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Setor elétrico precisa de mais racionalidade econômica e menos ideologia

Decisões precisam ser baseadas na segurança jurídica e regulatória e em números que mostrem o benefício gerado

colunista convidado
Foto do author Adriano Pires
Por Adriano Pires (Diretor e fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE))

O Brasil passa por um momento de extrema polarização em que a maior parte das vezes a questão ideológica passa por cima da racionalidade econômica, causando enormes prejuízos para toda a sociedade.

No setor de energia temos vários exemplos. O debate em torno da Margem Equatorial, colocando de um lado ambientalistas e do outro aqueles que defendem a exploração do petróleo e gás na região, é um deles. Ao invés de mostrar que não existe nenhuma incompatibilidade entre meio ambiente e exploração de petróleo, acaba colocando um “ou” quando o correto é o “e”. Ou seja, dá para ter uma política de preservação do meio ambiente e explorar petróleo e gás. Ao se privilegiar a racionalidade econômica e social e não deixando prevalecer o xiismo ambientalista, criam-se as condições para usar a receita dos royalties do petróleo para elaborar uma política ambiental robusta para a Amazônia e gerar emprego e renda para a população do Arco Norte, que é a mais pobre do Brasil. Com isso, usaremos o petróleo em benefício do social e do ambiental.

Usinas térmicas geram mais emissões de gases de efeito estufa que as hidrelétricas ou de energias renováveis Foto: Fabio Motta / Estadão

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Um outro exemplo é a polarização entre energias renováveis, em particular, eólica, solar e usinas térmicas. O recente apagão do dia 15 de agosto deveria ter servido como um evento que mostrou a necessidade de não renunciarmos a nenhuma energia e, com sabedoria e planejamento, usarmos os atributos de cada uma delas e das linhas de transmissão para que se evitem novos apagões. Nada é mais importante do que segurança de abastecimento, tanto do ponto de vista econômico e social bem como do político. Apagões e blecautes trazem prejuízos enormes para a economia, desconforto para a sociedade e custo político gigantesco para o governo. Ao olhar essa polarização sob a ótica da racionalidade, veremos que as térmicas e as hidrelétricas têm um papel fundamental de complementaridade com as renováveis ao trazer mais segurança e mais inércia para o sistema. As posições de ambientalistas de demonizar as térmicas a gás e a carvão pelo fato de emitirem CO2 não leva em conta os avanços tecnológicos de processos de descarbonização como o CCUS, de captura de carbono. Não há como fazer transição energética sem a presença dos combustíveis fósseis. Quando reduzimos a oferta de energia comprometemos o crescimento econômico e criamos inflação.

Não é nosso objetivo entrar na crítica à preferência do atual governo ao modelo de uma maior participação do Estado na economia. O que estamos chamando à atenção é que as decisões precisam ser tomadas baseadas na racionalidade econômica, na segurança jurídica e regulatória que envolve respeito aos contratos assinados, nas leis sancionadas em governos anteriores e em investimentos em que os números mostrem o benefício que será gerado para a sociedade. Mais racionalidade econômica e menos paraíso ideológico. É disso que o Brasil está precisando com urgência.

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