento do País — ou 139 companhias —, operam em apenas um Estado. Numa série de reportagens, o Estadão irá apresentar as empresas que vêm se destacando em suas regiões. São redes varejistas muito fortes localmente e que têm como um dos seus grandes ativos conhecer as preferências do consumidor. Muitas vendem até mais de R$ 1 bilhão por ano.
No caso do Supernosso, o faturamento foi de R$ 3,6 bilhões no ano passado e a perspectiva é de passar de R$ 4 bilhões este ano. A companhia com atuação apenas regional figura como a 25ª maior rede em faturamento do setor de supermercados do País, segundo o ranking da Associação Brasileira de Supermercados (Abras). De todo o varejo, que inclui outros setores, ocupa a 62ª posição na lista da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC).
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A regionalidade foi uma escolha estratégica. Segundo Aroeira, desta forma, a companhia familiar, comandada por Euler Nejm, filho do libanês Faud Elias Nejm que abriu um armazém de secos e molhados 82 anos atrás, conseguiu ganhar sinergia na logística e no marketing, por exemplo, contando com apenas um grande centro de distribuição (CD) para atender a todas as lojas.
“Ao contrário de outros grupos que têm uma marca única e saem expandindo, somos um grupo multiformato: temos atacarejo, supermercados, loja de conveniência, lojas autônomas dentro de condomínios (203 lojas com a bandeira Be Honest)”, explica. Origem do grupo foi o atacado, em 1998 estreou no varejo de supermercados e em 2002 ingressou no atacarejo, segmento no qual é líder na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
As preferências dos clientes de BH
Além disso, por conhecer bem os hábitos de consumo arraigados dos mineiros, a empresa viu no regionalismo uma oportunidade para turbinar o seu negócio. Um exemplo é café, cuja preferência pela marca muda até dentro da Região Metropolitana de Belo Horizonte. “A marca preferida nas lojas do Apoio Mineiro em Belo Horizonte é diferente da loja de Sete Lagoas”, exemplifica Aroeira.
A companhia cresceu explorando essa vertente do mercado local, que, na maioria das vezes, é mais difícil para grandes redes nacionais e acaba se tornando uma barreira. “Carrefour e GPA nunca conseguiram se instalar com força aqui por causa dos hábitos regionais”, observa.
Na avaliação do executivo, Minas é o “case do case” do regionalismo. Neste caso, não só o comerciante prioriza as marcas locais nas lojas, mas o consumidor também tem mais confiança ao comprá-las, em detrimento das marcas nacionais.
Para atender a preferência dos clientes, a empresa tem uma equipe de consultores antenada com as demandas do consumidor. O pulo do gato é sempre estar atualizado com o mix de produtos regionais nas prateleiras.
Expansão para fora do Estado
A estratégia regional foi seguida pela empresa até aqui. Daqui para frente, a companhia traçou dois caminhos. Para o atacarejo, cujas lojas são grandes e têm mais autonomia em relação ao CD, a perspectiva é que esse formato ganhe espaço fora da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Depois da loja de Curvelo (MG), estão previstas até o final do ano mais duas e para o ano que vem mais cinco lojas de atacarejo dentro e fora da região metropolitana, mas em Minas Gerais.
No caso do supermercado Supernosso, que é mais dependente do CD por conta do grande volume de itens importados, o plano, nos próximos dois a três anos, é continuar abrindo pontos de venda na região metropolitana. “Será uma expansão por oportunidade”, diz Aroeira.
Até o fim deste ano será aberta uma loja em um shopping, antes ocupada pelo Carrefour. Para o 2024 estão programadas cinco lojas na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
No entanto, nos próximos quatro a cinco anos, a companhia não descarta a possibilidade de estrear com a sua bandeira de supermercados fora do Estado ou mesmo dentro de Minas, em regiões como o Triângulo Mineiro, por exemplo. “Vamos criar um outro case de Supernosso fora de BH com um novo CD, numa região que tenha poder aquisitivo e comporte esse tipo de loja”, prevê o diretor.