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Investidor recebe com cautela pacote do governo

Por Agencia Estado
Atualização:

O mercado recebeu com cautela as medidas anunciadas nesta quinta-feira pelo governo para conter as fortes turbulências que têm feito os ativos brasileiros despencarem e o dólar disparar nos últimos dias. Depois de uma reação inicial otimista em alguns mercados, as altas foram perdendo fôlego, enquanto investidores e especialistas questionavam a eficácia das medidas para deter a recente onda de venda de ativos brasileiros, tanto no exterior quanto no mercado local. Além do plano de sacar US$ 10 bilhões do Fundo Monetário Internacional (FMI), o governo também anunciou um novo aperto fiscal, aumentando a meta de superávit primário do setor público de 3,5% para 3,75% do Produto Interno Bruto (PIB) já para 2002, e a recompra de US$ 3 bilhões em títulos da dívida externa, principalmente papéis que vencem nos próximos dois anos. O governo também anunciou a redução do limite mínimo de reservas previsto no acordo do FMI em US$ 5 bilhões, para US$ 15 bilhões, o que na prática deixaria o Banco Central com mais dinheiro vivo para intervir no câmbio, se precisar derrubar a cotação do dólar com a venda da moeda americana no mercado, ou recomprar dívidas. No entanto, o governo não indicou, como pediam investidores, que intervirá diretamente no mercado cambial, vendendo dólares. Essa indefinição sobre intervenção no câmbio e o fato de as autoridades terem deixado apenas no terreno das possibilidades uma recompra de títulos da dívida interna dificultaram a queda do dólar, que em certo ponto nesta quinta-feira chegou a 5,55%, para R$ 2,64. No fim do dia, a moeda americana era cotada a R$ 2,708, em queda de 3,11%. No mês, o dólar ainda acumula uma alta grande, de 7,63, e de 16,93% no ano. "O governo atacou em duas frentes e deu uma boa esfriada no mercado externo e no interno", disse o diretor-executivo da área externa do Bradesco, José Guilherme Lembi de Faria, afirmando que o BC ainda pode ter de tomar novas medidas para afastar a volatilidade. Entre as possibilidades consideradas por analistas para novas medidas, estaria um aumento do compulsório sobre depósitos a prazo, que poderia absorver o excesso de títulos públicos das carteiras das instituições financeiras e até mesmo dos juros básicos. "Você pode jogar dinheiro no problema, e isso o governo certamente está fazendo ao sacar o dinheiro do FMI e usá-lo para intervir no mercado de câmbio e recomprar dívida", disse Arturo Porzecanski, economista do ABN-Amro em Nova York. "Agora, o Brasil precisa fazer mais no lado da política monetária. Tem de apertar as condições monetárias." Mesmo com a notícia da recompra, os títulos da dívida externa mais negociados, os C-Bonds, não subiram muito. O C-Bond fechou em alta de 2,1%, cotado a 65,625 centavos de dólar, ainda um nível historicamente muito baixo. Só os títulos da dívida externa que vencem em 2004 e 2006 tiveram altas expressivas, de 7% e 10%, respectivamente. Com isso, o risco-Brasil (a diferença entre os juros de uma cesta de títulos da dívida externa e papéis do Tesouro americano, o país de menor risco) também não caiu muito, perdendo 4,5%, para encerrar o dia em 1.237 pontos. No entanto, o Brasil conseguiu descer da terceira posição no ranking dos países com mais probabilidade de calote, à qual tinha subido nesta quarta-feira, em lugar do Equador. No topo da lista estão Argentina e Nigéria. O mercado que mais apresentou apreensão com as medidas foi o de juros. As projeções de juros futuros fecharam em baixa para os vencimentos deste ano, mas subiram para os vencimentos em 2003. Alguns contratos de juros em dólar também apresentaram alta em relação a quarta-feira. As ações foram os ativos mais descolados do noticiário financeiro, repetindo os piores momentos dos últimos dias. A Bovespa fechou em baixa de 1,4%, influenciada também pela queda das bolsas no mundo inteiro. Alguns especialistas, como o economista Albert Fishlow, da Universidade de Columbia, foram mais confiantes: "A volatilidade do mercado vai desaparecer, como ocorreu no ano passado, quando o câmbio subiu a R$ 2,82 e terminou o ano em R$ 2,35." Fishlow incluiu até o bom desempenho da seleção brasileira na Copa do Mundo como um dado que contribuirá para acalmar o mercado.

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