O governo de São Paulo deve colocar todo o Estado na fase vermelha nesta semana, a mais restritiva do plano de flexibilização, mas com escolas abertas. Nessa etapa, comércio, restaurantes, bares e outros serviços não essenciais não podem funcionar. A decisão final sairá em reunião marcada para a manhã de hoje entre integrantes do governo e o Centro de Contingência da Covid-19. Nas últimas semanas, o Estado tem enfrentado piora da pandemia, com aumento de casos e UTIs lotadas. Nesta terça-feira, 2, foram 468 mortes pela doença no Estado, um dos maiores balanços desde o início da pandemia.
Também nesta terça-feira, o Brasil registrou o mais alto número de óbitos em 24 horas em toda a crise do coronavírus: 1.726. Em reunião entre o governador João Doria (PSDB) e os prefeitos paulistas nesta terça-feira, segundo o Estadão apurou, a maioria dos gestores municipais não sê opôs a endurecer restrições. Muitas cidades têm tomado medidas mais rígidas do que as previstas pelo Plano São Paulo - programa estadual de reabertura econômica -, como Araraquara, que decretou lockdown após ter hospitais lotadas e detectar a variante de Manaus, mais transmissível.
Outros Estados também têm anunciado mais restrições - de toque de recolher noturno a lockdown, como o Distrito Federal. “A situação da pandemia no Brasil é gravíssima. E não é diferente no Estado de São Paulo”, disse Doria, no Twitter. Segundo ele, o total de internados em UTIs no Estado já é 16% maior que no pico da pandemia em julho. A Secretaria da Saúde prevê 11 dias para um colapso do sistema hospitalar se não houver mais medidas restritivas.
O presidente Jair Bolsonaro é forte crítico das medidas e chegou a ameaçar na semana passada que não pagaria auxílio emergencial para quem fechasse o comércio. “Segundo o STF, isso cabe a governadores e prefeitos. Lockdown não é culpa minha: é de governadores e alguns prefeitos”, disse ele nesta terça-feira.
Secretário de Saúde se posicionou pela suspensão das aulas
Em entrevista à rádio CBN, o secretário estadual de Saúde, Jean Gorinchteyn, disse nesta terça-feira ser contra o lockdown, mas que a educação deveria fechar por causa da piora da situação. A declaração causou mal-estar no governo. No fim do dia, ao Estadão, o secretário estadual de Educação, Rossieli Soares, defendeu as escolas abertas mesmo na fase vermelha.
A secretaria estadual de Saúde divulgou nota, assinada por Gorinchteyn, que dizia: “a afirmação dada à CBN sobre as escolas trata de opinião pessoal”. E ainda que até aquele momento não tinha sido debatida com a secretaria da educação.
Segundo o Estadão apurou, a posição de Soares tem apoio de Doria. O Estado pretende manter as escolas estaduais para os alunos menores, mais vulneráveis, com deficiências e dificuldades de aprendizagem. Já as particulares poderiam continuar abertas com 35% de presença. Critérios regionais também podem ter peso na definição.
Decreto estadual, de dezembro, garante abrir a educação em todas as etapas do plano, mas havia dúvida se o Estado criaria nova etapa em que a escola não estaria incluída. Doria incluiu esta semana cerimônias religiosas no rol de serviços essenciais, o que não foi feito com a educação oficialmente. Segundo fontes, a capital deve seguir o Estado e não fechar escolas, mesmo na fase mais restritiva.
Na 2ª onda da covid, Reino Unido, França e Alemanha deixaram escolas abertas no lockdown. Na França, a educação funciona desde janeiro, com bares, restaurantes e comércio fechados. O Reino Unido manteve a escola aberta para crianças vulneráveis e, semana que vem, reabre para todos, mesmo com o resto dos serviços fechados. Soares vai defender que São Paulo adote o modelo britânico.
Nesta segunda-feira, 1, o conselho de secretários de Saúde pediu, em nota, lockdown nos Estados em que a ocupação dos leitos de covid seja maior que 85%, com suspensão de aulas presenciais. Já o conselho de secretário de Educação divulgou texto nesta terça-feira, alertando para os riscos de deixar crianças fora da escola.
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