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Vale cancela reajuste de 12% já acertado com Japão e Coréia

Mineradora negocia com usinas asiáticas restituição do que foi pago a mais desde setembro

Por Irany Tereza
Atualização:

Atropelada pela crise financeira global, a Vale se viu obrigada a adequar sua estratégia de preços ao novo cenário mundial. Além de desistir do reajuste adicional no preço do minério negociado com siderúrgicas chinesas, a mineradora concordou em retirar o acréscimo de 12% já aceito por japoneses e coreanos. "A retirada do reajuste adicional vale para toda a Ásia", confirmou à Agência Estado o diretor executivo de Ferrosos da Vale, José Carlos Martins. O executivo não revelou quantos acordos já haviam sido fechados, mas informou que "praticamente todas as siderúrgicas asiáticas, à exceção de algumas chinesas" tinham concordado com o adicional, que entrou em vigor em 1º de setembro. Entre as que não concordaram está a Baosteel, principal siderúrgica chinesa, que atua como uma espécie de fiel da balança na queda-de-braço em negociações com mineradoras. A forma de acertar a retirada do adicional já pago por algumas siderúrgicas está sendo fixada caso a caso - em negociações contratuais de volumes e preços -, e Martins também não informa o impacto econômico da decisão. "Assim como não comentamos quanto significava o aumento, também preferimos não falar sobre o que representará a retirada dele." Em abril, a Vale fechou com seus clientes aumentos entre 65% e 71% no preço do minério, dependendo da qualidade do produto. Três meses depois, suas rivais australianas, sob o argumento de estarem mais próximos do mercado asiático, o que reduz custos com frete, conseguiram reajustes em torno de 100%. A Vale iniciou então uma acirrada campanha por equiparação de preços, enfrentando resistências para impor um adicional. "Quando fecharam com os australianos, os chineses não tinham a menor idéia de como estaria o mercado dois meses depois. Ninguém tinha. Estamos passando pelo período mais grave da crise e a produção chinesa caiu bastante", diz Martins. Ele argumenta que os cortes de produção que vêm sendo anunciados por gigantes da mineração - a própria Vale, a Alcoa e a Rio Tinto - impedirão um acúmulo excessivo de estoques. Normalmente, diz, os estoques siderúrgicos duram entre 40 e 45 dias. No cenário atual, há estoques para dois meses. O mercado aguarda para breve anúncio de corte também da BHP Billiton, a líder do setor de mineração. Há analistas prevendo o fim do ciclo em que as mineradoras ditaram os preços dos produtos e que levou a uma aceleração das commodities metálicas nos últimos cinco anos. A crise estaria trazendo de volta o ciclo dos compradores, no qual as siderúrgicas teriam cacife maior. O consultor Germano Mendes de Paula, professor da Universidade Federal de Uberlândia, diz que ainda é cedo para esse tipo de previsão. "O cenário ainda é muito nebuloso. A negociação de preços de 2009 tende a ser muito longa. Os preços chegaram a patamares não sustentáveis, em alguns casos superiores aos custos de produção, e o cenário atual ainda é predominantemente vermelho", diz. E cita como exemplo do caos em que se encontra o mercado a queda de preço do vergalhão, que passou de US$ 1.255 a tonelada em junho para US$ 450 esta semana. "Hoje o mundo está diferente: era totalmente comprador e hoje é totalmente vendedor", afirma. Martins não acredita que a crise vai marcar o fim de um ciclo para o minério. "Vamos ter um interregno, mas a capacidade siderúrgica ainda continua superior à produção de minério. É difícil precisar quando, mas em algum momento haverá uma retomada do crescimento econômico, e a tendência é de normalização", diz ele, apostando em novas fases de alta de preços. Mas arrisca projetar que mineradoras "juniores" podem "não agüentar o tranco" até o fim da crise. As gigantes, como a Vale, se adaptam cortando produção.

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