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Quarteto de Lula para economia na transição tem ideias divergentes; ‘complementares’, diz Alckmin

Mantega não está no grupo econômico mas será chamado pela ‘experiência’

Foto do author Adriana Fernandes
Foto do author André Borges
Por Adriana Fernandes e André Borges
Atualização:

BRASÍLIA - André Lara Resende, Persio Arida, Guilherme Mello e Nelson Barbosa formarão o quarteto econômico da equipe de transição do governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Os quatro economistas vão trabalhar conjuntamente no Centro Cultural Banco do Brasil, onde foi instalado o governo de transição em Brasília.

Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), em Brasília, abriga o comitê de transição do novo governo. Foto: Wilton Júnior/Estadão Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

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Ao confirmar os quatro nomes, o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin também confirmou que o ex-ministro da Fazenda nos governos Lula e Dilma Rousseff, Guido Mantega, participará da transição. “Contamos com sua experiência”, disse o vice.

Lara Resende e Persio Arida trabalharam na elaboração do Plano Real. Os dois são próximos a Alckmin, que costurou a entrada deles no grupo de transição.

Na economia, Arida e Lara Resende têm algumas posições divergentes: uma dela se refere à Teoria Monetária Moderna (conhecida pela sigla em inglês MMT), abraçada por Lara Resende. Mas são amigos, se respeitam e podem convergir, dizem interlocutores.

Lara Resende tem reforçado que o equilíbrio fiscal é necessário, mas não a qualquer custo. Na última entrevista dada ao Estadão, ele disse que é preciso superar o “arcabouço analítico anacrônico e equivocado que impõe o equilíbrio fiscal como o único objetivo de política econômica”. Há muito tempo ele estuda a questão ambiental, que sempre foi tratada de forma periférica pelas equipes econômicas dos governos.

Arida também não é um fiscalista radical. Ao Estadão, ele defendeu uma “regra simples” para substituir o teto de gastos. “Acho muito ruim prescindir de qualquer regra de controle de gasto. Há regras boas e ruins, mas não ter nenhuma regra e gerar uma incerteza enorme nos gastos é muito ruim para a economia”, afirmou.

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Com o chamado “grupo de seis”, Arida apresentou, antes do primeiro turno, um documento com propostas em várias áreas para o novo governo. Entre elas está um programa especial de despesas, fora do teto de gastos, de até 1% do Produto Interno Bruto (PIB) – R$ 100 bilhões – para pagar programas sociais e projetos em meio ambiente até que se aprove a nova regra fiscal no lugar do teto de gastos. O que Arida não defende é que essa licença para gastar – chamada de “waiver” no mercado – seja feita para ampliar despesas em políticas não prioritárias.

Barbosa foi ministro da Fazenda e do Planejamento do governo Dilma Rousseff. Guilherme Mello é economista ligado ao PT e um dos principais porta-vozes da campanha de Lula para a área econômica.

Antes das eleições, Mello afirmou ao Estadão que a nova regra tem que compatibilizar sustentabilidade fiscal, recuperação do investimento público e aumento dos gastos sociais.

Eles têm pensamentos diferentes de política econômica – e, em alguns casos opostos –, mas a aposta de Lula ao escolher o quarteto é fazer um equilíbrio de forças de economistas de dentro e fora do partido. Quando os nomes de Lara Resende e Persio Arida na transição foram revelados pelo Estadão, no último sábado, integrantes do partido cobraram uma participação mais equilibrada.

Questionado pelo Estadão se será possível a convergência de propostas, Alckmin respondeu: “Não são visões opostas. São complementares”. “Tem tanta convergência que até o som melhorou”, interrompeu Aloizio Mercadante depois da pergunta, diante do som em volume mais alto do que no início da coletiva.

O arranjo na economia não significa compromisso com cargos no novo governo. O coordenador da transição destacou que eles vão trabalhar nessa fase transitória para elaborar propostas.

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