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Ex-secretário de Mantega diz que metas de arcabouço são ‘insuficientes’ e devem ‘tensionar’ mercado

De acordo com integrantes do governo, nova âncora tem como meta zerar déficit primário em 2024

Foto do author Francisco Carlos de Assis
Por Francisco Carlos de Assis (Broadcast)
Atualização:

Ex-secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, o economista e professor da FGV-SP Márcio Holland disse há pouco ao Estadão/Broadcast que as metas de superávit primário postas no texto do novo arcabouço fiscal não são suficientes para estabilizar a relação dívida/Produto Interno Bruto. Antes, segundo ele, deixa espaço para a expansão da dívida na proporção do PIB, o que deverá tensionar ainda mais o mercado.

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Como mostrou o Estadão, de acordo com integrantes da equipe econômica, o novo arcabouço fiscal tem como meta zerar o déficit primário em 2024, reunir superávit de 0,5% do PIB em 2025 e elevá-lo a 1% em 2026, último ano do governo Lula.

“Um superávit primário de 0,5% do PIB e até mesmo de 1% deixa espaço para expansão da relação dívida/PIB”, disse.

De acordo com ele, é preciso ainda fazer a conta para se chegar à taxa e superávit primário necessários para estabilizar a dívida pública proporcionalmente ao PIB diante de um cenário em que o juro básico da economia deve permanecer elevado, por volta dos 12% ao ano e o juro real em 5%.

Haddad se reuniu com Lula nesta quarta-feira, 29, para bater o martelo sobre o novo arcabouço fiscal Foto: Ricardo Stuckert - 29/03/2023

“Se o Brasil crescer 1% este ano, 1,5% em 2024 e 2% nos anos seguintes, esse superávit primário de 1% não estabilizará a dívida e o risco-País tende a aumentar com esse arcabouço que não é um arcabouço, mas sim a volta [da busca] por superávits primários”, disse Holland.

Para efeito de lembrança, a busca por superávits primários era o ponto fulcral da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), regra fiscal criada no governo de Fernando Henrique Cardoso em 1999.

Ainda, de acordo com o ex-secretário, supondo que a economia brasileira cresça 2% no ano, os gastos tendem a se elevar em cima de uma base alta deste ano. Ou seja, as despesas já estão contratadas.

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“É provável que a relação dívida pública pelo PIB cresça até o terceiro ano do governo Lula e se estabilize em um nível maior do que o atual, que está em 73% do PIB”, disse Holland, acrescentando que, pelo o que tem saído na imprensa, o novo arcabouço fiscal “não é o esperado pelo mercado”. “Até porque, as garantias para a estabilização da dívida pelo PIB são pequenas neste momento de cenário de incertezas com a política monetária e com o baixo crescimento do PIB.”

“Ainda falta clareza sobre se haverá uma regra de controle de crescimento dos gastos pelo teto e não por piso como tem sido divulgado até aqui”, afirmou.

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