Não é difícil falar do flagelo que caracteriza a educação do jovem brasileiro. O último ranking do exame do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) mostrou o Brasil em 71.º lugar na prova de matemática em uma lista de 79 países. A pandemia cobrou um alto preço, principalmente nas camadas mais pobres da população. Segundo estudo da organização Todos pela Educação, a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), entre 2019 e 2021 a evasão escolar aumentou 171%. A falta de acesso ao ensino remoto expulsou milhares de estudantes das escolas. Será a marca de toda uma geração.
O governo se vê hoje enredado nas mazelas da reforma da ensino médio. Não se consegue fechar uma proposta para o drama que assola os jovens. Nesse ninho de mafagafos, as mudanças estão suspensas e pouco se sabe sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) do próximo ano. A discussão tardia tem tudo para ser improdutiva. Enquanto isso, 69% dos estudantes saem do ensino médio sem o conhecimento adequado de Português, segundo o Sistema de Avaliação do Ensino Básico (Saeb).
O flagelo é ainda maior quando se recorda que, em outra dimensão, fomos capazes de engendrar um sistema nefasto de educação e treinamento que funciona muito bem. Em dezembro de 2021, a população prisional no Brasil alcançou 835,64 mil, o que representa um crescimento de 259% em relação ao total de presos no ano 2000. Temos o terceiro maior contingente de presos do mundo, atrás apenas da China e dos Estados Unidos. Desse montante, 27% estão detidos sem julgamento, mercê da lentidão da Justiça brasileira, o que ajuda a explicar que o total de presos está 79% acima da capacidade dos presídios. Mais de 46% dos presos têm entre 18 e 29 anos e 92% não concluíram o ensino médio.
No convívio diuturno com líderes experientes de organizações criminosas, esses jovens têm acesso, às expensas do Estado, a um completo programa de treinamento em atividades ilícitas. Os professores do crime sequer têm a necessidade de se preocupar com o recrutamento de “trainees”. A polícia faz esse trabalho para eles, no estrito cumprimento de uma legislação anacrônica. A evasão é muito baixa. A eficácia desse tipo de treinamento intensivo supera a de qualquer curso de educação formal. Quem entra por furto sai qualificado para assaltar bancos, quem foi preso por vender um cigarro de maconha fica apto a participar de sequestros. Esse é o maior e mais eficaz programa de treinamento de jovens que fomos capazes de organizar. É urgente reverter esse quadro se quisermos construir uma sociedade próspera e justa. As consequências podem se atrasar, mas não faltarão ao nosso encontro
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