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‘O pior passou, após dois anos de ressaca’, diz Frederico Trajano, do Magazine Luiza

CEO da varejista diz que, nesse período, houve uma arrumação de casa, com redução das despesas; rede teve lucro de R$ 27,9 milhões no primeiro trimestre

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Por Talita Nascimento
Foto: Magazine Luiza/Divulgação
Entrevista comFrederico TrajanoCEO do Magazine Luiza

O CEO do Magazine Luiza, Frederico Trajano, acredita que o pior momento macroeconômico para o varejo já passou e adianta que as vendas das lojas físicas da companhia já cresceram em duplo dígito em abril. Com a nova injeção de dinheiro na companhia, um aumento privado de capital de R$ 1,25 bilhão, liderado pela família fundadora, ele pretende aumentar os investimentos da companhia (capex) também em dois dígitos, visando a aumentar sua receita de serviços.

Para ele, os últimos dois anos foram de desafios intensos, com cerca de R$ 3 bilhões a mais em despesas (somando o efeito da taxa de juros e aumento de impostos) com os quais a companhia teve de lidar. “É difícil para todos os varejistas brasileiros. Inclusive, alguns entraram em recuperação judicial por causa desse período macroeconômico. Foi extremamente complexo”, afirmou ao Estadão/Broadcast.

O Magazine Luiza terminou o primeiro trimestre com lucro de R$ 27,9 milhões, revertendo um prejuízo de R$ 391 milhões de um ano atrás. O Ebitda (geração de caixa) ficou em R$ 684,9 milhões, com alta de 111,3% frente ao mesmo período de 2023. A receita líquida, por sua vez, foi de R$ 9,239 bilhões, alta de 1,9%. “Foi um feito histórico”, disse.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

Como o sr. avalia o desempenho da companhia no primeiro trimestre deste ano?

O que aconteceu neste trimestre foi um feito histórico. Os números falam. O crescimento de 54% do Ebitda (sigla em inglês para lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização), aumento de 2,6 pontos de margem (bruta, para 29,9%); além de uma margem Ebitda de 7,4% (que mede a eficiência operacional e geração de caixa) no primeiro trimestre, que é de sazonalidade muito ruim. E ainda tivemos 40% de queda de despesa financeira. Nunca tivemos um trimestre com uma evolução tão significativa na rentabilidade

A que se deve esse aumento de rentabilidade?

Conseguimos praticamente todo esse resultado ganhando eficiência na operação, controlando a despesa. Repassamos o Difal (Diferencial de Alíquotas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, que aumentou os custos da varejista em 2023), o que é importante. Fizemos controle absoluto de despesas, são dois anos de trabalho nisso. Além disso, melhoramos as receitas de serviços e as receitas de take rate (taxa cobrada da venda de lojistas virtuais que usam a plataforma da companhia, que varia de acordo com os serviços utilizados).

Frederico Trajano, CEO do Magazine Luiza, diz que os últimos dois anos foram de ressaca pós pandemia Foto: Divulgação/Magazine Luiza

Esse ainda é um momento desafiador para a venda de bens duráveis? A receita líquida do Magalu cresceu 1,9%.

Nas lojas, as vendas cresceram 9%. Foi o maior crescimento dos últimos dois anos. Já em abril estamos na casa de duplo dígito, está indo super bem, o que mostra já uma recuperação econômica. Tem um pouco de uma situação concorrencial, na qual temos ganhado mercado em lojas físicas. Vejo que o custo da dívida das famílias caiu, com a queda de juros. Assim, creio que há espaço agora para recompor os investimentos em produtos discricionários. Tivemos um “boom” na pandemia, depois foram dois anos de ressaca e agora essa situação vai melhorar, mais ainda no segundo semestre. No caso do e-commerce, creio que não crescemos tanto quanto nos outros trimestres pelo repasse do Difal.

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O sr. avalia que o período de dificuldade macroeconômica passou?

Acho que o pior já passou. A loja é um bom termômetro macroeconômico, porque a base da população compra na loja física.

Como foi para o sr., que comandava uma empresa que ia muito bem, passar a gerir a companhia em um período de dificuldade?

Foi um período, não só para mim, como para todo o meu time, super intenso. Acho que o que nós e todo o varejo brasileiro e mundial vivemos no pós-pandemia foi um período extremamente desafiador. É por isso que eu acho que o que nós fizemos de melhoria de resultado é um feito histórico. Porque o cenário era de um aumento abrupto de juros, de 2% para 14% no pós-pandemia. Quando fizemos o orçamento de 2021, o consenso era de que a taxa Selic ia até 5%. Imagine R$ 1,5 bilhão de despesa financeira a mais que não estava previsto no orçamento. Além disso, tivemos algumas majorações significativas de impostos ao longo desse período: mais R$ 1,5 bilhão de imposto. De repente, eram R$ 3 bilhões para recuperar nas operações, em um quadro recessivo. Então é um contexto extremamente desafiador, árido, difícil. É difícil para todos os varejistas brasileiros.

O follow on (oferta subsequente de ações) que vocês fizeram em 2021, que levantou R$ 4 bilhões, foi essencial para atravessar a crise? Você tinha ideia do que se aproximava?

Ninguém previa. Reforçamos a estrutura de capital para poder crescer de maneira segura. O ambiente mudou e a estrutura de capital nos ajudou a atravessar esse momento delicado da economia brasileira e mundial, sem dúvida.

Mais recentemente, houve um novo aumento de capital.

Nós fizemos um aumento de capital privado de R$ 1,25 bilhão e a família fundadora aportou a parte proporcional da sua participação. A empresa não precisava do dinheiro. O aporte de capital foi feito por duas razões: a família, melhor do que ninguém, conhece a ciclicidade do negócio. Ela sabe, como aconteceu lá em 2015 para 2016, que quando os juros estão altos, o resultado cai, mas o juros começam a cair e, depois, o resultado volta. O Magalu é um belo veículo para surfar na queda dos juros. Por outro lado, eu, como CEO, achei que era um momento oportuno de termos um aumento de capital. Eu queria acelerar os nossos investimentos em avenidas de crescimento de resultado relevantes para a companhia. Por exemplo, o MagaluAds (braço de publicidade); a fintech; o marketplace; e o serviço de nuvem. Foi uma boa decisão ter esse capital agora para poder acelerar com segurança os investimentos. Devemos ter crescimento de duplo dígito do nosso Capex para esse ano em relação ao ano passado.

Como o sr. avalia o efeito da reforma tributária no setor e no seu negócio?

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No princípio geral, a simplificação me parece muito positiva para a economia como um todo. Há uma impressão minha de que vários setores ganharam alguns benefícios, acima até do que é o ideal. Assim, para o restante, a alíquota acaba não podendo ser tão baixa quanto possível. Mas tudo isso ainda é muito preliminar. Seria irresponsável da minha parte falar sobre a reforma tributária antes de ver as legislações específicas que estão sendo definidas no Congresso. Eu apoio a reforma tributária, acho que ela vem para o positivo. Agora, a gente tem de ver como ela vai estar legislada.

O fato de o Magalu estar melhor financeiramente traz ganho de mercado em um momento no qual alguns concorrentes estão em dificuldades?

A estrutura financeira é um fator, mas não é possível limitar esse ganho de mercado ao fato de estar bem financeiramente. Imagina manter a equipe motivada com dois anos sem bater metas. Tivemos um trabalho aqui de manter a turma unida e feliz nesse período. Não saímos dos rankings de melhor empresa para se trabalhar, mesmo nas vacas magras. O porcentual de remuneração de uma equipe de loja é totalmente variável (depende do desempenho de vendas) e a gente conseguiu segurar a equipe. Várias outras redes de varejo mudaram muito o time. Soubemos administrar esse período de incertezas cuidando bem da nossa equipe, cuidando bem das nossas lojas, cuidando bem do nosso estoque também. Eu acho que tudo isso faz parte. Mas sem dúvida, ter condições financeiras nos permitiu fazer tudo isso.

E como o sr. enxerga as decisões fiscais do atual governo? Como elas interferem no seu negócio e no varejo como um todo?

Não sou economista. Eu acho que o meu papel é trabalhar com a situação que se apresenta. Eu acho que nós estamos, nesse momento, convivendo com uma condição mundial de juros muito altos ainda, não tem a ver com um governo específico. Os juros reais brasileiros são os juros mais altos do mundo e a carga tributária também é uma das mais altas para países emergentes. Esse duplo custo é um contexto desafiador. Existe a perspectiva da queda dos juros e eu torço para que esse governo também trabalhe pela redução da carga tributária. Não me parece que está indo nessa linha.

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