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Cenário para a economia global ensaia melhora com reabertura da China e queda da inflação

Economistas ponderam que perspectiva não é de otimismo; desempenho do PIB deve ficar abaixo da média dos últimos anos, apesar das projeções mais positivas

Foto do author Luiz Guilherme  Gerbelli
Foto do author Luciana Dyniewicz
Por Luiz Guilherme Gerbelli e Luciana Dyniewicz
Atualização:

A economia global pode não ter um ano tão ruim como o esperado há alguns meses. A reabertura da China - com o fim da política de covid zero -, o inverno menos rigoroso na Europa e a sinalização de que a fase mais aguda da inflação nos principais países pode ter ficado para trás têm contribuído para melhorar as previsões para o Produto Interno Bruto (PIB) do mundo.

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Apesar das projeções melhores, os economistas ponderam que o cenário não é de otimismo. No caso do Brasil, por exemplo, os números globais mais positivos ajudam, mas não o suficiente para mudar o cenário de fraco crescimento esperado para 2023.

Na última revisão, por exemplo, o Fundo Monetário Internacional (FMI) elevou a estimativa para o PIB global deste ano de 2,7% para 2,9%, mas ainda abaixo da média observada desde 2000 (3,8%). “As perspectivas globais estão melhores do que há alguns meses, mas eu diria que a foto ainda é de um cenário desafiador”, afirma Eduardo Jarra, economista-chefe da Santander Asset Management.

Na China, depois do fim da política de covid zero, a reabertura da economia tem sido mais rápida do que o previsto. Desde o início da pandemia, o governo chinês adotou um duro controle na mobilidade social para evitar uma grande propagação da doença e o colapso do sistema de saúde. A reabertura contribuiu para que o FMI aumentasse a previsão de crescimento da economia chinesa de 4,4% para 5,2%.

“Há uma incerteza no curto prazo. Nós questionamos no curto prazo como a atividade se comportou com todos esses aumentos de casos, mas a história do filme da China parece melhor, porque houve uma flexibilização mais rápida do que o esperado”, afirma Jarra.

Europa

Na Europa, o inverno menos rigoroso do que o previsto também trouxe um alívio para o cenário econômico da região, bastante afetada pelo conflito entre Ucrânia e Rússia. Havia uma preocupação de que o frio intenso pudesse aumentar a demanda por gás e levasse a região a enfrentar uma falta do produto.

“O inverno mais ameno na Europa reduziu muito a necessidade de utilização de gás para fins de aquecimento”, afirma Alexandre Bassoli, economista-chefe da Apex Capital. “Como consequência, não é necessário reduzir a utilização do gás para outros fins, para a indústria, por exemplo. O temor era de que, se o inverno se mostrasse mais rigoroso do que o normal, seria necessário implementar um racionamento de gás.”

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Na virada do ano, muitos economistas enxergavam um risco de que a Europa pudesse enfrentar uma recessão mais profunda, cenário que parece mais distante hoje. O Goldman Sachs, por exemplo, chegou a prever um PIB de -0,1% para a região. Hoje, estima 0,8%.

O clima mais quente ajudou a reduzir os preços do gás, que voltaram para o patamar do início do conflito entre Rússia e Ucrânia. Integrantes do conselho do Banco Central Europeu já indicaram que o custo mais baixo da energia tem contribuído para desacelerar a inflação na região.

Risco de recessão profunda na zona do Euro diminuiu neste ano Foto: EFE/ANDRE PAIN

“É possível pensar no gás ou no petróleo como um imposto que incide sobre a renda disponível das famílias. Como é uma coisa essencial, quando está elevado, sobra menos renda para consumir outros bens e serviços”, afirma Bassoli.

No início do mês, o BCE elevou as suas principais taxas de juros em 50 pontos-base. Um aumento na mesma magnitude é esperado para o encontro de março.

Estados Unidos

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Na economia americana, o cenário de um pessimismo exacerbado com a inflação ficou para trás. Em dezembro, no acumulado de 12 meses, o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) subiu 5%, abaixo dos 5,5% observados em novembro.

O PCE é acompanhado de perto pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) para definir o rumo da política monetária. No seu último encontro, o BC americano reduziu o ritmo de alta das taxas de juros, para 0,25 ponto percentual, alcançando a faixa entre 4,50% e 4,75% ao ano.

“Desde o início dos anos 1980, a gente não assistia um processo tão agressivo de aperto monetário. A política monetária produz um arrefecimento da demanda ao logo do tempo - não é imediato. E desde o final do ano passado, temos sinais nos Estados Unidos e em outras economias desenvolvidas de arrefecimento do crescimento da demanda e isso também tem contribuído para amainar essas pressões inflacionárias”, diz Bassoli, da Apex Capital.

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O diretor de pesquisa macroeconômica para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, no entanto, pondera que o nível de desemprego baixo ainda pode pressionar a inflação nos próximos meses. Por outro lado, há fatores que já aliviam a alta dos preços, como a queda no valor do preço devido à regularização das cadeias logísticas globais.

O Brasil pode se beneficiar?

O crescimento da economia global maior que o esperado deve ter um efeito positivo - ainda que limitado - no Brasil. Com a China avançando mais do que se projetava inicialmente, a tendência é que as commodities se aqueçam. Ramos, do Goldman Sachs, destaca que a China deve movimentar principalmente os mercados de petróleo e cobre. No ano passado, o banco projetava um crescimento para o país oriental de 4,5%. Agora, a estimativa é de 5,5%.

Ramos pondera, porém, que a expansão chinesa também não vai ter um impacto aqui como se via no passado. Isso porque, antes, o crescimento do País era baseado em investimento em infraestrutura, o que demandava, por exemplo, mais minério de ferro, commodity amplamente produzida no Brasil. Agora, a China está impulsionando a economia através do consumo interno. “Esse tipo de crescimento chinês não beneficia muito o Brasil, mas ajuda”, diz Ramos.

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