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Economista e sócio da MB Associados

Opinião|Competição de dois grandes blocos, descarbonização e IA: o que fazer diante dessas mudanças globais?

Lideranças do setor privado tendem a atribuir nosso fraco desempenho a categorias genéricas

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Embora a discussão macroeconômica de curto prazo domine o ambiente, vivemos um momento no qual três grandes mudanças se consolidam no cenário global, já implicando mudanças que países, empresas e cidadãos têm de reconhecer e tirar suas principais implicações estratégicas, sob pena de serem atropelados.

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Falo aqui, primeiro, da formação de dois grandes blocos competindo entre si. Será mais sábio manter a independência ou entrar no bloco Sul-Sul? Segundo, da aceitação universal de que existe uma tendência ao aquecimento global a exigir ações urgentes de descarbonização. Enfrentaremos esse desafio entrando na Opep ou liderando a COP? Por fim, refiro-me à aceleração de uma nova revolução tecnológica, puxada, especialmente, pela inteligência artificial, já comparada à difusão da eletricidade no sistema produtivo, mas muito, muito mais rápida. O que faremos frente a isso?

É claro que empresas já discutem essas questões. E a imprensa reflete o debate sobre elas. Mas a polarização de opiniões, a fragmentação de nosso sistema político e a formação de governos tipo Arca de Noé impedem que o Executivo seja capaz de desenvolver diretrizes minimamente elaboradas que possam direcionar escolhas e investimentos que produzam desenvolvimento. Neste vácuo, proliferam projetos paroquiais e vistosos “jabutis”.

Descarbonização é uma das mudanças globais que exigirá respostas imediatas de governos e empresas  Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO

Por outro lado, quase todas as lideranças do setor privado atribuem nosso fraco desempenho a categorias genéricas, como custo Brasil, que está fora do poder das empresas. A solução quase sempre passa por uma caravana a Brasília, onde os remédios sugeridos acabam no Tesouro Nacional ou na proposição de leis que impõem soluções sem se perguntar quem vai pagar por elas.

Em tempos de forte crise fiscal, é evidente que esta linha tem claros limites. Enquanto isso, persiste uma baixa taxa de investimentos. Nem mesmo uma indispensável melhora no cenário fiscal e o prosseguimento de reformas resolverão a questão, a menos que tenhamos clareza sobre quais devem ser as visões estratégicas a prevalecer. Como os recursos sempre são limitados, escolhas precisam ser feitas, sob pena de queimar capital sem qualquer resultado concreto. Alguém aí pensou nos US$ 35 bilhões gastos em refinarias que pouco ou nada produzem e em milhares de obras públicas abandonadas?

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Nada esclarece melhor essas questões do que os dilemas não resolvidos na questão energética, seja na área de combustíveis, seja na de energias renováveis. O mesmo vale para as grandes questões industriais.

Voltarei a eles em nosso próximo encontro.

Opinião por José Roberto Mendonça de Barros

Economista e sócio da MB Associados

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