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Agência Moody’s melhora perspectiva da classificação de risco do Brasil

Avaliação passou de ‘estável’ para ‘positiva’; de acordo com a agência, nota já poderia ser elevada se questão fiscal estivesse resolvida

Foto do author Célia Froufe
Foto do author Francisco Carlos de Assis
Por Célia Froufe (Broadcast) e Francisco Carlos de Assis (Broadcast)
Atualização:

BRASÍLIA - A agência de classificação de risco Moody’s elevou nesta quarta-feira, 1º, a perspectiva da avaliação de crédito do Brasil de estável para positiva. Não é uma mudança na nota - que continua no patamar Ba2, a dois degraus do grau de investimento -, mas significa que a melhora no rating fica um pouco mais perto.

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“A Moody’s avalia que as perspectivas de crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil são mais robustas do que nos anos pré-pandemia, apoiadas pela implementação de reformas estruturais em múltiplas administrações, bem como pela presença de barreiras de proteção institucionais que reduzem a incerteza em torno da direção política futura”, explicou a agência, justificando a mudança de perspectiva.

Nas três grandes agências globais - Moody’s, Fitch e Standard & Poor’s (S&P) - o Brasil está dois degraus abaixo do grau de investimento. No trio, o País segue como um mercado de investimento de grau especulativo. O “selo de bom pagador” é muito desejado porque facilita a atração de investimentos, fomentando a atividade econômica. Muitos fundos de pensão internacionais, por exemplo, têm autorização para comprar apenas papéis considerados pelas agências como investment grade.

O Brasil chegou a atingir o grau de investimento em abril de 2008, pela Standard & Poor’s, no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na sequência, vieram Fitch (maio de 2008) e Moody’s (setembro de 2009). O País, no entanto, perdeu essa classificação ainda no mandato da presidente Dilma Rousseff, sendo rebaixado para o grau especulativo.

Mudança da perspectiva foi celebrada pela equipe econômica Foto: Wilton Junior/Estadão

Em nota, o Ministério da Fazenda avaliou que a decisão da Moody’s de elevar de estável para positiva a perspectiva do rating do Brasil reforça a melhoria na trajetória da nota de crédito verificada desde 2023, com a elevação do rating tanto pela S&P quanto pela Fitch.

Crescimento mais robusto

Em sua justificativa para mudar a perspectiva da nota brasileira, a Moody’s disse que o movimento é sustentado pela avaliação de que um crescimento mais robusto, combinado com um progresso contínuo, embora gradual, em direção à consolidação fiscal, poderá permitir a estabilização do peso da dívida do Brasil. “No entanto, existem riscos para a execução, por parte do governo, da consolidação orçamentária contínua”, pontuou.

A afirmação da classificação Ba2 foi impulsionada, de acordo com a empresa, pela força fiscal ainda relativamente sensível, dada a elevada carga da dívida do Brasil e a fraca capacidade de pagamento da dívida, que permanece sensível a choques econômicos ou financeiros.

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Segundo a Moody’s, além da perspectiva, a classificação soberana do Brasil seria elevada se o governo se mostrasse bem-sucedido na melhoria constante do resultado primário e dos déficits fiscais, o que aumentaria a credibilidade da política fiscal.

“Este desenvolvimento indicaria a capacidade do governo de manter o rumo, reforçando as perspectivas favoráveis para a trajetória fiscal do Brasil e apoiando a redução do prêmio de risco soberano, reduzindo, por sua vez, os custos de empréstimos para o governo”, disse a empresa em comunicado

No documento, a agência reforça que a manutenção de um crescimento sólido do PIB, em linha com as atuais previsões da Moody’s, apoiaria a capacidade do governo de proporcionar melhorias nas métricas fiscais.

Por outro lado, a agência salientou que “emergiriam pressões de crédito negativas se o compromisso com a consolidação orçamentária enfraquecesse, conduzindo a uma deterioração dos saldos orçamentais primário e global”.

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“A erosão da credibilidade política que enfraquece a confiança dos investidores, pesando sobre o crescimento e o investimento, e o aumento dos custos de financiamento do governo também enfraqueceriam a qualidade de crédito do Estado”, disse, observando que o crescimento persistentemente baixo do PIB representaria um desenvolvimento negativo em termos de crédito que afetaria negativamente o perfil de crédito do Brasil.

Surpresa

Para o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, sócio da consultoria Tendências, ao elevar a perspectiva da nota brasileira, a Moody’s se mostra mais otimista que os economistas brasileiros. Na avaliação dele, a ação da Moody’s acaba sendo uma surpresa sobretudo porque todas as análises disponíveis são praticamente unânimes em afirmar que o Brasil não conseguirá estabilizar a sua relação dívida/PIB pelo menos ao longo dos próximos dez anos.

“As previsões para a dívida proporcionalmente ao PIB para o período varia de 81% a 84%, a depender da composição da taxa de juro. Todos que acompanham de perto o fiscal falam isso”, disse Maílson acrescentando, contudo, que de qualquer forma é uma notícia positiva, já que se trata de uma grande e importante agência de classificação de riscos endossando melhoras na economia brasileira.

“O governo tem mais é que comemorar muito mesmo essa notícia. O difícil será conseguir de volta o grau de investimento. Isso não ocorrerá nem neste e nem no próximo governo, porque houve uma piora considerável da rigidez orçamentária, o que impede o governo de gerar superávits primários e reduzir a dívida. E para estabilizar a dívida precisaria de superávits seguidos de 1,5% a 2% do PIB”, disse o ex-ministro.

Ele disse ainda que não consegue ver como o governo poderia atacar a questão da dívida, por conta, entre outras coisas, dos reajustes dos salários defasados do funcionalismo público.

“Uma das razões para o governo ter reduzido para zero a meta do resultado primário para 2025 foi para ter margem de manobra para aliviar a pressão dos órgãos gastadores e poder mandar dinheiro para ciência e tecnologia, educação, etc. Mas daqui a pouco vamos ter Polícia Federal reclamando que não tem dinheiro para passaportes, Ibama dizendo que não vem recursos para fazer as fiscalizações”, disse o ex-ministro.

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