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Economista

Opinião|‘Tradwife’: o fenômeno das mulheres que rejeitam papéis de gênero modernos e viraram fenômeno na web

Tendência pode estar relacionada à queda nas taxas de fecundidade ao redor do mundo

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Foto do author Laura Karpuska
Atualização:

Pães de fermentação natural. Manteigas feitas com leite cru. Acordar às 5h da manhã para preparar a refeição de uma família com oito crianças. Se você usa redes sociais, provavelmente já se deparou com alguma “tradwife” – que em português significa “esposa tradicional”. É como a internet chama as mulheres que rejeitam os papéis de gênero modernos em favor de uma existência tradicional como esposas, mães e donas de casa.

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A diferença em relação ao passado é que essas mulheres são um fenômeno da internet: elas promovem esse estilo de vida online, muitas vezes para milhões de seguidores, monetizando sua exposição. Recentemente, a imprensa repercutiu a entrevista de uma das mais famosas influenciadoras desse grupo, Hannah Neeleman, que afirmou não tomar anestesia em seus partos nos quais seu marido estava presente. Hannah tem oito filhos. Ela foi bailarina formada em Julliard, Nova York, e hoje se apresenta como co-CEO de uma fazenda com seu marido.

É difícil não relacionar esse fenômeno às menores taxas de fecundidade no mundo. Economistas estão preocupados, em maior ou menor grau, com essa questão. Apesar de supostos benefícios da menor fertilidade, como a menor pressão sobre os recursos naturais, existem dois aspectos práticos importantes. Um diz respeito ao fato de que nosso sistema econômico pode não estar preparado para uma população em declínio. Sistemas de previdência e organização social podem ser impactados pela queda abrupta da fertilidade.

Estee Williams, 'tradwife' do TikTok Foto: Reprodução/@esteecwilliams via TikTok

Mas há algo mais a considerar. A pergunta fundamental é se as pessoas estão tendo menos filhos hoje porque realmente desejam ou se, na verdade, a baixa fecundidade se deve aos custos desproporcionais de se ter filhos no mundo atual. Se for esse o caso, a questão não é como preparar o mundo para menos gente, mas como permitir que as pessoas que desejam ter filhos possam realizar esse desejo. Claro, é quase impossível distinguir o efeito do desejo individual sem considerar que esse desejo também é, em grande parte, moldado pelo ambiente em que estamos inseridos.

Ao ver os milhões de seguidores da “ballerina farm”, como Hannah se denomina nas redes sociais, é de se pensar se parte da queda na fecundidade não está mais relacionada com o ambiente criado hoje para pais e filhos do que com um desejo real de não ter mais crianças. O preocupante é que, se for esse o caso, o debate sobre fecundidade pode ser capturado por grupos que mostram que uma família maior é possível, mas confundem essa possibilidade com menos direitos para as mulheres. Não deveríamos precisar estar em uma fazenda isolada, tirando leite cru de vaca e submetidas a regras limitantes, para nos sentirmos livres para ter mais filhos.

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Opinião por Laura Karpuska

Professora do Insper, Ph.D. em Economia pela Universidade de Nova York em Stony Brook

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