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Presidente do Conselho de Administração do Bradesco

Opinião|Tripé econômico é garantia para tempos duros e maduros

A política econômica ancorada no câmbio flutuante, responsabilidade fiscal e meta de inflação tornou-se uma âncora contra as mudanças nos cenários global e local

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Foto do author Luiz Carlos Trabuco Cappi

A política econômica brasileira se sustenta no tripé câmbio flutuante, responsabilidade fiscal e meta de inflação. É um modelo que se consagrou por proporcionar décadas de estabilidade econômica e redução da volatilidade no mercado brasileiro. Tornou-se uma âncora contra as mudanças nos cenários global e local, que, nos últimos tempos, se apresentam em ciclos cada vez mais bruscos, frequentes e rápidos.

A sensação é que as previsões não estão ajustadas, como aconteceu no caso do PIB em 2023 e agora em 2024, ou até mesmo do movimento de vendas do varejo. Outro exemplo é a trajetória do juro dos Estados Unidos. O ano começou com analistas convencidos de que haveria uma trajetória resoluta no processo de queda pelo Federal Reserve. Até pouco tempo havia a projeção de que iria começar em março. Essa previsão mudou para junho. Agora, as apostas se concentram em setembro. Ou mesmo 2025.

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A mudança da política monetária dos EUA é relevante para os mercados globais. Tem impactos nos investimentos, na atividade econômica e no comércio internacional. O juro americano é o preço que comanda o fluxo global. Ou seja, direciona para qual mercado e em que volume o dinheiro dos investidores irá seguir, com efeito direto na taxa de câmbio.

Para o Brasil, o adiamento da redução do juro americano não muda substancialmente as métricas do Banco Central, pois, como observa o Copom, não há relação mecânica entre o juro dos EUA e do Brasil. Devemos isso à prudência do BC, que o mantém em patamar de contenção. Com isso, preservou boa margem para a continuidade da queda da Selic ao longo do ano – há uma gordura acumulada.

A questão fiscal continua sob o escrutínio dos analistas. É vista como o principal desafio e a equipe econômica não discorda dessa visão. Por ações e palavras, busca-se o equilíbrio das contas. De forma realista, como na decisão de repetir a meta de déficit zero também em 2025, a equipe econômica busca a transparência e apresenta os desafios fiscais para o Congresso e a sociedade.

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Trabuco: 'Para o Brasil, o adiamento da redução do juro americano não muda substancialmente as métricas do Banco Central, pois, como observa o Copom, não há relação mecânica entre o juro dos EUA e do Brasil.' Foto: Andre Dusek/Estadão

O fundamental é persistir no tripé, que se provou uma salvaguarda para tempos duros e maduros. É o lastro para que as incertezas globais e locais sejam elementos passageiros. Como agora, no aumento das tensões no Oriente Médio.

As incertezas têm um viés prudencial: constroem expectativas sustentáveis para as decisões de investimento pelo trilho da cautela, proteção e risco do capital. Assim, nos afastamos das consequências imponderáveis que sempre surgem após momentos de euforia ou de certezas absolutas.

Opinião por Luiz Carlos Trabuco Cappi

Presidente do Conselho de Administração do Bradesco

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