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Grupo Muffato compra 16 lojas do Makro e 11 postos de combustível

Com a aquisição, o paranaense Muffato poderá expandir sua atuação no varejo alimentar para a capital paulista

Foto do author Lucas Agrela
Por Lucas Agrela
Atualização:

O Grupo Muffato comprou 16 lojas e 11 postos de combustível do Makro, após meses de conversas entre as empresas. A negociação para a aquisição dos ativos do grupo holandês SHV acontece desde o ano passado e contava com a participação do Santander.

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Com a aquisição, o paranaense Muffato poderá expandir sua atuação no varejo alimentar para a capital paulista e ampliar sua operação no interior do Estado. Os imóveis comprados ficam em São Paulo (Butantã, Interlagos e Lapa), Guarulhos, Marília, Piracicaba, Presidente Prudente, Santo André, São Bernardo do Campo, São José do Rio Preto, São José dos Campos, Sorocaba (norte e sul), Campinas, Mogi das Cruzes e Taubaté. Os oito imóveis excluídos do acordo de aquisição seguem com a operação usual.

“Em um mundo em constante mudança, estamos sempre analisando nossos negócios, em busca de maior eficiência, produtividade e novas oportunidades. Nesse contexto, fomos contatados pelo Grupo Muffato, que identificou imóveis e ativos extremamente valiosos para o desenvolvimento de seu próprio negócio de varejo no país, e fez uma oferta por tais imóveis e ativos. Assim, o Makro Brasil decidiu seguir com a venda desses imóveis e ativos”, disse, em nota, Antero Filippo, CEO do Makro Brasil.

20/09/2018 FACHADA SUPER MUFFATO PARANA CREDITO MUFFATO Foto: Divulgação/Muffato

“Com esta aquisição, avançamos em direção ao maior mercado consumidor do país e reiteramos nossa confiança no Brasil. A oportunidade de atuar em novos mercados traz uma grande motivação a todo nosso time”, diz Ederson Muffato, diretor do Grupo. O acordo está sujeito à aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O valor da aquisição não foi revelado.

O Grupo Muffato havia desistido da compra dos ativos do Makro. Segundo apurou o Estadão, a varejista recuou porque encontrou contingências acima do esperado, especialmente ligadas a passivos trabalhistas e a questões fiscais. O valor proposto pelo Makro era de R$ 2 bilhões. “O negócio não avançou por incompatibilidade de interesses, houve desalinhamentos de ambos os lados”, disse Ederson Muffato, em novembro.

A venda dos ativos do Makro acontece em um contexto de mercado em que as empresas de varejo têm margens pressionadas pela inflação e pela taxa de juros, ainda que o segmento de venda de alimentos e produtos de necessidade básica seja menos afetado. O cenário econômico favorece, desde 2020, o modelo chamado atacarejo, que vende mercadorias ao consumidor com preços de atacado. Porém, o Makro não surfou tão bem nessa onda quanto os concorrentes.

“O Makro foi precursor nesse modelo de vendas no Brasil, que ganha força em ambientes recessivos, como aconteceu no auge da pandemia. Ao decorrer dos anos, players mais fortes e capitalizados surgiram e pressionaram o Makro com a abertura de lojas e estruturas de custos mais eficientes. Além disso, o Makro teve uma crise de identidade ao longo da história. Já focou em membros, depois em CNPJs, e então em nichos de negócios específicos”, diz Eduardo Yamashita, diretor de operações na Gouvêa Consulting. O Grupo SHV, vale lembrar, já saiu do negócio de varejo em outros países.

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Yamashita afirma ainda que negócios de varejo alimentar passaram por uma fase positiva entre 2020 e 2022 e conseguiram engordar o caixa, que pode ser eventualmente utilizado em movimentos de expansão, como as aquisições ou a abertura de novas lojas. O especialista diz também que o SHV deve continuar a tentar vender os ativos remanescentes no País.

Muffato

Fundada em 1974, em Cascavel, no oeste do Paraná, o Grupo Muffato está hoje em sexto lugar entre as maiores redes do setor, com cerca de 90 lojas, considerando a marca de varejo Super Muffato e o atacarejo Max Atacadista. Presente em 31 cidades do Paraná e no interior de São Paulo, a companhia hoje emprega 19 mil pessoas. Em 2021, o negócio chegou a um faturamento de R$ 10,6 bilhões, crescimento de 17% em relação ao ano anterior. Em 2022, a empresa deve fechar as contas com crescimento de 10%.

Além de aquisições, a abertura de capital na Bolsa, como fez o Grupo Mateus, do Maranhão, está no radar da empresa para expandir a operação no País, mas não no curto prazo. Apesar do assédio de bancos e corretoras, o IPO só será feito quando a empresa entender que existe uma oportunidade de expansão dos negócios além do que consegue fazer com a geração de caixa atual.

Em novembro do ano passado, o Muffato criou sua primeira loja autônoma em Curitiba, que tem pagamento automático na saída, aos moldes das lojas Amazon Go, da gigante do varejo americano.

Início como armazém de secos e molhados

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O Muffato é uma empresa familiar, hoje gerida pelos filhos do fundador Tito Muffato, que criou o negócio junto ao irmão, Pedro, e ao cunhado, Hermínio. Tudo começou com um um pequeno armazém de secos e molhados em Cascavel. As mercadorias eram compradas em São Paulo ou adquiridas por meio de representantes regionais de indústrias. Nessa época, os cereais eram vendidos a granel e pesados na hora.

O negócio teve um ponto de virada a partir do fim dos anos 1970 com a construção da Usina de Itaipu, em Foz do Iguaçu, quando a Muffato inaugurou uma loja na cidade. A rede se desenvolveu na década seguinte na região Sul do País, um movimento que durou até metade dos anos 1990.

Em 13 de março de 1996, tudo mudou na gestão dos negócios. Tito Muffato embarcou em uma viagem no avião da família rumo ao Pantanal, onde se dedicaria à pesca por alguns dias, seu passatempo predileto. Nesse dia, o tempo estava ruim e o piloto tentou fazer um pouso de emergência em Foz do Iguaçu. Porém, a aeronave caiu e não deixou sobreviventes.

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A esposa Reni e os três filhos Ederson, Everton e Eduardo, que tinham, respectivamente, 18, 16 e 14 anos, precisaram assumir a gestão das oito lojas e dos então 1,5 mil colaboradores. Hoje à frente dos negócios da família, os filhos de Tito foram os responsáveis pela expansão para o interior de São Paulo, em 2002. Nenhum dos três substituiu a posição do pai, optando por uma gestão conjunta dos negócios.

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