PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Doutor em Economia

Qual o custo dos ‘nepo babies’ para a política e para a economia?

Luiza Brunet e a filha, Yasmin, desfilaram em escolas de samba grandes neste carnaval; os ‘bebês do nepotismo’ fazem mal para a sociedade?

Foto do author Pedro Fernando Nery
Por Pedro Fernando Nery
Atualização:

Obrigado por abrir o noticiário de Economia na terça de carnaval – ainda que tenha vindo pela chamada. Luiza Brunet voltou a desfilar pela Portela na última noite, por ocasião do centenário da escola. No domingo, foi a vez de sua filha, Yasmin Brunet, que estreou como musa da atual campeã – Grande Rio. Internautas consideram Yasmin um exemplo de nepo baby. Os “bebês do nepotismo” fazem mal para a sociedade? Sempre?

PUBLICIDADE

A expressão nepo baby tem sido usada para celebridades parentes de celebridades, importando uma crítica dos EUA. Denuncia as supostas vantagens de quem ocupa um posto de destaque que seria decorrente não de dedicação e vocação, mas dos relacionamentos de seus pais – profissionais estabelecidos no mesmo meio.

É o que na política se chamava de “filhotismo”, mas vamos usar o termo da moda. Qual o custo dos nepo babies? A sociedade perde quando colocações são feitas por indicação de familiares poderosos?

Filha de Luiza Brunet (foto), Yasmin, desfila em escola de samba por influência da mãe? Foto: Miguel Sá/Divulgação

Por exemplo, alguém pode alegar que Brunet, a filha, tira oportunidade de uma moça da comunidade brilhar, privando ainda os espectadores da alegria de um samba no pé mais autêntico. Respectivamente, no economês, um problema de desigualdade e de produtividade é criado com cada nepo baby.

Nessa ótica, um arranjo que pretere os talentosos e prioriza os bem conectados. Seriam como herdeiros, mas de capital social. Para além de nossa alegoria, podemos pensar no impacto para a economia da promoção a gerente da sobrinha do CEO, ou da nomeação como secretário do parente do influente intelectual.

Publicidade

Levantamentos em outros países mostram que trabalhar na mesma empresa dos pais não é incomum; está associado a uma remuneração maior; e acontece mais com os mais ricos. Mas há como dizer que Fernanda, a Torres, é menos brilhante por ser filha da Montenegro?

E se os sentenciados como nepo babies não forem frutos do privilégio, mas da especialização? O pai/mãe pode ser uma referência para a escolha de carreira, passando ainda suas habilidades com interações cotidianas.

Há famílias destacadas em áreas competitivas cujo desempenho pode ser bem aferido – descartando a importância dos contatos. Seguiram o caminho dos pais estrelas como Stephen Curry, cestinha da NBA, e o treinador José Mourinho, várias vezes campeão europeu. Existem ainda famílias que concentram acadêmicos produtivos de diferentes áreas e chegam a colecionar prêmios Nobel.

Seriam exemplos de “transmissão intergeracional de capital humano” – o jargão técnico que pode absolver os nepo babies.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.