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Startups levam as viagens de ônibus para a internet e crescem oferecendo passagens mais baratas

Transporte rodoviário de passageiros movimenta aproximadamente R$ 20 bilhões por ano no Brasil; setor atraiu a atenção de companhias de tecnologia, que têm conseguido reduzir preços ao consumidor em até 40%

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Por Cleide Silva
Atualização:

O mercado de venda online de passagens rodoviárias e urbanas tem atraído empresas de aplicativos brasileiras e internacionais com diferentes propostas de atuação e preços atrativos. A ideia é disputar passageiros das empresas de viação tradicionais e de viagens aéreas.

O transporte interestadual e intermunicipal movimenta em média R$ 20 bilhões por ano, segundo a FlixBus, empresa alemã de vendas online de passagens rodoviárias considerada a maior do mundo, fora a China. O grupo iniciou operações no País em dezembro e já é um dos líderes no ramo.

Startups conseguem reduzir preços de passagens em até 40%, dependendo do trecho e do momento da viagem Foto: Daniel Teixeira/Estadão

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As empresas não operam com frotas próprias, apenas fazem a intermediação entre passageiros e grupos de viação tradicionais, que normalmente vendiam passagens em guichês ou por sites, mas com necessidade de retirada do tíquete na rodoviária.

O movimento de digitalização se intensificou nos últimos cinco anos, com a chegada da Buser, que opera ônibus de fretamento. Essa aceleração também está ligada à novas normas da Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) que, a partir de 2019, passou a liberar autorizações para novas empresas atuarem nas viagens interestaduais.

As “entrantes”, como são chamadas, representam atualmente 14% das viagens entre Estados e oferecem passagens que, dependendo da data e do percurso, chegam a ser em média 30% a 40% abaixo dos valores cobrados pelas companhias tradicionais. Em relação a viagens aéreas a diferença pode passar de 90%.

Grupos tradicionais de grande porte começaram a também criar divisões para vendas no mesmo formato e algumas optaram por recorrer à Justiça contra as empre4sas novatas e até mesmo contra a ANTT pela liberação de novas operadoras.

Participação em alta

Fernando Santos, diretor comercial da DeÔnibus (antiga Brasil By Bus), afirma que 12% dos viajantes utilizavam os canais online para aquisição de passagens antes da pandemia. “Essa participação agora está em cerca de 20% e deve alcançar 50% até 2025″, prevê.

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Com veículos mais modernos - equipados com wifi, tomadas nas poltronas e bancos-leito -, preços atraentes e facilidade de compra, “muitas pessoas estão redescobrindo o ônibus”, avalia Thiago Chieppe Juffo, diretor comercial da Águia Branca. A empresa criou seu próprio braço de vendas online, a Águia Flix, em 2020.

Levantamento feito em 2021 pela CheckMyBus, plataforma de pesquisa de passagens de ônibus que atua em 80 países, mostrou que, no Brasil, as viagens rodoviárias estavam até 60% mais baratas em relação ao período pré-pandemia.

Não há número oficial do tamanho desse mercado. Mas, somando o dado nacional da ANTT de viagens interestaduais, o das empresas de fretados e o da Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp) para viagens intermunicipais, cerca de 65 milhões de pessoas viajaram de ônibus em 2021. Incluindo outros Estados, a conta passaria de 100 milhões, calculam fontes do setor. No modal aéreo, foram 62,6 milhões de passageiros em 2021, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Transporte público por demanda

Com um mercado atraente, a mais recente empresa a vendas on demand a chegar ao País é a Swvl (pronuncia-se Suível), empresa egípcia com atuação na Europa, África, Ásia, Oriente Médio e América Latina. O grupo vai lançar em setembro o CityBus 3.0, serviço de ônibus urbano por demanda em Goiânia. O projeto tem parceria com um consórcio de empresas de transporte da cidade. A frota inicial terá 65 vans com capacidade para 14 passageiros que vão atuar integradas ao sistema público de transporte.

Aliseda, da Swvl, na Lat.Bus, feira de ônibus realizada em São Paulo na semana passada Foto: Daniel Teixeira/Estadão - 09/08/2022

”Vamos ser mais do que um marketplace de passagens pois vamos fornecer tecnologia, atuar na definição e criação de novas rotas, na fidelização de clientes, entre outros serviços”, diz Leandro Aliseda, diretor da Swvl na América Latina.

A partir de 2023, a empresa vai atuar também no segmento rodoviário e avalia levar o projeto de ônibus por demanda para cidades interioranas onde não há concessões para o transporte público.

Mercado lucrativo

A alemã FlixBus tem parceria com a Viação Adamantina para operar no trecho entre São Paulo-Belo Horizonte e São Paulo-Rio, rota mais disputado no País e da qual detém cerca de 15% das viagens diárias.

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Por causa de uma liminar obtida pela viação Gontijo na semana passada, a empresa de marketplace de passagens teve de suspender as viagens das duas rotas a partir de hoje. Edson Lopes, diretor geral da FlixBus no Brasil, questiona a decisão pois a rota Rio-São Paulo, por exemplo, não é atendida pela Gontijo.

“Ficamos dois anos estudando para entrar no Brasil totalmente de acordo com a legislação existente e cumprimos 100% das normas junto com a nossa parceira, a Expresso Adamantina”, diz o executivo.

A FlixBus também opera ônibus da Adamantina na linha Campinas-Rio e, recentemente, entrou nos eixos São Paulo-Goiânia e Goiânia-Brasília em parceria com a viação Satélite Norte. Nos próximos meses vai anunciar rotas no Sul e Nordeste.

Ônibus com slogan da FlixBus, maior grupo de venda de passagens na Europa e com filial no Brasil  Foto: Carlo Allegri/Reuters - 02/06/2021

Turismo verde

Outra startup europeia, a Gipsyy, iniciou operações locais em fevereiro de 2021 e explica que trabalha com um modelo de compra e venda de assentos ociosos de ônibus.

Um diferencial é atuar com o turismo verde. O grupo informa que repete no Brasil o que faz em todos os países onde atua: reverte parte do valor pago em contratos com empresas parceiras em ações ambientais.

A empresa triplicou sua receita no primeiro semestre deste ano ante o último semestre de 2021 e tem parceria com 20 empresas. Atua em destinos do Centro-Oeste, como Brasília e Goiânia, e está ampliando serviços para outras regiões.

Sua proposta é a digitalização do transporte rodoviário, aliando tecnologia, qualidade, segurança e preços acessíveis. “Miramos um público mais jovem, nativos do digital, que buscam experiências de marca que entregam qualidade e preço”, afirma.

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‘Rodoviárias’ próprias

No mercado há cinco anos, a Buser opera principalmente com empresas de ônibus de fretamento e hoje vende em média 30 mil passagens por dia, número que chega a 50 mil em feriados e períodos de férias, de acordo o presidente e um dos fundadores da empresa, Marcelo Abritta.

A empresa enfrenta ações na Justiça por parte de viações tradicionais que alegam descumprimento da norma da ANTT que estabelece que o fretado tem de ir e voltar com os mesmos passageiros, o chamado circuito fechado.

A Buser tem 300 parceiros entre fretadores e viações, que dispõem de 800 a 1,2 mil ônibus para suas operações, dos quais 130 são de cor rosa choque e tem seu slogam. “Nós pagamos o custo para as empresas que querem fazer o plotamento (ou envelopamento)”, diz Abritta.

Abritta, um dos fundadores da Buser, está abrindo o que chama de 'Buserviárias', com infraestrutura para embarque e desembarque de passageiros Foto: Washington Alves/Light Press/Estadão - 11/07/2018

O grupo tem quatro ônibus próprios que aluga para seus parceiros e, se o negócio der certo, vai ampliar esse novo negócio. Também está instalando em algumas metrópoles as “Buserviárias”, espécie de minirodoviárias com infraestrutura como banheiro e locais de espera.

Retomada acelerada

A Águia Flex, braço de vendas on line da Águia Branca, responde por 5% a 10% das vendas de passagens do grupo, ou seja, cerca de 500 mil a 1 milhão de viajantes por ano. Segundo Juffo, a partir de abril houve uma retomada acelerada pelo transporte rodoviário, movimento que vem se mantendo.

“Pelo menos 80% do público que comprou passagens nesse período não era nosso cliente anteriormente”, diz o executivo. A Águia Branca também tem outros canais online e, ao todo, cerca de 10 milhões de clientes, informa ele.

Vendas pelo WhatsApp

Outra grande empresa de transporte rodoviário, a JCA, criou sua divisão de vendas online há dois anos. Desde então, comercializou 1 milhão de passagens pela plataforma batizada de Wemobi. “No primeiro semestre, nossa receita líquida aumentou dez vezes em relação a 2021″, informa Rodrigo Trevizan, CEO da Wemobi.

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A operação enxuta e digital permite a oferta de preços competitivos e de um serviço que atende o novo perfil de turistas e de viajantes, que buscam meios de locomoção acessíveis.”

Rodrigo Trevizan, CEO da WeMobi

Recentemente o grupo criou um canal de vendas diretas pelo WhatsApp. A Wemobi oferece passagens das empresas da JCA – Cometa, Catarinense, 1001 e Planalto Transportes. A empresa projeta quintuplicar o faturamento de 2021, de R$ 16 milhões.

Com oferta de 4,8 mil destinos no Brasil e parcerias com 200 viações, a ClickBus vendeu, desde sua criação, em 2013, mais de 33 milhões de passagens rodoviárias. No primeiro trimestre do ano, a empresa informa que apresentou crescimento de quase 120% em relação ao mesmo período de 2021.

No site da Click Bus, a passagem de ida e volta de São Paulo a Curitiba em ônibus semileito para o feriado prolongado de 15 de novembro é oferecida a R$ 165. No aéreo sai por R$ 2 mil, segundo a melhor opção do Google Flights. De São Paulo para Belo Horizonte, o rodoviário custa R$ 365 e o aéreo, R$ 1,7 mil.

Atuando como agência de turismo online, a Quero Passagem, fundada em 2013, também oferece serviços de busca e compra de passagens para todo o Brasil via e-commerce e aplicativo. De janeiro a julho, o número de passagens vendidas cresceu cinco vezes em comparação com o mesmo período do ano passado, chegando a 1 milhão de bilhetes, segundo seu presidente, Lukasz Gieranczyk.

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