Após estudar fora, ficar para trabalhar

Reputação da instituição conta para decidir onde estudar no exterior, mas cada vez mais estudantes consideram empregabilidade

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Por Ana Carolina Neira
Atualização:
Extensão. Depois de seis meses na Espanha, Lina decidiu terminar o doutorado fora do País Foto: ARQUIVO PESSOAL

É cada vez maior o número de estudantes que veem necessidade de complementar os estudos fora do Brasil, seja com um mestrado ou doutorado. E, caso possam permanecer no país escolhido para trabalhar após o término do curso, a oportunidade é ainda mais tentadora.

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“Fazemos eventos em 70 países e observamos que os estudantes buscam, nos últimos anos, empregabilidade, mais do que apenas reputação acadêmica”, afirma Leonardo Andrade, diretor de marketing da QS Quacquarelli Symonds, responsável pela realização de eventos na área do ensino superior, ajudando quem deseja estudar em outros países. “As pessoas não desejam mais retornar. Elas querem oportunidade de trabalho onde se formam. Procuram ficar, caso a instituição ajude a entrarem no mercado de trabalho.”

Esse interesse é apontado em uma pesquisa realizada pela QS Quacquarelli Symonds, com 7.153 estudantes, entre dezembro de 2014 e junho de 2015. Pelo menos 47% dos entrevistados consideram que a oportunidade de conseguir emprego após conclusão do curso no lugar escolhido para estudar é um fator determinante na hora de decidir o destino. Da mesma maneira, não são raros os casos de quem tenta conciliar estudos e trabalho ou decide estender a duração do curso em outro país.

Foi o que ocorreu com a farmacêutica Lina Clara Moreno, de 27 anos. Formada também em Biomedicina, ela embarcou para Pamplona, na Espanha, em 2014. O plano era ficar só seis meses para cursar parte de seu doutorado em Ciências Farmacêuticas, iniciado na Universidade Federal de Pernambuco. Porém, a experiência no Departamento de Farmácia e Tecnologia Farmacêutica da Universidad de Navarra foi tão positiva que a jovem decidiu terminar o curso fora do País, sem data para voltar.

“A maior vantagem de estudar aqui é a facilidade de recursos. Trabalho com camundongos que custam ¤ 360 cada, além de kits para experimentos com valor de ¤ 1 mil, suficientes para três usos. Acredito que no Brasil não teria acesso a isso sempre.”

Para estudar na Espanha, Lina recebeu uma bolsa de estudos de seis meses da Fundação de Amparo a Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe), que incluía passagens, seguro-saúde e um valor para se manter em Pamplona. A decisão de estender a permanência implicava em viver lá fora com a mesma bolsa que recebia como pesquisadora no Brasil, cerca de R$ 2.440. “Decidi fazer parte do doutorado em outro país porque tinha vontade de morar fora, mas não queria um intercâmbio qualquer. Também pensava no crescimento profissional.”

O futuro dela ainda é incerto. Com o término do doutorado neste ano, ela cogita a possibilidade de continuar na Espanha. “Se tiver a mínima oportunidade de fazer um pós-doutorado ou conseguir trabalho, gostaria de ficar. É uma experiência que nos dá outro ponto de vista da profissão. E o crescimento pessoal é ainda maior. Quando me diziam isso, eu não acreditava.”

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Visão global. A capacidade de enxergar diversas situações sob uma perspectiva diferente é uma qualidade valorizada por recrutadores, bem estimulada em quem passa por uma experiência no exterior. Para o diretor de Gente e Gestão da Catho, site de classificados de empregos, Murilo Cavellucci, essa é uma habilidade desenvolvida naturalmente. “Programas fora do país exigem dedicação e investimento. Presume-se que a pessoa que fez um curso do gênero não é acomodada e busca aprimoramento, aprendendo a lidar com cenários complexos.” Cavellucci também vê na interação com outros profissionais uma porta aberta para o mercado de trabalho externo. “Por ser uma experiência multicultural, a ampliação da rede de contatos é intensa. Um curso no exterior é uma boa maneira de conseguir isso e acaba sendo uma porta de entrada para outros mercados.”

No entanto, a pós em outro país não pode ser encarada como a garantia de excelentes oportunidades de trabalho, aqui ou lá fora. Para o gerente da empresa de seleção Page Personnel, Lucas Oggiam, o curso é um investimento pessoal. “Deve ser visto como uma vantagem competitiva no mercado, mas que não garante sucesso, salário ou cargo maior. O risco entre fazer ou não um curso no exterior é inteiramente do profissional.”

A farmacêutica Daisy Paiva, de 29 anos, apostou na Alemanha quando decidiu fazer parte do doutorado em Neurociência na Europa, iniciado na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em São Paulo. “Era meu plano desde o início porque a maioria das pessoas que faz doutorado possui uma experiência no exterior e sabia que isso seria importante para minha formação.”

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Daisy embarcou para Munique em agosto de 2014 e retornou ao Brasil há cinco meses. Ela possui uma Bolsa de Estágio de Pesquisa no Exterior (Bepe) concedida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Nesta modalidade, o candidato escreve um projeto relacionado às suas atividades acadêmicas no Brasil e o laboratório do país de destino decide se ele poderá ser realizado. Entre os planos, ela pensa em trabalhar na Alemanha. “Estou determinada em voltar para procurar emprego lá porque as empresas alemãs valorizam bastante o doutorado e oferecem muitas vagas para pessoas com essa qualificação.”

Da mesma maneira que outros estudantes, Daisy conquistou mais do que oportunidades profissionais. “Ampliei meus horizontes e passei a ver minha própria pesquisa com outros olhos. A experiência cultural foi indescritível porque eu estava em um laboratório com gente do mundo todo e sempre aprendia algo novo.”

Canadá. Celina é consultora sobre vistos para o país Foto: ARQUIVO PESSOAL

Receptividade. Outro destino frequente de estudantes é o Canadá. Para a consultora de imigração Celina Hui, um dos principais motivos que tornam o país tão atrativo para brasileiros é a receptividade. “Imigrar para o Canadá não é um processo simples, mas é um destino com um nível educacional muito bom e que necessita de mão de obra qualificada”, conta a fundadora da Immi Canadá, que oferece serviços de consultoria para vistos e imigração.

Celina cita como exemplo os Estados Unidos, onde a dificuldade em conseguir um visto de trabalho é maior. “No Canadá, é possível até mesmo obter permissão para trabalhar e estudar ao mesmo tempo.”

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DEPOIMENTO: ‘Quero permanecer onde for estudar’

Rafael Moreira Torres, formado em Relações Internacionais pelo Complexo Educacional FMU

“Estou me preparando para fazer pós-graduação no exterior em Assistente de Desenvolvimento de Negócios. Acho necessário cursar um mestrado fora do País porque como profissional de Relações Internacionais eu preciso entender outros cenários e a atual conjuntura do mundo. Preciso conhecer a cultura e a forma de vida de outras pessoas. Minha vontade é ir para China, Índia ou Rússia, levando em consideração o desenvolvimento desses países e a relativa importância que eles vêm adquirindo no cenário internacional. Para isso, estou pesquisando algumas opções de bolsa que poderão me ajudar. Enquanto isso, estou juntando dinheiro tanto para o curso quanto para moradia em outro país, o que fica um pouco mais difícil com o dólar alto. Também tento me informar ao máximo sobre idioma, culturas, formas de ensino, os cursos oferecidos, universidades e maneiras de me adaptar em outros países. E, claro, tenho vontade de permanecer no país onde for estudar porque trabalhar é um dos meus objetivos. Não quero ter apenas a base teórica, mas a possibilidade de aplicá-la na prática. Meu maior foco é a qualificação profissional. Busco crescimento acadêmico, qualidade de currículo e expandir meu conhecimento.” 

ESTUDO NO EXTERIOR

Países Estados Unidos e Reino Unido são os países mais procurados por estudantes de todo o mundo para cursos de pós-graduação. Canadá, Austrália e Alemanha também estão entre os mais cobiçados pelos candidatos.

Instituição Para 63% dos estudantes, a instituição de ensino ser reconhecida é um fator determinante na hora de escolher o país de destino

Cultura  Entre os entrevistados, 52% levam em consideração o estilo de vida e a cultura do país onde desejam estudar

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Informações  Quem tem interesse em fazer uma pós-gradução no exterior pode ficar de olho nos eventos do QS World Grad School Tour, para obter informações sobre possibilidades de bolsa, inscrições e melhores cursos em diversas áreas. Acesse www.topuniversities.com/events.