Antes vista como diferencial, pós-graduação agora é quase que uma necessidade

Conceito de lifelong learning, a chamada educação continuada, tem avançado no Brasil, sobretudo com foco em especializações

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Por Hellen Cerqueira
Atualização:

Para alguns, o conceito de lifelong learning (“aprendizado ao longo da vida”, em tradução livre) é colocado em prática um bom tempo depois do primeiro diploma de graduação. Para outros, como é o caso da redatora publicitária Fernanda Viana, de 22 anos, começa assim que o diploma de bacharel é emitido. “Decidi fazer logo em seguida da graduação, sem pausa. Como cursei Jornalismo e estava atuando com criação de conteúdo em marketing, acreditei que na pós-graduação (lato sensu) eu teria um contato maior com a área de atuação”.

A fala de Fernanda ilustra um cenário importante: se antes a pós-graduação era vista como um grande diferencial, hoje em dia é quase que uma necessidade. “A velocidade de mudança no mercado de trabalho atual é muito alta. Alguém que está acabando agora um curso de pós, quando começou nem imaginava que ia existir algo como o ChatGPT, por exemplo. De fato, não podemos parar de estudar”, afirma David Kallás, coordenador executivo da pós-graduação do Insper.

Insper possui uma pós-graduação flexível, chamada de Master in Business Management (MBM) Foto: Helvio Romero/Estadão

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De acordo com dados do Semesp, o número de cursos de especialização ativos no Brasil chegou a 173 mil em 2021, um aumento de 136% em relação a 2019. A maioria dos cursos ativos é ofertada por instituições de ensino privadas (97%). No recorte só de cursos lato sensu oferecidos a distância (EaD), o crescimento foi de 288%. Na análise sobre áreas de estudo, 86% são disponibilizadas nas áreas de “educação”, “ciências sociais, negócios e direito” e “saúde e bem-estar social”.

No formato stricto sensu, dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) mostram que a oferta de cursos de mestrado e doutorado aumentou 24% de 2013 a 2021. O número de matriculados cresceu 11% em mestrados acadêmicos, 14% em doutorado e 41% nos mestrados profissionais – essa última modalidade alia a pesquisa ao mercado de trabalho.

Só em 2020, primeiro ano da pandemia, esses números sofreram uma leve queda. “Já em 2021, observamos uma tendência de recuperação dos novos ingressos em todos os níveis, e a expectativa é de que, em 2022 (os dados ainda não foram publicados), essa recuperação seja completa”, avalia Mercedes Bustamante, presidente da Capes.

Como escolher a pós-graduação certa?

Diversos fatores influenciam na escolha da pós-graduação. No caso da Fernanda, a rotina atribulada e a necessidade de um aprendizado pontual foi o que a motivou a escolher uma pós lato-sensu no formato a distância na PUC-Minas. “Minha demanda de trabalho era muito alta. Então, acredito que a especialização foi uma oportunidade de avançar na área, sem que isso exigisse tanto do meu tempo. Mas ainda pretendo fazer mestrado e, quem sabe, doutorado”.

É importante ter em mente que os objetivos profissionais de um aluno que escolhe fazer uma pós-graduação stricto sensu são diferentes daquele que busca o modelo lato sensu. “A formação em nível de pós-graduação stricto sensu é uma etapa central da formação acadêmica que permite ao discente não somente o aprofundamento em sua área específica de estudo, mas também o treinamento em metodologia científicas, ferramentas analíticas e o contato com novas estruturas teóricas e de pensamento”, diferencia Bustamante.

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Se o foco é nas vivências de mercado, uma boa opção são os cursos de especialização ou Master Business Administration (MBA). O Insper também oferece uma opção de pós-graduação flexível, chamada de Master in Business Management (MBM). “São mais modularizados. É possível que o aluno vá aprendendo em pequenos ‘pedaços’, em certificações com menor duração. Aí, caso ele queira fazer o curso completo, ele recebe o diploma de MBA”, explica Kallás.

Esses novos formatos mostram a preocupação das instituições de ensino em se adequarem às novas preferências dos estudantes por cursos que se modulam às rotinas cada vez mais atarefadas. O Senai Cimatec, por exemplo, reposicionou todo o segmento de Pós-graduação Lato Sensu.”Vamos inaugurar em breve um design curricular inovador, com recursos diversificados – que oportunizam aos estudantes escolherem os próprios caminhos de aprendizado –, e experiências de aprendizagem propostas por empresas parceiras do mercado. Tudo isso dentro de um ecossistema tecnológico integrado cujo DNA é a inovação”, afirma Verena de Sousa Alcantara, pró-reitora do Centro Universitário Senai Cimatec.

Verena salienta que, no cenário atual do mundo do trabalho, não é mais possível que uma pessoa resolva toda a sua formação acadêmica e profissional até os 35 ou 40 anos de idade, como era em um passado não muito distante. “Uma das habilidades essenciais do profissional de hoje é justamente aprender a aprender. E esta competência vai ao encontro do conceito do ‘lifelong learning’.”

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