No município de Bebedouro, no interior do Estado de São Paulo, com quase 80 mil habitantes, há hoje cerca de mil pessoas trabalhando na construção na fábrica de insumos da Cargill. A obra começou no ano passado e a unidade, inicialmente orçada em R$ 550 milhões, entra em operação em meados deste ano. Cerca de metade dessa cifra faz parte do pacote de quase R$ 1 bilhão que a companhia investiu no País em 2020.
Com mais da metade da produção voltada para exportação, a nova fábrica de pectina poderia ser instalada na Flórida (EUA) ou no México. Mas a multinacional americana escolheu o Brasil por causa da disponibilidade de matéria-prima, além de oferta de mão de obra e condições de infraestrutura, conta Laerte Moraes, diretor de negócios da empresa.
A pectina, espessante usado pela indústria de alimentos, é extraída da casca da laranja e a cidade de Bebedouro é um polo de citricultura. “Não tenho dúvida de que a cidade toda se reconfigura quando ocorre um investimento desse porte, com novos moradores trazendo novas demandas para o comércio e os serviços locais”, diz o executivo.
A Coamo Agroindustrial, de Campo Mourão (PR), maior cooperativa singular da América Latina com um faturamento de R$ 20 bilhões, por exemplo, distribuiu no ano passado R$ 504 milhões em resultados a 30 mil cooperados. Esse dinheiro irrigou as economias das 71 cidades do interior espalhadas entre Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, onde a cooperativa atua.
Mas o grosso da injeção de recursos da cooperativa nas cidades do interior ocorre por meio de investimentos. Neste ano, a Coamo começa a construção de uma fábrica de ração para bovinos, suínos, frangos e pets em Campo Mourão, onde serão investidos R$ 81 milhões. Essa cifra faz parte de um pacote de R$ 425 milhões previstos para 2021, que serão aplicados também na modernização de duas indústrias de óleo no Paraná e duas novas unidades da cooperativa no Mato Grosso do Sul.
“Há mais de dez anos estamos investindo cerca de R$ 400 milhões por ano”, conta Airton Galinari, presidente da Coamo, que atribui esse ritmo de investimentos à expansão do agronegócio e à sua rentabilidade. O que se vê nos municípios onde a cooperativa está é que áreas de pastagens degradadas estão virando lavouras. “Isso expandiu demais a produção de grãos e a indústria de processamento tem que acompanhar.”
No ano passado foram aplicados R$ 414 milhões. Metade do dinheiro foi para a construção de um novo terminal no Porto de Paranaguá (PR), em fase de conclusão, para exportação de farelo e grãos. Para os dois próximos anos, estão previstos investimentos na indústria de etanol de milho e na duplicação da capacidade do moinho. Juntos, os projetos devem somar R$ 750 milhões.
Longo prazo
Apesar do bom momento do agronegócio, empresas do setor argumentam que esse movimento é cíclico. Isto é, marcado por períodos de bonança e de restrições, intercalados. “Não temos visão oportunista do mercado por conta do boom de commodities e investimos olhando para o longo prazo”, diz Morais, da Cargill. Aliás, o setor tem perspectiva favorável para os próximos anos, diante da demanda mundial crescente por alimentos.
Também com essa visão, a Jacto, fabricante de implementos agrícolas e o maior empregador de Pompeia, município paulista com cerca de 20 mil habitantes, iniciou neste ano a construção de uma nova fábrica. Hoje são 50 pessoas trabalhando no canteiro da obra, mas no pico da construção, deve reunir cerca de 700 trabalhadores.
A nova fábrica terá o dobro de tamanho da atual. Serão 96 mil metros quadrados de área construída e a unidade vai seguir os conceitos da indústria 4.0, como sistema automatizado de pintura, movimentação de materiais por veículos autônomos, por exemplo.
Sem revelar a cifra investida, Fernando Gonçalves Neto, diretor presidente da Jacto, que faturou o ano passado R$ 1,3 bilhão, afirma que esse é o maior investimento da história da companhia, que completou 73 anos neste ano. A última expansão foi há 15 anos.