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O consultor econômico Raul Velloso escreve mensalmente

Opinião|Por que quase ninguém se mexe para arrumar a casa previdenciária?

Ajustar a Previdência de vez para ancorar o fiscal é solução para abrir espaço no orçamento

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Enquanto o governo bate cabeças em torno de medidas do lado da receita para ancorar o fiscal, insisto que o caminho certo para abrir espaço nos orçamentos públicos é o ajuste da despesa, cabendo, ali, tratar do item de maior peso no total, a Previdência. Na União, o peso desse item no total gasto quase triplicou em 3,5 décadas, passando de 19% para 52%, entre 1987 e 2021. Já os déficits atuariais dos regimes próprios, ou seja, o valor presente dos déficits anuais, totaliza hoje 54% do PIB, dos quais 24,5% é a parte da União, 58,4% a dos Estados e 17,1% do total a dos municípios. Um escândalo!

De forma perfeitamente previsível, regimes previdenciários de repartição simples, como na grandessíssima maioria dos nossos, uma hora envelhecem, e, assim, altos déficits não só surgem, como continuam subindo. É inexorável. No começo, por serem novos, poucos se aposentam, enquanto as receitas atingem o pico (ou seja, a maioria só contribui). Os gestores abrem os sorrisos, pois a praxe é gastar o excesso de receita sobre despesa previdenciária nisso e naquilo, menos guardar para a fase de vacas magras.

Reforma da Previdência foi aprovada em 2019, mas manteve o sistema de contribuição Foto: Gabriela Biló / Estadão

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Só que estas uma hora aparecem, pois o envelhecimento convencional turbina o número de aposentados, e a escassez de recursos passa a predominar. De tanto se bater no tema há algum tempo, a Constituição acabou aderindo à obrigação de ajustar, conforme o parágrafo primeiro do artigo nono da Emenda Constitucional 103/2019: “O equilíbrio financeiro e atuarial do regime próprio de previdência social deverá ser comprovado por meio de garantia de equivalência, a valor presente, entre o fluxo das receitas estimadas e das despesas projetadas, apuradas atuarialmente, que, juntamente com os bens, direitos e ativos vinculados, comparados às obrigações assumidas, evidenciem a solvência e a liquidez do plano de benefícios”. Por que é que, em que pese a lei, quase ninguém se mexe para arrumar a casa previdenciária?

Os times do saudoso Bruno Covas/Ricardo Nunes mais o de Wellington Dias/Rafael Fonteles decidiram obedecer à Constituição e, conforme discutiremos no Fórum Nacional amanhã, às 11h (veja Fórum Nacional – Inae no YouTube), vêm tentando arrumar as respectivas casas da Prefeitura de São Paulo e do Estado do Piauí, a ponto de hoje se destacarem dos demais. Com déficits elevadíssimos, ambos entenderam que é preciso reformar regras, aportar ativos a fundos da área e capitalizar as previdências do jeito certo. Dessa forma, conseguirão evitar o que é rotina em muitos: os investimentos em infraestrutura virarem pó.

Opinião por Raul Velloso

Consultor econômico

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