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De estagiário a CEO: as histórias de executivos que saíram de baixo e alcançaram o topo

Desenvolvimento contínuo e plano de carreira bem estabelecido permitiram crescimento dos profissionais na hierarquia corporativa

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Por Bruna Klingspiegel
Atualização:

Chegar a uma posição de liderança não é para qualquer um. Você pode ser ótimo no que faz, mas isso não é o suficiente para ter o crescimento vertical como condutor da carreira. Para alcançar o topo, seja como diretor, sócio ou CEO de uma mesma companhia, é preciso disciplina, bons relacionamentos e apoio da liderança. Essa é uma das fórmulas de executivos que decidiram trilhar carreira dentro de uma única empresa, começando como estagiário e passando por várias etapas corporativas.

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Em tempos de grande rotatividade e imediatismo no mercado de trabalho, persistir numa trajetória de longo prazo exige dedicação e planejamento. Mas, muitas vezes, o caminho segue rumos inesperados. Um dos casos mais recentes dessa ascensão é o novo CEO da Gol, Celso Ferrer, que substituiu Paulo Kakinoff no comando da companhia aérea.

O executivo, de 39 anos, sempre sonhou em ser piloto de avião. Como esse é um processo caro e demorado, decidiu começar a estudar economia e conseguiu um estágio na Gol, na área de Revenue Management, setor que atende a demanda do mercado aéreo, alinhando preços, canais e investimentos. Efetivado, Ferrer continuou na companhia, subindo de cargo em cargo, ao longo de 17 anos.

O piloto e CEO da Gol segue voando pela companhia até hoje. Segundo ele, isso ajuda estar aberto a sugestões e críticas dos clientes. Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Dentro da empresa, ele ainda conseguiu realizar o sonho de se tornar piloto. Por três anos, abandonou as funções executivas e atuou como co-piloto. Em 2019, ele recebeu um convite para voltar numa posição executiva, na área de frota. Aceitou, mas com a condição de que continuaria voando com a companhia - e continua assim até hoje, como CEO.

“Seguir voando como piloto também me ajuda a ser um bom executivo, já que nunca deixo de sentir o que de verdade é uma companhia aérea, além de poder olhar no olho do cliente, sendo também ouvinte para suas sugestões e críticas”, conta.

Na aviação, o conhecimento superficial não ajuda, explica Ferrer. É uma atividade que pressupõe um mergulho profundo, especialmente nos temas operacionais e de negócio. Subir os degraus da escada corporativa em uma única empresa permite um conhecimento holístico dos processos e uma visão clara dos propósitos da companhia.

“É preciso ter esse olhar de longo prazo como guia. Esse dinamismo da aviação nos traz desafios diários e, para conseguir superá-los, é preciso ter persistência, paixão e dedicação”, diz o CEO, que está a frente da companhia desde julho de 2022.

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Enquanto os profissionais trilham seu caminho, as empresas têm o papel de apoiar a progressão de carreira dos funcionários desde a base, evitando a perda de talentos. O Brasil tem hoje a maior taxa de rotatividade de funcionários do mundo, e isso custa caro para as empresas. Numa análise feita pela Robert Half, em 2022, 56% dos executivos C-level no País perceberam aumento do turnover (rotatividade) em relação ao período pré-pandemia.

Segundo o diretor-geral da empresa de recrutamento, Fernando Mantovani, o desafio é ter um processo eficiente que monitora, identifica e cuida desses profissionais que podem fazer parte do futuro da liderança da organização.

“As pessoas vão embora por quatro motivos: relação com o líder, qualidade de vida, remuneração e oportunidade de carreira. Trabalhar a retenção olhando para esses pilares é a respostas para resolver quase todos os seus problemas”, explica ele.

Dez cargos

Há 15 anos, Isabella Zakzuk vem trilhando sua carreira na multinacional americana P&G. Hoje vice-presidente para América Latina em Inovação e Comunicação do portfólio de cuidados com o cabelo, ela entrou na companhia em 2007 como estagiária de marketing. De lá para cá, atuou em diversas frentes da companhia.

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Nesse tempo, passou por dez cargos, em diferentes unidades de negócio, até chegar a vice-presidência em março de 2023. Para ela, o diferencial foi um plano bem estruturado de carreira e de desenvolvimento desde o programa de estágio. “Essa é a mágica. Fazer com que a gente esteja desde o primeiro dia até hoje sendo aprendizes e vivendo experiências diferentes na mesma companhia”, conta.

No JP Morgan desde o estágio, Raquel Smynniuk é head de pagamento e benefícios desde 2018. Seja em sua experiência pessoal ou observando os novos estagiários que entram no banco, além dos benefícios e de um plano de carreira bem estabelecido, para que as pessoas fiquem na empresa, ela acredita que os profissionais precisam se sentir valorizados e parte da companhia.

Os grupos de afinidade também contribuem nesse processo, ao se tornarem centros de apoio. “Quando você tem de abrir mão de quem você é ou dos seus valores, não importa o salário que você ganha, o custo é muito alto para se pagar, então as pessoas vão procurar outras oportunidades, outros lugares”, afirma.

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Disciplina em diferentes setores

A trajetória de um advogado, da base ao topo, é tradicionalmente bem estabelecida. Após o estágio e com a OAB em mãos, o profissional se torna um advogado júnior, pleno, sênior e, por fim, pode ser convidado para ser sócio do escritório. Este é o caso de Felipe Omori, sócio do KLA Advogados.

Há mais de 15 anos na empresa, o advogado passou por todas essas posições e foi conquistando espaço, pouco a pouco. O início, como estagiário, permitiu que Omori desenvolvesse um olhar mais atento e conhecimento amplo dos processos internos. Ele também destaca a importância da disciplina, da organização e da proatividade em sua trajetória profissional.

“Quando você está começando você ainda não tem toda essa visibilidade de onde vai chegar. Você está mais preocupado em fazer o seu trabalho, porque percebe que não sabe nada do direito e que precisa aprender rapidamente”, diz.

O advogado afirma que a sua disciplina, organização e proatividade o destacaram em sua trajetória profissional. Foto: WERTHER SANTANA

Reconhecer e explorar os pontos de melhoria são algumas das principais competências para se manter competitivo no mercado de trabalho. Com Felipe Omori não foi diferente. Ele conta que a virada de chave da sua carreira foi logo após uma reestruturação do escritório, quando recebeu a primeira oportunidade para coordenar uma equipe inteira.

A necessidade de desenvolver suas competências gerenciais fez com que ele buscasse um curso, que preparava advogados para o mundo digital e de inteligência emocional. Essas ferramentas adicionais ajudaram na criação de sua imagem perante os superiores e também respaldou seu trabalho em relação a quem estava sendo gerido por ele. Quatro anos depois da sua primeira experiência como gestor, ele recebeu o convite para se tornar sócio. “Não é só passar uma imagem (boa) para quem está acima, mas saber se quem está abaixo está infeliz.”, conta.

Isabella Zakzuk destaca que ao ocupar novos cargos na empresa, ela buscava tirar o máximo de cada oportunidade que surgia. A vice-presidente da P&G conta que buscar sempre aprender e desenvolver novas habilidades, interagindo com diferentes líderes e participando de programas de mentoria, foi fundamental para seu sucesso na empresa e para que as pessoas conhecessem e reconhecessem seu trabalho.

“É importante se colocar na posição de aprendiz, sendo curioso sobre o que está ao nosso redor ou estando aberto aos feedbacks para se tornar a melhor versão de si”, comenta ela.

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Isso também significa respeitar o tempo das coisas, explica Fernando Mantovani, da Robert Half. Para ele, o ser humano é cada vez mais imediatista, o que pode resultar em um atropelamento das etapas importantes do desenvolvimento dos profissionais. “Uma empresa é uma pirâmide, então quanto mais no topo maior a escassez. A progressão não acontece da noite para o dia. São 10, 15 anos tendo projetos, funções e desafios diferentes até chegar ao topo.”

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