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Doutor em Economia

Quase 3 milhões de brasileiros sumiram do mercado de trabalho. Onde eles estão?

Conclusões antigas de que o Bolsa Família não afetava a oferta de trabalho podem não se manter mais

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Por Pedro Fernando Nery

Sumiram quase 3 milhões de pessoas do mercado de trabalho. Algo acontece com a taxa de participação. Depois de cair com o distanciamento social, ela deixou de se recuperar. O número de brasileiros empregados ou procurando emprego (a força de trabalho) estagnou. Parece haver brasileiros que saíram da força de trabalho na pandemia e não voltaram.

A força de trabalho crescia continuamente até a covid: depois de atingir 107 milhões de pessoas, despencou rapidamente. Em poucos meses da pandemia algo como 10 milhões de brasileiros saíram da força de trabalho e, com o retorno das atividades e a vacinação, o número foi se recuperando. Este processo dá sinais de arrefecimento. Em uma conta simples, estariam faltando mais de 2 milhões de pessoas no mercado.

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A taxa de participação é o indicador que relaciona a força de trabalho com a população. Quanto maior, mais pessoas estão trabalhando ou procurando trabalho. A taxa de participação no 4º tri de 2022 ficou menor do que a do 4º tri de 2021. Tirando a pandemia, está no nível mais baixo da série histórica, desde 2012.

A taxa de participação caiu para brancos, negros, homens, mulheres. Pode estar sustentando um desemprego mais baixo – a taxa na virada do ano, de 8%, estaria acima de 10% se os sumidos aparecessem.

Bolsa-Família teve aumento nos valores garantidos em 2023 Foto: Agência Senado

O que está acontecendo? Talvez o desânimo com o mercado, mas é intuitivo que a expansão do Auxílio Brasil e a consolidação no Bolsa Família tenham um papel. Vamos nos ater a essa hipótese. À medida que o valor do benefício é bem mais alto do que no passado, conclusões antigas de que ele não afetava a oferta de trabalho podem não se manter mais.

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Não é necessariamente ruim. O PIB perde com menos pessoas trabalhando, mas há casos em que é desejável que o trabalhador fique em casa – como mães com filhos pequenos que não têm boa opção de cuidado. O Bolsa permite que ela cuide adequadamente de uma criança que seria, por exemplo, largada com uma vizinha. Há ainda o fortalecimento do poder de barganha dos trabalhadores, que não precisam mais aceitar qualquer vaga, como as degradantes.

Mas essa seria uma discussão nova no Brasil – lembre que o piso do Bolsa era de só R$ 50 no pré-pandemia. Em breve pode ser que tenhamos de discutir como aumentar a oferta de trabalho pelos beneficiários. Como acabar com as filas do Bolsa para evitar o medo de aceitar um emprego? Como expandir vagas em creches?

Um problema novo pode estar surgindo na nossa economia. Mas ele será um problema melhor do que o anterior.

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