Dos alagamentos às ondas de calor excessivo, os transtornos causados pelas mudanças climáticas têm afetado não só a qualidade de vida dos moradores nos Estados brasileiros, mas também a estabilidade do comércio. No caso de São Paulo, por exemplo, 64,5% das empresas foram impactadas por eventos climáticos no ano de 2024. Por causa disso, 44,5% delas tiveram prejuízos financeiros.
Os dados fazem parte de um levantamento da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), divulgado nesta semana. As informações foram coletadas entre 27 de fevereiro e 21 de março deste ano.
Entre os impactos relatados pelos entrevistados estão perdas de estoque em virtudes de alagamentos e da falta de energia elétrica, redução no movimento de clientes, além do aumento de preço de mercadorias, explica a assessora técnica do conselho de sustentabilidade da Fecomércio-SP, Cristiane Cortez.

O levantamento não aponta o volume dos prejuízos financeiros apontados pelos empresários, mas dados da entidade divulgados em outubro de 2024, mostram que, devido aos dias afetados por falta de energia elétrica durante as enchentes ocorridas no período, o setor teve perdas por falta de faturamento somadas em R$ 2 bilhões somente na região metropolitana de São Paulo.
“Vamos passar por impactos climáticos de forma cada vez mais intensa, até que os gases na atmosfera reduzam. Por isso será muito importante achar adaptação para se tornar resilientes e não perder faturamento, como outras fontes de geração de energia, por exemplo”, comenta Cortez.
Baixo engajamento
Apesar dos impactos relatados pelos empresários, o engajamento para reduzir as mudanças climáticas ainda parece ser um desafio. Quase 60% dos líderes ouvidos afirmam que suas empresas não adotam atualmente nenhuma medida para redução de emissões de gases poluentes. Além disso, 43% deles não estão dispostos a investir futuramente na redução dessas emissões.
A falta de recursos financeiros para investir em práticas mais sólidas de sustentabilidade e a ausência de conhecimento técnico suficiente na área são apontadas pelos entrevistados como justificativas.
Na leitura de Cortez, as respostas refletem mais um cenário de pouca compreensão sobre as ações de redução do que uma ausência dessas ações. Segundo ela, muitas dessas empresas já adotam práticas sustentáveis, no entanto, seus líderes não associam tais iniciativas a um movimento global em prol da economia verde.
“Trocar lâmpadas ou adquirir refrigeração mais eficiente é um investimento”, explica a especialista. “Em muitos casos, o empresário faz essa ação, mas não vê a relação dela com a redução de gases de efeito estufa. Falta, principalmente para o pequeno ou médio negócio, esse conhecimento técnico. Além disso, o pequeno negócio, por emitir pouco, não se vê como parte da solução.”

Segundo o mapeamento, entre as empresas que adotam alguma estratégia favorável ao meio ambiente, o destaque das práticas está no uso de etanol como combustível e na destinação de resíduos orgânicos para compostagem. Para Cortez, o setor tem potencial para avançar mais.
“As boas práticas de eficiência energética são um ótimo caminho no qual essas empresas podem atuar. E, na economia circular, essas lojas podem ser pontos para logística reversa, para aumentar a arrecadação dos produtos pós-consumo, diminuindo a necessidade de extração de novas matérias-primas.”
Agenda verde
Como parte das ações de inserção do comércio estadual nas discussões ambientais, a Fecomércio-SP lançou nesta quinta-feira, 10, a “Agenda Verde”, um documento que reúne 12 objetivos definidos pela entidade como sugestão para serem considerados pelo poder público em suas iniciativas sustentáveis, incluindo demandas que também envolvam a atuação da classe empresarial.
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Entre as prioridades listadas estão: acelerar políticas para transição energética, regular o mercado de carbono, zerar o desmatamento ilegal e adotar padrões mais eficientes de consumo de água e eletricidade. O movimento pretende aproveitar a amplitude do comércio para promover a conscientização coletiva. “A indústria é a que mais impacta (o meio ambiente), porém é o comércio quem está mais próximo do consumidor”, ressalta Cortez.