PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES

O rei dólar e o real

Próximo governo terá de restaurar a solvência fiscal e elevar o crescimento e a produtividade

Foto do author Paulo Leme
Por Paulo Leme
Atualização:

O mundo vive momentos de incerteza e preocupação. Os governos das economias desenvolvidas exageraram no tamanho dos estímulos fiscais e monetários para evitar uma recessão em 2020 e erraram por não retirá-los em 2021, quando a economia mundial bombava.

PUBLICIDADE

Em 2022, a conjuntura se agravou com os choques de oferta da guerra e lockdowns, o que aumentou a inflação e reduziu o crescimento do PIB. Quando os bancos centrais acordaram, já haviam perdido o controle sobre a inflação.

A partir do segundo semestre, os bancos centrais aceleraram as altas das taxas de juros e redução dos seus balanços. Isso foi implementado com pouca coordenação entre os BCs e sem o apoio de medidas para estimular a oferta agregada. Enquanto a maioria dos países aumentou as taxas entre 0,5% e 0,75%, o Japão manteve juros negativos e a Turquia cortou os juros!

Nos últimos 12 meses, dólar se valorizou 20% frente diversas moedas, como libra, euro, iene e real Foto: DIVULGAÇÃO

A falta de coordenação e o risco de recessão derrubaram mercados de renda fixa e Bolsas globais. O investidor não tem onde se esconder: no que vai do ano, os índices de referência das Bolsas e dos mercados de renda fixa globais caíram 25% e 20%, respectivamente.

A outra anomalia financeira é que, nos últimos 12 meses, o dólar se apreciou 20% (índice DXY). Ninguém escapou: o iene, o euro, a libra esterlina, franco suíço despencaram contra dólar.

Publicidade

Dólar forte e volatilidade no mercado de câmbio são riscos importantes para a estabilidade do sistema financeiro e funcionalidade geopolítica global. Invisíveis para os leigos, derivativos e swaps de juros e câmbio oferecem risco sistêmico importante, porque o seu estoque é dez vezes maior do que todos os ativos do sistema financeiro americano.

O legado monetário, externo e cambial do BC brasileiro entregará o País em boas condições para o próximo governo

Movimentos extremos nas paridades cambiais e de juros podem causar chamadas de margem e, eventualmente, descumprimento de obrigações contratuais. E, no limite, o colapso de intermediários financeiros.

Neste contexto, a nossa moeda se destacou, porque em 2022 o real se apreciou 5,9% ante o dólar porque: (a) os diferenciais das taxas juros nominais e reais subiram 8,75 e 5,3 pontos porcentuais a favor do real; (b) o Brasil se beneficiou de uma melhora dos seus termos de troca (commodities); e (c) descontando a inflação, a base monetária teve uma contração de 11% em termos reais.

O legado monetário, externo e cambial do BC brasileiro entregará o País em boas condições para o próximo governo, que terá de restaurar a solvência fiscal e implementar reformas que aumentem a produtividade, o crescimento e o emprego.

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.