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Longo período de quarentena branda é pior para PIB do que isolamento rígido, diz IFI

Um mês de redução de 70% da atividade tira 1,39 ponto porcentual do PIB no ano; já com o índice de isolamento atual, um mês de redução de 35% tem impacto negativo de 0,70 ponto porcentual, mas é insuficiente para frear contaminações

Por Idiana Tomazelli
Atualização:

BRASÍLIA - Um longo período sob regras brandas de distanciamento pode causar mais prejuízos à atividade econômica do que um isolamento social severo, mais capaz de frear a circulação do novo coronavírus em espaço mais curto de tempo. É o que mostram simulações feitas pela Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado Federal, que estimou o impacto das medidas de distanciamento sobre o Produto Interno Bruto (PIB).

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O órgão projeta hoje um crescimento de 3% na economia brasileira em 2021, após o tombo de 4,1% observado no ano passado. Nas últimas semanas, porém, o agravamento da pandemia de covid-19, com explosão de número de casos e mortes, e a demora na vacinação têm levado diversos economistas e agentes do mercado financeiro a prever um desempenho mais tímido da atividade.

Cientistas afirmam que apenas uma taxa de isolamento social na casa de 70% pode reduzir o número de casos e conter a grave situação dos hospitais. Na semana passada, porém, esse índice ficou entre 30,3% e 42,8% nos Estados brasileiros, segundo dados do Monitor Estadão/Inloco. Na média do País, a taxa ficou em 34,4%.

Pessoas andam sem respeitar o distanciamento na região da 25 de Março Foto: Tiago Queiroz/ Estadão

As simulações da IFI não consideraram diretamente a taxa de isolamento, mas sim o porcentual de paralisação da atividade produtiva, conforme o número de semanas.

De acordo com os dados, um mês de redução de 70% da atividade tira 1,39 ponto porcentual do PIB no ano. Nesse cenário, o crescimento do País seria de 1,6%.

No cenário mais próximo do índice de isolamento atual, um mês de redução de 35% na atividade tem impacto negativo de 0,70 ponto porcentual no PIB. O problema é que um isolamento de 35% é, segundo os cientistas, insuficiente para frear as contaminações. Com isso, as medidas mais restritivas acabam se prolongando no tempo, impulsionando o prejuízo na economia.

Considerando a mesma redução de 35% na atividade, o impacto no PIB vai crescendo para –1,39 ponto porcentual com dois meses de distanciamento, -2,08 pontos porcentuais em três meses e -2,77 pontos porcentuais em quatro meses. Nesse extremo, o crescimento esperado para este ano seria praticamente todo anulado, podendo até virar uma recessão se forem necessários mais meses de distanciamento.

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“O mais urgente neste momento, e isso já estava claro há bastante tempo, continua a ser a vacinação. Sem uma imunização ampla da população, corremos o risco de perder também o segundo semestre. É preciso ter claro que só haverá normalização da economia e melhora do emprego e da renda, de maneira consistente, quando for possível abrir mão das medidas restritivas. Isso está longe, infelizmente, de ser a realidade do presente”, alerta o diretor-executivo da IFI, Felipe Salto.

O impacto de uma paralisação na atividade é sempre crescente com o passar do tempo, em qualquer faixa de redução. A diferença está na eficácia de um isolamento seguido com mais rigidez. Embora mais drástico, ele pode ser necessário por menos tempo, o que faz com que o saldo final seja menos negativo do que uma quarentena mais flexível, mas também mais duradoura.

O infectologista Julio Croda, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que também é professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) e da Escola de Saúde Pública de Yale, explicou na semana passada ao Estadão que duas semanas de ‘lockdown’, com isolamento acima de 70%, seriam suficientes para frear a transmissão rápida da doença. “Só acima de 60% que tem a taxa de contágio abaixo de 1 com queda lenta e progressiva. Com 50%, não tem aceleração, mas não tem redução. É estabilidade com platô elevado”, disse.

Nos últimos dias, governadores precisaram endurecer ou prorrogar medidas de isolamento diante da baixa adesão ao isolamento e da ausência de sinais de trégua no avanço da doença. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), liberou prefeitos para retomar a “cogestão” da crise, que permite algumas flexibilizações locais, mas por outro lado prorrogou restrições a atividades não essenciais até 4 de abril. No Distrito Federal, o governador Ibaneis Rocha (MDB) estendeu por mais uma semana as medidas restritivas, até 28 de março, diante do colapso na rede hospitalar.

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No ano passado, um artigo de economistas do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, já havia apontado indícios favoráveis a uma quarentena mais rígida. Os especialistas analisaram a estratégia de combate à pandemia da gripe espanhola em 1918 – embora tenha ocorrido há um século, ela tem sido considerada como a única “comparável” ao momento atual.

“Cidades que intervieram mais cedo e de maneira mais agressiva não tiveram performance pior, pelo contrário, elas cresceram mais rápido após o fim da pandemia. Nossos achados indicam que intervenções não farmacêuticas não só reduzem a mortalidade, mas também mitigam as consequências adversas da pandemia sobre a economia”, diz o estudo, que analisou o desempenho de 43 cidades norte-americanas.

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