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Ex-ministro da Agricultura e coordenador do Centro de Agronegócios da FGV

Opinião|Questões do presente e do futuro na COP-28 afetarão agro brasileiro

Temos de estar atentos para a impressão de que a transição energética vai demorar mais do que se previa

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Foto do author Roberto Rodrigues

A semana passada começou “fervendo” com as questões do Enem, ponta do iceberg da ideologização à esquerda do ensino brasileiro. Tema estrutural que demanda grande atenção da sociedade civil organizada, especialmente quanto ao Plano Nacional de Educação 2024-2034, em elaboração.

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Mas há pontos outros com os quais se preocupar, como a COP 28 – Conferência das Partes – que se realizará em Dubai de 30 de novembro a 12 de dezembro próximos, que vai tratar de: 1) Sistemas agroalimentares: Pesa o argumento de que a agenda do clima deve incorporar mudanças no modo de produzir alimentos, com políticas de mitigação ou de adaptação do uso da terra; 2) Redução do uso de fósseis na geração de energia. Apesar das expectativas de avanço neste ponto, europeus e americanos continuam investindo em petróleo e térmicas. Além disso, a COP será realizada em um país onde o petróleo é uma das principais fontes da economia…; 3) Adaptação e financiamento. O foco será em políticas de aprimoramento nos processos produtivos, visando elevar a resiliência e a produtividade de sistemas expostos aos efeitos das mudanças climáticas. Discute-se a criação de metas globais de adaptação, em especial na agricultura; 4) na COP 27 em 2022, foi anunciada a ideia de um Fundo de Perdas e Danos para reparar países que já sofrem com as mudanças. O assunto também estará na pauta, mas é difícil prever progressos no mesmo.

O que esperar então da COP 28, evento que reunirá enorme quantidade de lideranças mundiais? Há a expectativa de conclusão do Global Stocktake, que permitiria negociações futuras que garantam a manutenção da temperatura dentro do limite de elevação de 1,5ºC até o final do século.

Também se espera que os países ricos finalmente aportem os US$ 100 bilhões anunciados (e nunca efetivados) para apoio aos países em desenvolvimento; e novos fundos podem ser criados.

Brasil deve ter uma das maiores delegações da COP-28 Foto: Paul Ellis / AFP

O Brasil terá uma das maiores delegações do evento, com ampla participação de lideranças políticas, acadêmicas e da sociedade civil. Nossa mensagem comum entre governo e setor privado enfatizará o compromisso com a proteção da Amazônia e dos recursos naturais, mostrando a inegável matriz energética limpa e a sustentabilidade de nossa produção agropecuária.

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Mas temos de estar atentos para a crescente impressão de que a transição energética (até recentemente o foco central das COPs) vai demorar mais tempo do que se previa. Isso pode empurrar o debate para mudanças do uso da terra, mais rápido e mais barato. Seria um erro e poderia aprofundar a divisão de trabalho entre países ricos e pobres.

Opinião por Roberto Rodrigues

Ex-ministro da Agricultura e professor emérito da Fundação Getúlio Vargas

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