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Indústria tem pouca folga para ampliar produção

Por Agencia Estado
Atualização:

A folga existente hoje na indústria para responder com volume maior de produção a um aumento na demanda é pequena e pode se exaurir rapidamente, resultando em mais pressões inflacionárias, se houver um aquecimento no ritmo de atividade. A grande questão entre os economistas, atualmente, é saber o que estaria sustentando a inflação em patamares tão elevados este ano. Além das explicações triviais, como reajustes de preços administrados e reflexos da desvalorização cambial, analistas consideram que o gargalo pode estar no lado da oferta. Puxada pelas exportações, a economia estaria funcionando numa faixa na qual não conseguiria despejar mais produtos no mercado. Daí resultariam pressões sobre preços. Números mostram que, no mês passado, a indústria de transformação utilizava, em média, 80,8% da capacidade de produção, resultado 1,3 ponto porcentual acima do mesmo período de 2002 e 0,7 ponto porcentual maior do que o registrado na pesquisa anterior, em outubro do ano passado, segundo a Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação da Fundação Getúlio Vargas (FGV). "A margem de ociosidade na indústria não é grande. Se o uso da capacidade atingir, na média, 83% a 84%, haverá motivos de preocupação", diz o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros. Limite - De acordo com a sondagem, já há setores, especialmente os ligados à exportação, trabalhando com níveis elevados de produção e que registraram elevações significativas de preços nos últimos meses. O caso do setor siderúrgico é notório, diz Quadros. Como as exportações estão aquecidas, as fábricas trabalham praticamente no limite da capacidade de produção e o preço aumentou muito, observa o economista. No mês passado, os fabricantes de aço utilizavam, em média, 91,2% da capacidade instalada, mostra a sondagem. Levando-se em conta a variação anualizada dos preços no atacado do aço no último trimestre de 2002, as cotações do produto subiram no mercado doméstico 114,49%. A história se repete com o papel e o papelão. Em janeiro, a indústria usava 92,6% da capacidade de produção, segundo a sondagem da FGV. Os preços desses produtos, por sua vez, subiram 104,72%, levando-se em conta também a variação das cotações registradas no atacado no último trimestre de 2002 e projetada para 12 meses. Quadros destaca que esse movimento de pressão na oferta não é generalizado e está circunscrito a alguns setores. Há segmentos, como os de material elétrico e bebidas, por exemplo, que estão com ritmo de atividade mais lento e trabalham com uma certa folga, usando 60,7% e 63,8% da capacidade instalada, respectivamente. Na opinião do economista, o que hoje sustenta a inflação em níveis elevados é a pressão de custo advinda do câmbio, especialmente do final do ano passado, que ainda não foi repassada para os preços. Na análise de outros economistas, no entanto, a permanência dos índices de inflação em patamares elevados reflete um problema estrutural de capacidade de produção da economia de atender a demanda de produtos para exportação e de itens destinados a substituir importações. Uma análise realizada por um economista do setor financeiro, baseada na produção industrial dessazonalizada medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que a produção industrial como um todo da economia brasileira estaria hoje acima do seu potencial. Isso explicaria, portanto, boa parte do movimento de alta dos preços e a manutenção dos índices de inflação em patamares elevados. Potencial - Não é primeira vez que esse movimento ocorre. Em meados de 1997, a produção industrial efetiva também superou a potencial, mostra o estudo. Mas, na época, a inflação não se refletiu nos índices porque o câmbio estava fixo e as importações cresceram para dar conta da demanda, funcionando como válvula de escape. Com isso, o déficit na balança comercial aumentou. Outro fator, apontado no estudo, que ajudou a segurar a explosão dos preços foi o fato de que, naquela época, as empresas tinham mais gordura para queimar - elas absorveram boa parte das pressões de custos reduzindo suas margens. Hoje, no entanto, a situação é preocupante do ponto de vista da inflação, ressalta o estudo. As empresas estão no limite de compressão de suas margens para absorver custos extras. Além disso, com o câmbio livre e o real depreciado, o caminho das importações é mais difícil para equilibrar a oferta com a demanda. Restaria, portanto, apenas o canal dos preços para que o ajuste seja realizado.

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