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Meta de inflação ajustada para este ano é de 8,5%, anuncia o BC

Por Agencia Estado
Atualização:

O Banco Central definiu em 8,5% a meta ajustada para a inflação em 2003. Para 2004, a meta ajustada definida é de 5,5%. De acordo com a carta aberta enviada ao ministro da Fazenda, Antônio Palocci, pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, a definição da meta ajustada para 2003 pressupõe que a inflação dos preços administrados (tarifas de combustíveis, de energia) seja de 14% e que um terço da inércia inflacionária seja combatido ao longo deste ano. Em 2002, o Banco Central buscou neutralizar metade da inércia inflacionária herdada de 2001. "Como a inflação de 2002 ficou 9 pontos porcentuais acima da meta, com a maior contribuição ocorrendo no último trimestre do ano, o impacto estimado sobre a inflação de 2003 é de 4,2 pontos porcentuais, valor elevado e que justifica um combate mais gradual", afirma Meirelles na carta divulgada às 13 horas pela assessoria de imprensa do BC. "Tendo em vista a magnitude do impacto inercial da inflação em 2002 e o efeito primário do choque dos preços administrados por contrato e monitorados, a meta ajustada fica acima do limite superior de tolerância da meta pré-estabelecida pelo CMN", afirma Meirelles na carta. A meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional para 2003 é de 4%, com margem de variação de 2,5 pontos porcentuais, para cima ou para baixo. Isso significa que o teto da meta de inflação é de 6,5% para este ano. A meta ajustada de inflação de 2004, de 5,5%, foi calculada utilizando como hipóteses uma inflação dos preços administrados de 7,6%. A meta de inflação definida pelo CMN para 2004 é de 3,75%, com a mesma margem de variação de 2003. O teto, portanto, da inflação em 2004 é de 6,25%. Inflação e PIB ?A decisão de perseguir uma trajetória de inflação com base nestas metas ajustadas leva em conta que a política monetária será capaz de fazer com que a inflação convirja para o intervalo de tolerância da meta em dois anos?, afirma o presidente do BC, na carta. Buscando uma meta ajustada de inflação de 8,5% em 2003, a economia brasileira poderá apresentar um crescimento de 2,8% do Produto Interno Bruto (PIB). ?Outras trajetórias com quedas de inflação mais acentuadas implicam perdas expressivas do crescimento do produto?, admite Meirelles na carta. Das simulações feitas pelo BC para se chegar à meta ajustada de 8,5% para a inflação este ano, observou-se que se essa meta ajustada fosse definida no mesmo porcentual do teto da inflação de 2003, ou seja, 6,5%, o PIB brasileiro sofreria uma queda de 1,6%. ?Mais ainda, uma trajetória que alcance o centro da meta de 2003, 4%, implicaria uma contração do PIB ainda maior, de 7,3%?, explica Meirelles. ?Além do efeito sobre o produto, outras trajetórias de convergência de inflação poderiam requerer um esforço desproporcional no primeiro ano, o que resultaria em uma inflação em 2004 substancialmente inferior à meta estabelecida para aquele ano?, completa o presidente do BC. Política monetária Henrique Meirelles, lembra na carta enviada ao Ministério da Fazenda que a forte depreciação cambial registrada no ano passado, somada à evolução dos preços administrados e à deterioração das expectativas com relação à economia brasileira, fez com que a inflação fechasse o ano em 12,53%, valor "bastante acima" do intervalo de tolerância da meta de inflação estabelecida pelo governo para 2002, que era de 3,5%, com margem de variação de dois pontos porcentuais. "A política monetária nos próximos dois ano será calibrada para que a inflação convirja para as metas ajustadas de 8,5% em 2003 e de 5,5% em 2004. Dessa forma, o BC perseguirá uma trajetória que leve a uma redução importante da inflação neste ano e atinja o intervalo de tolerância da meta em 2004". Pelos cálculos feitos pelo Banco Central, o IPCA deve convergir para o intervalo de tolerância da meta de inflação definida pelo governo a partir do segundo semestre de 2003. Em dezembro de 2004, a expectativa do BC é de que o IPCA deverá apresentar valores anualizados em torno de 4,8%. O presidente do BC enfatiza na carta que as projeções de inflação podem não coincidir, "necessariamente", com a meta ajustada de inflação definida. "Essas projeções dependem de hipóteses e avaliações que podem se modificar ao longo do tempo", justifica Meirelles. ?Conjugação perversa? Henrique Meirelles explica, na carta enviada ao minsitro da Fazenda, que a meta de inflação estabelecida pelo governo para 2002 não foi cumprida pela série de turbulências vividas pela economia mundial e brasileira. "O ano de 2002 foi caracterizado por uma conjugação perversa de uma severa crise de confiança na evolução da economia brasileira e um forte aumento da aversão ao rico nos mercados internacionais", argumenta Meirelles. Esses fatores, segundo o presidente do BC, refletiram em turbulências no mercado financeiro brasileiro, em dificuldades na administração da dívida pública e em quedas "bruscas" no financiamento externo do País, com consequências negativas sobre a inflação e o nível de atividade da economia nacional. "Devido às dificuldades de colocação de títulos mais longos e à necessidade de encurtamento de prazos por parte de alguns agentes do mercado financeiro, a dívida de curto prazo aumentou de 25,6%, no final de 2001, para 38,9%, no final de 2002", explica Meirelles. O prazo médio da dívida pública diminuiu de 35 meses para 33 meses, neste mesmo intervalo de tempo. Para o presidente do BC, as dificuldades enfrentadas pelo Brasil em 2002 se refletiram principalmente sobre a taxa de câmbio e sobe as expectativas de inflação. "A depreciação acentuada da taxa de câmbio e a deterioração das expectativas de inflação tiveram fortes impactos sobre a inflação, levando ao descumprimento da meta para o ano de 2002". A meta de inflação do ano passado era de 3,5%, com margem de variação de dois pontos porcentuais. O IPCA fechou 2002 registrando uma variação de 12,53%. "O não cumprimento da meta em 2002 pode ser atribuído a três fatores: forte depreciação cambial, evolução dos preços administrados e deterioração das expectativas de inflação", argumenta Meirelles. O Banco Central estima que o repasse cambial para os chamados preços livres tenha sido de 17% no último trimestre de 2002. Pelos cálculos apresentados pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, na carta enviada ao ministro da Fazenda, o efeito total da depreciação cambial sobre a inflação de 2002 representou 5,8 pontos porcentuais. "Desse valor, 3,8 pontos porcentuais correspondem ao impacto sobre os preços livres e 2,0 pontos porcentuais ao repasse sobre os preços administrados por contrato ou monitorados", afirma Meirelles no documento. A estimativa de repasse para os preços livres nos últimos três meses de 2002 supera, segundo Meirelles, o estimado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC. A estimativa do Copom sempre é feita considerando o comportamento histórico da taxa de câmbio e da inflação. Para Meirelles, caso o coeficiente de repasse cambial tivesse permanecido, no último trimestre de 2002, próximo à média histórica de 7%, a contribuição da depreciação cambial teria sido de 4,4 pontos porcentuais, respondendo, portanto, por 35% da inflação registrada. Nesse caso, a contribuição dos preços livres teria sido maior, em torno de 3,7 pontos porcentuais. Dentro das avaliações feitas por Meirelles sobre os elementos que contribuíram para a inflação de 2002, o presidente do BC destaca ainda o crescimento "acentuado" dos preços administrados, como energia elétrica e serviços telefônicos. O preço dos gás de cozinha subiu, em 2002, 48,3%, e a energia elétrica 19,9%. "A inflação nesse conjunto de preços atingiu 15,3%, taxa superior à da inflação dos preços livres, 11,5%, e da variação do IPCA, de 12,53%", explica Meirelles. A falta de confiança na economia brasileira também gerou efeitos sobre as expectativas de inflação que, segundo Meirelles, contribuíram com 1,65 ponto porcentual para a inflação de 2002. A inércia inflacionária herdada de 2001 contribuiu com 0,9 ponto porcentual para o IPCA do ano passado. "A inflação dos preços livres, excluindo o repasse cambial, a inércia herdada de 2001 e o impacto das expectativas de inflação acima da meta respondeu com 2,3 pontos porcentuais para o IPCA de 2002", explica Meirelles. A equipe do Banco Central calculou que a inflação em 2002 poderia ter sido de 8,9%, caso o dólar tivesse permanecido ao longo do ano passado em R$ 2,55. "Caso a taxa de câmbio tivesse permanecido no patamar de R$ 2,55, observado no quarto trimestre de 2001, ou seja, admitindo-se depreciação zero e mantendo a inflação dos preços administrados nos 15,3% ocorridos, a inflação medida pelo IPCA teria sido de 8,9%", detalha Meirelles na carta enviada ao ministro da Fazenda. "Se, além da ausência de depreciação cambial, a inflação dos preços administrados por contrato e monitorados tivesse sido igual à dos preços livres, a variação do IPCA em 2002 teria sido de 5,98%", argumenta o presidente do BC. Outro cálculo feito pela equipe de Meirelles mostra que, neutralizados os efeitos do câmbio e dos preços administrados, se as expectativas de mercado para a inflação tivessem permanecidos no centro da meta definda para 2002, o IPCA teria fechado no ano passado com uma variação de 4,3%.

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