O reajuste de até 96,5 por cento nos preços do minério de ferro alcançado pela mineradora Rio Tinto junto à siderúrgica chinesa Baosteel é positivo para o setor e indica que a demanda continua sustentada, segundo o presidente-executivo da Vale, Roger Agnelli. "O reajuste mostra que o mercado está forte", afirmou Agnelli a jornalistas em um intervalo de um evento em São Paulo. Ele considerou positiva a negociação feita pela Rio Tinto, que na prática acabou com o sistema de "benchmark" (contrato de referência) até então dominante no setor, e afirmou que a Vale deve iniciar em aproximadamente cinco meses as discussões com siderúrgicas para os preços do seu minério para 2009. Há vários anos, a Vale costumava ditar o ritmo dos reajustes nos valores do minério de ferro, que são definidos tradicionalmente no início de cada exercício. A mineradora brasileira geralmente fechava o primeiro contrato com algum cliente importante, e os termos eram seguidos pelas outras mineradoras e pelos demais clientes. A Vale fechou em fevereiro os valores para 2008, estabelecendo reajustes de 65 e 71 por cento para o minério de duas regiões diferentes no Brasil. As companhias com operações na Austrália, principalmente Rio Tinto e BHP, manifestaram insatisfação com o sistema e disseram que fariam negociações para que o valor do minério australiano fosse maior, já que as siderúrgicas chinesas gastam menos com o frete marítimo na comparação com o produto brasileiro. Agnelli afirmou, no entanto, que o negócio da Rio Tinto com a Baosteel foi só o primeiro fora do sistema de "benchmark" e que a empresa vai acompanhar o desenrolar de outras negociações que podem ocorrer para avaliar como o sistema de definição de preços será moldado. A BHP Billiton, por sua vez, informou nesta terça-feira que considerou positiva a negociação da Rio Tinto, mas disse que ela não cobre adequadamente a diferença total no frete marítimo, indicando que vai buscar reajustes ainda maiores. O presidente-executivo da área de ferrosos da BHP, Marcus Randolph, disse que custa entre 55 e 60 dólares por tonelada a menos para embarcar minério da Austrália para a China, na comparação com os embarques do Brasil. "O que está acontecendo efetivamente é que nós não estamos sendo pagos pelo nosso produto no mesmo valor que outros estão sendo pagos", declarou. (Reportagem adicional de James Regan, em Sydney)