Embora o Brasil não esteja diretamente exposto à guerra entre Rússia e Ucrânia, dado os pequenos fluxos comerciais e financeiros com os dois países – bem como os laços relativamente pequenos com a União Europeia –, os impactos indiretos podem ser significativos.
Em primeiro lugar, vale observar os efeitos dos aumentos nos preços das commodities internacionais. Preços mais altos de commodities têm levado ao aumento da inflação global, e no Brasil isso não tem sido diferente.
Todavia, dada a condição do País como um grande exportador mundial de commodities, esse mesmo fenômeno deve impulsionar as exportações brasileiras. O Brasil é um grande fornecedor de bens agrícolas e minerais nos mercados globais.
É claro que as sanções à Rússia têm afetado suas exportações de fertilizantes, produto do qual o Brasil é importador. Mas não se pode esquecer de que outros exportadores agrícolas também são afetados por isso. E esses mesmos competidores internacionais sofrem mais fortemente com o aumento dos preços da energia do que o Brasil, que possui maior participação de fontes renováveis em sua matriz energética.
Juntamente com as taxas de juros reais mais altas que têm sido praticadas, o efeito do comércio exterior deve ter um saldo positivo de riscos, fortalecendo a taxa de câmbio.
Nesse sentido, vale destacar que o real é a moeda de melhor desempenho do mundo este ano. É de esperar que isso ajude na luta do Banco Central do Brasil contra a inflação.
Mas isso não significa dizer que a economia brasileira não será afetada pelas repercussões globais da guerra. Se por um lado o câmbio pode ajudar na inflação, os preços continuam subindo a uma taxa elevada. Assim, o cenário inflacionário dependerá muito da capacidade de que as empresas repassem seus aumentos de custos para os consumidores.
Além disso, os juros mais altos devem deprimir a demanda doméstica e tornar o cenário de emprego mais nebuloso. Entretanto, há pouco o que o Banco Central possa fazer para evitar isso, dados os desafios atuais da inflação e o próprio aumento mundial das taxas de juros.
O balanço de riscos sugere cautela, embora nem tudo seja um conjunto de más notícias.
*SÃO, RESPECTIVAMENTE, ECONOMISTA SÊNIOR DO BANCO DO DESENVOLVIMENTO ASIÁTICO E DIRETOR-GERAL DO IBMEC SÃO PAULO E BRASÍLIA
As opiniões contidas neste artigo não representam as do Banco do Desenvolvimento Asiático, Ibmec ou quaisquer instituições associadas
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