Salta aos olhos que o presidente não está num bom momento. E que tem razões de sobra para estar preocupado. Não lhe bastassem a popularidade em queda e sua crescente apreensão com o desempenho que poderão vir a ter o PT e seus aliados mais próximos nas eleições municipais, Lula da Silva já não tem mais como se iludir quanto ao apoio efetivo com que o governo pode contar no Congresso.
O problema é que, angustiado como está, o presidente vem-se permitindo reações impensadas de todo tipo, com consequências altamente desestabilizadoras, que acabam por agravar ainda mais as razões pelas quais já estava atormentado, dando-lhe motivos redobrados para novas reações irrefletidas. A cada volta desse malfadado círculo vicioso, o quadro se torna mais problemático.
As reações impensadas do presidente não têm ficado restritas à esfera puramente política, como apressar-se a comparecer à comemoração do 1.º de Maio, em Itaquera, perante um público de gatos-pingados, para (ilegalmente) pedir voto para seu candidato a prefeito de São Paulo. Envolvem sobretudo reações com repercussões importantes na esfera econômica.
O presidente voltou a insistir num discurso fiscal irresponsável, a promover relaxamento de metas fiscais e a se dedicar à sua malhação de Judas preferida, com novos ataques ao Banco Central, agora, já a poucos meses da tão aguardada indicação do novo presidente da instituição.
Não chegou a ser uma surpresa que tais desatinos tenham contribuído para a depreciação do câmbio, a exacerbação da percepção de risco fiscal e a consolidação de expectativas mais pessimistas sobre a queda factível de taxas de juros e o crescimento viável da economia. O que deixou o presidente com razões ainda mais sérias para se preocupar. E, claro, mais propenso ainda a novas reações impensadas.
A precariedade do apoio parlamentar do governo é, de longe, o problema estrutural mais sério com que o presidente se defronta. Mas, mesmo que Lula consiga sustar o círculo vicioso em que se meteu e passe a atuar de forma menos desestabilizadora, é difícil que deixe de lado sua resistência a compartilhar o poder e parta para um governo de coalizão de verdade.
O que se teme é que isso dê lugar a uma sucessão interminável de paralisias decisórias, nas quais o governo se veja reiteradamente obrigado a aceitar acordos que lhe sejam desfavoráveis. E, nesse caso, claro, o risco de deterioração adicional do quadro fiscal tenderá a permanecer muito elevado até o fim do atual mandato presidencial. Fácil não será.