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Investimentos de cooperativas e empresas dão novo fôlego a pequenas cidades

No interior de São Paulo, fabricante de implementos agrícolas faz primeira expansão produtiva em 15 anos em Pompeia (SP), município de 20 mil habitantes

Foto do author Márcia De Chiara
Por Márcia De Chiara
Atualização:

No município de Bebedouro, no interior do Estado de São Paulo, com quase 80 mil habitantes, há hoje cerca de mil pessoas trabalhando na construção na fábrica de insumos da Cargill. A obra começou no ano passado e a unidade, inicialmente orçada em R$ 550 milhões, entra em operação em meados deste ano. Cerca de metade dessa cifra faz parte do pacote de quase R$ 1 bilhão que a companhia investiu no País em 2020.

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Com mais da metade da produção voltada para exportação, a nova fábrica de pectina poderia ser instalada na Flórida (EUA) ou no México. Mas a multinacional americana escolheu o Brasil por causa da disponibilidade de matéria-prima, além de oferta de mão de obra e condições de infraestrutura, conta Laerte Moraes, diretor de negócios da empresa. 

A pectina, espessante usado pela indústria de alimentos, é extraída da casca da laranja e a cidade de Bebedouro é um polo de citricultura. “Não tenho dúvida de que a cidade toda se reconfigura quando ocorre um investimento desse porte, com novos moradores trazendo novas demandas para o comércio e os serviços locais”, diz o executivo.

Vista aérea do canteiro de obras da fábrica de pectina da Cargill em Bebedouro (SP) Foto: Cargill/Divulgação

A Coamo Agroindustrial, de Campo Mourão (PR), maior cooperativa singular da América Latina com um faturamento de R$ 20 bilhões, por exemplo, distribuiu no ano passado R$ 504 milhões em resultados a 30 mil cooperados. Esse dinheiro irrigou as economias das 71 cidades do interior espalhadas entre Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, onde a cooperativa atua.

Mas o grosso da injeção de recursos da cooperativa nas cidades do interior ocorre por meio de investimentos. Neste ano, a Coamo começa a construção de uma fábrica de ração para bovinos, suínos, frangos e pets em Campo Mourão, onde serão investidos R$ 81 milhões. Essa cifra faz parte de um pacote de R$ 425 milhões previstos para 2021, que serão aplicados também na modernização de duas indústrias de óleo no Paraná e duas novas unidades da cooperativa no Mato Grosso do Sul. 

“Há mais de dez anos estamos investindo cerca de R$ 400 milhões por ano”, conta Airton Galinari, presidente da Coamo, que atribui esse ritmo de investimentos à expansão do agronegócio e à sua rentabilidade. O que se vê nos municípios onde a cooperativa está é que áreas de pastagens degradadas estão virando lavouras. “Isso expandiu demais a produção de grãos e a indústria de processamento tem que acompanhar.”

No ano passado foram aplicados R$ 414 milhões. Metade do dinheiro foi para a construção de um novo terminal no Porto de Paranaguá (PR), em fase de conclusão, para exportação de farelo e grãos. Para os dois próximos anos, estão previstos investimentos na indústria de etanol de milho e na duplicação da capacidade do moinho. Juntos, os projetos devem somar R$ 750 milhões.  

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Vista aérea do novo terminal portuárioda Coamo Agroindustrial em Paranaguá (PR) Foto: Coamo/Divulgação

Longo prazo

Apesar do bom momento do agronegócio, empresas do setor argumentam que esse movimento é cíclico. Isto é, marcado por períodos de bonança e de restrições, intercalados. “Não temos visão oportunista do mercado por conta do boom de commodities e investimos olhando para o longo prazo”, diz Morais, da Cargill. Aliás, o setor tem perspectiva favorável para os próximos anos, diante da demanda mundial crescente por alimentos.

Também com essa visão, a Jacto, fabricante de implementos agrícolas e o maior empregador de Pompeia, município paulista com cerca de 20 mil habitantes, iniciou neste ano a construção de uma nova fábrica. Hoje são 50 pessoas trabalhando no canteiro da obra, mas no pico da construção, deve reunir cerca de 700 trabalhadores.

A nova fábrica terá o dobro de tamanho da atual. Serão 96 mil metros quadrados de área construída e a unidade vai seguir os conceitos da indústria 4.0, como sistema automatizado de pintura, movimentação de materiais por veículos autônomos, por exemplo.

Sem revelar a cifra investida, Fernando Gonçalves Neto, diretor presidente da Jacto, que faturou o ano passado R$ 1,3 bilhão, afirma que esse é o maior investimento da história da companhia, que completou 73 anos neste ano. A última expansão foi há 15 anos. 

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