A política econômica brasileira se sustenta no tripé câmbio flutuante, responsabilidade fiscal e meta de inflação. É um modelo que se consagrou por proporcionar décadas de estabilidade econômica e redução da volatilidade no mercado brasileiro. Tornou-se uma âncora contra as mudanças nos cenários global e local, que, nos últimos tempos, se apresentam em ciclos cada vez mais bruscos, frequentes e rápidos.
A sensação é que as previsões não estão ajustadas, como aconteceu no caso do PIB em 2023 e agora em 2024, ou até mesmo do movimento de vendas do varejo. Outro exemplo é a trajetória do juro dos Estados Unidos. O ano começou com analistas convencidos de que haveria uma trajetória resoluta no processo de queda pelo Federal Reserve. Até pouco tempo havia a projeção de que iria começar em março. Essa previsão mudou para junho. Agora, as apostas se concentram em setembro. Ou mesmo 2025.
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A mudança da política monetária dos EUA é relevante para os mercados globais. Tem impactos nos investimentos, na atividade econômica e no comércio internacional. O juro americano é o preço que comanda o fluxo global. Ou seja, direciona para qual mercado e em que volume o dinheiro dos investidores irá seguir, com efeito direto na taxa de câmbio.
Para o Brasil, o adiamento da redução do juro americano não muda substancialmente as métricas do Banco Central, pois, como observa o Copom, não há relação mecânica entre o juro dos EUA e do Brasil. Devemos isso à prudência do BC, que o mantém em patamar de contenção. Com isso, preservou boa margem para a continuidade da queda da Selic ao longo do ano – há uma gordura acumulada.
A questão fiscal continua sob o escrutínio dos analistas. É vista como o principal desafio e a equipe econômica não discorda dessa visão. Por ações e palavras, busca-se o equilíbrio das contas. De forma realista, como na decisão de repetir a meta de déficit zero também em 2025, a equipe econômica busca a transparência e apresenta os desafios fiscais para o Congresso e a sociedade.
O fundamental é persistir no tripé, que se provou uma salvaguarda para tempos duros e maduros. É o lastro para que as incertezas globais e locais sejam elementos passageiros. Como agora, no aumento das tensões no Oriente Médio.
As incertezas têm um viés prudencial: constroem expectativas sustentáveis para as decisões de investimento pelo trilho da cautela, proteção e risco do capital. Assim, nos afastamos das consequências imponderáveis que sempre surgem após momentos de euforia ou de certezas absolutas.