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Light: ‘Teremos proposta para negociar com credores num prazo de 10 a 20 dias’, diz presidente

Octavio Lopes afirmou que conversa ‘direta ou indiretamente com esmagadora maioria’ dos credores para tratar de dívidas que somam R$ 11 bilhões

Por Luciana Collet (Broadcast)
Atualização:

O grupo Light espera conseguir apresentar gradativamente a seus credores, num prazo de 10 a 20 dias, uma proposta de negociação para uma solução financeira da companhia, no âmbito do processo de recuperação judicial pedido junto à Justiça do Rio de Janeiro nesta sexta-feira, 12. Segundo o presidente da Light SA, Octavio Lopes, a companhia já está “bem próxima de ter 100% estruturada uma proposta de uma solução para credores”.

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Após dar início a um processo de negociação extrajudicial e perceber que não seria bem-sucedida nessa empreitada, a companhia solicitou há um mês à Justiça a suspensão do pagamento de obrigações financeiras e uma mediação judicial, o que foi concedido liminarmente pelo prazo de 30 dias, mas exigindo que o mérito da ação fosse feito apresentando durante esse período.

O pedido de recuperação judicial no âmbito da holding ajuizado nesta sexta corresponde justamente ao mérito da ação e considerou as dificuldades enfrentadas nos últimos dias.

Nesta sexta, os papéis da empresa chegaram a cair 21,29%, e a B3, que opera a Bolsa de Valores de São Paulo, confirmou a exclusão das ações da Light de seus índices a partir da segunda-feira, 15, após o fechamento do mercado.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast, Lopes disse que durante a mediação judicial, a Light conseguiu identificar diferentes grupos de credores, por interesse, tendo em vista a dispersão de suas dívidas pelo mercado, e obteve o engajamento de alguns grupos para a construção de uma solução.

Por outro lado, admitiu que um grupo de credores seguiu hostil e deu início a uma “estratégia suicida”, que levaria a execuções de dívida, a partir da queda da liminar, que resultariam na disrupção do serviço. “Teria consequências para a população, para a concessão, inadimplência de créditos setoriais, tudo o que a gente não quer fazer e seria obrigado a fazer; neste contexto é que fomos para a opção muito forte”, disse, referindo-se ao pedido de recuperação judicial.

Para presidente da Light, solução do grupo envolve separação entre as duas subsidiárias de geração da empresa Foto: Wilton Junior/AE

Ele evitou dizer qual seria o nível de engajamento dos credores, diante do total de R$ 11 bilhões de dívidas, mas afirmou que “conversa direta ou indiretamente com esmagadora maioria”. Segundo ele, há diálogo com os 10% da dívida correspondentes a instituições financeiras, e com mais da metade dos bondholders, que detém cerca de um terço da dívida total. Mas admitiu dificuldades em diálogo com as pessoas físicas detentoras de títulos de dívida.

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“Não tem como engajar com pessoa física, mas temos trabalho construtivo com os private que têm maior exposição à companhia e temos um grupo de gestoras que está engajado”, disse. Ele minimizou o agravo impetrado por um grupo de gestores, que disse corresponder a menos de 10% da dívida total.

O presidente da Light salientou que o pedido foi feito no nível da holding, tendo em vista que a empresa é codevedora de todas as obrigações de suas subsidiárias e considerou que solução endereça o desejo dos stakeholders, porque cumpria fielmente a demanda das autoridades de proteção da concessão e de garantia do direito dos consumidores e de obrigações intrasetoriais, ao mesmo tempo em que abre ambiente “propício para negociação”.

“Quando juiz deferir nosso pedido, o que esperamos que ocorra semana que vem, não muda nada da operação do dia a dia: os 2 mil pessoas da Light estarão na rua trabalhando, não impacta fornecedor, colaborador, compromisso intrasetorial e pagamento de impostos”, disse. Vale lembrar que a distribuidora está diretamente impedida por lei de pedir recuperação judicial.

Solução

Lopes comentou que a solução do grupo Light envolve uma separação entre as duas subsidiárias de geração (Light Energia) e de distribuição (Light Sesa). Na primeira, ele considerou a solução é mais simples, uma vez que o volume de dívida é compatível com a empresa, que apenas foi contaminada pela situação do grupo porque a holding é devedora em todos os títulos. Portanto, seria necessário apenas um reescalonamento em função do não pagamento de obrigações.

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Já no caso da distribuidora, a solução é mais complexa, porque envolve a redução de dívidas, além do alongamento de prazo, sem contar o processo paralelo de renovação da concessão. “A dívida é muito grande, mesmo pensando no que seria a rentabilidade da companhia se ela tivesse o repasse integral das perdas e da inadimplência - o que na nossa visão seria o correto - não se chega ao nível de rentabilidade que permite sustentar R$ 10 bilhões de endividamento, que é o que a companhia tem”, disse. Para ele, a renovação da concessão não é viável com montante de dívida atual.

Segundo Lopes, seria necessária uma redução do endividamento da distribuidora da ordem de 30% a 50%, dependendo de outras variáveis. “Na distribuidora, vamos apresentar um leque de opções, que têm de levar em conta a heterogeneidade dos credores”, disse. Ele lembrou haver grupos que querem liquidez imediata, enquanto outros não têm pressão de liquidez e possuem flexibilidade para reescalonamento de longo prazo.

A proposta também prevê uma injeção de recurso novo na Light Sesa, mas Lopes não detalhou como seria feito. “Existem inúmeras opções de financiamento, estamos observando várias”, disse.

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Em uma crítica indireta à proposta que Nelson Tanure, que vem ganhando peso como acionista nos últimos dias, teria feito a credores, de aporte de mais de R$ 1 bilhão, Lopes disse que um aporte de R$ 1 bilhão ou até mesmo R$ 2 bilhões não resolveria a situação de curto prazo da Light Sesa, tendo em vista que somente entre 2023 e 2024 a companhia tem necessidade de recursos de entre R$ 5 bilhões e R$ 7 bilhões, entre amortizações de dívida, despesas de juros e devoluções de PIS/Cofins. “A solução, infelizmente, não é R$ 500 milhões, R$ 1 bilhão ou até R$ 2 bilhões, que de uma hora para outra resolve o problema”, disse.

Renovação da concessão

Lopes afirmou que a reestruturação financeira e da estrutura de capital da Light Sesa deveria ocorrer ainda este ano, e anteriormente à renovação da concessão, com parte da solução de longo prazo condicionada a este processo. Embora ele tenha dito acreditar na possibilidade de uma renovação ainda este ano, lembrou que ela pode acontecer até 2026, quando efetivamente encerra o contrato atual, e disse que a ambição da companhia é conseguir o novo contrato no próximo ano.

A despeito de alerta do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, sobre preocupações com a concessão da Light, Lopes disse estar confiante em um desfecho favorável à empresa, tendo em vista não haver histórico de não renovação de concessionária de energia no País. Além disso, salientou que apesar do problema financeiro, a empresa permaneceu em normalidade operacional. “A estrutura de capital da Light Sesa é incompatível com a renovação da concessão, então estamos buscando a adequação, mas em termos de gestão fazemos um bom trabalho”, disse.

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