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Economista e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, Luís Eduardo Assis escreve quinzenalmente

Opinião|Tudo ao contrário: Brasil criou sistema nefasto de educação e tem 3º maior contingente de presos

Último ranking do exame do Pisa mostrou o Brasil em 71.º lugar na prova de matemática em uma lista de 79 países

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Não é difícil falar do flagelo que caracteriza a educação do jovem brasileiro. O último ranking do exame do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) mostrou o Brasil em 71.º lugar na prova de matemática em uma lista de 79 países. A pandemia cobrou um alto preço, principalmente nas camadas mais pobres da população. Segundo estudo da organização Todos pela Educação, a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), entre 2019 e 2021 a evasão escolar aumentou 171%. A falta de acesso ao ensino remoto expulsou milhares de estudantes das escolas. Será a marca de toda uma geração.

O governo se vê hoje enredado nas mazelas da reforma da ensino médio. Não se consegue fechar uma proposta para o drama que assola os jovens. Nesse ninho de mafagafos, as mudanças estão suspensas e pouco se sabe sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) do próximo ano. A discussão tardia tem tudo para ser improdutiva. Enquanto isso, 69% dos estudantes saem do ensino médio sem o conhecimento adequado de Português, segundo o Sistema de Avaliação do Ensino Básico (Saeb).

69% dos estudantes saem do ensino médio sem o conhecimento adequado de Português.  Foto: FELIPE RAU/ESTADAO

O flagelo é ainda maior quando se recorda que, em outra dimensão, fomos capazes de engendrar um sistema nefasto de educação e treinamento que funciona muito bem. Em dezembro de 2021, a população prisional no Brasil alcançou 835,64 mil, o que representa um crescimento de 259% em relação ao total de presos no ano 2000. Temos o terceiro maior contingente de presos do mundo, atrás apenas da China e dos Estados Unidos. Desse montante, 27% estão detidos sem julgamento, mercê da lentidão da Justiça brasileira, o que ajuda a explicar que o total de presos está 79% acima da capacidade dos presídios. Mais de 46% dos presos têm entre 18 e 29 anos e 92% não concluíram o ensino médio.

No convívio diuturno com líderes experientes de organizações criminosas, esses jovens têm acesso, às expensas do Estado, a um completo programa de treinamento em atividades ilícitas. Os professores do crime sequer têm a necessidade de se preocupar com o recrutamento de “trainees”. A polícia faz esse trabalho para eles, no estrito cumprimento de uma legislação anacrônica. A evasão é muito baixa. A eficácia desse tipo de treinamento intensivo supera a de qualquer curso de educação formal. Quem entra por furto sai qualificado para assaltar bancos, quem foi preso por vender um cigarro de maconha fica apto a participar de sequestros. Esse é o maior e mais eficaz programa de treinamento de jovens que fomos capazes de organizar. É urgente reverter esse quadro se quisermos construir uma sociedade próspera e justa. As consequências podem se atrasar, mas não faltarão ao nosso encontro

Opinião por Luís Eduardo Assis

Economista. Autor de 'O Poder das Ideias Erradas' (Ed.Almedina). Foi diretor de Política Monetária do Banco Central e professor de Economia da PUC-SP e FGV-SP

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