Escolas da capital paulista poderão abrir as portas para receber alunos em atividades presenciais a partir de quarta-feira, 7. Apesar de a Prefeitura ter autorizado apenas as atividades extracurriculares, como aulas de idiomas, de música e de esportes, o movimento vem sendo acompanhado com atenção: será a primeira vez em sete meses que os estudantes terão contato físico com colegas e professores.
A retomada vai ocorrer de forma gradual, dentro do plano definido pela Prefeitura de São Paulo. Nesta primeira fase, está permitida a volta de apenas 20% dos alunos das redes pública e privada do ensino básico. Os alunos do ensino superior também ficam liberados para reiniciar as aulas regulares.
Na próxima etapa, prevista para ocorrer a partir de 3 de novembro, estaria liberada a volta de aulas regulares no ensino básico. A mesma data foi definida por enquanto para a retomada das aulas no ensino fundamental da rede estadual.
“Uma coisa importante de entender é que esse fechamento prolongado, além de consequências mais diretas de acesso às aulas remotas, gerou problemas à saúde mental, à segurança alimentar e ao convívio social”, avalia Ítalo Dutra, chefe de educação da Unicef no Brasil.
O órgão da ONU para defesa do direito das crianças acaba de lançar um guia com orientações para o retorno do setor. “A eficácia dessa retomada depende do engajamento por parte das famílias e das crianças.”
A adesão a essa retomada depende de cada instituição, que terá autonomia para decidir se abrirá ou não as portas. As famílias também poderão decidir se querem as crianças no colégio. Ou não.
Para ajudar os pais e os responsáveis que optaram pela volta às aulas, o Estadão preparou um guia com dicas que vão desde a higienização do material escolar ao cuidado com questões emocionais das crianças. E também está respondendo aos questionamentos dos leitores em perguntas enviadas pelas redes sociais. Confira abaixo.
Como reintroduzir a atividade escolar na rotina?
Para o pesquisador em neuropsicologia Paulo Sérgio Boggio, do Mackenzie, os pais precisam ouvir os filhos. “Após tanto tempo de quarentena, os complicadores são a capacidade de regulação emocional e o quanto é possível controlar as emoções e o impacto delas nas ações.”
Como explicar a necessidade de distanciamento social sem causar medo?
A palavra-chave é o equilíbrio, aponta Boggio. “Se os pais colocarem uma carga pesada de informações negativas, podem induzir o estresse. Por outro lado, se a informação não chegar da forma correta, aumenta a possibilidade de a criança se infectar”, afirma. “A mensagem tem de ser de acordo com a idade.”
É preciso fazer teste de covid-19 antes da volta?
Não é necessário, diz Fausto Flor Carvalho, chefe do departamento de Saúde Escolar da Sociedade de Pediatria de São Paulo. Ele explica que o teste mais eficiente, o RT-PCR (swab nasal e oral), é caro e agressivo para crianças.
A carteira de vacinação precisa estar em dia antes do retorno?
Sim. O melhor é que a criança tome a dose mesmo que já tenha passado o prazo, porque isso permite ao clínico diferenciar o diagnóstico no surgimento de um sintoma.
Como posso observar o surgimento de sintomas?
“A maior parte das crianças não tem sintomas”, lembra Carvalho. “Então, o acompanhamento é complexo.” Os possíveis sintomas são a coriza e a diarreia, além da febre.
Que cuidados a criança deve tomar no transporte para a escola?
Carvalho indica o uso de máscara para crianças a partir de 2 anos, além de álcool na entrada e na saída. É recomendável que veículos usem apenas de 30% a 40% de sua lotação e deixem as janelas abertas.
É preciso enviar máscaras próprias? Quantas?
Outros países têm orientado que as crianças troquem de máscara a cada duas horas e lavem as mãos com água e sabão ou passem álcool em gel no mesmo intervalo. “No Brasil, sabemos que nem todos têm condições financeiras de fazer isso. Então, o ideal é usar uma máscara na ida para a escola, outra durante a aula e trocar por uma nova na hora de voltar”, explica Carvalho.
Meu filho pode tirar a máscara em algum momento?
Idealmente, não. Ainda assim, é possível que algumas crianças tenham dificuldade de ficar o tempo todo com a máscara. Nesses casos, é aconselhável que, se ela for retirada, isso ocorra em espaço aberto.
Como evitar que ele coce os olhos e coloque a mão na boca ou no rosto?
“É importante que os pais já trabalhem isso antes da volta à escola”, diz Carvalho. Ele explica que é preciso que professores redobrem a atenção com crianças entre 2 e 6 anos.
Com que frequência ele deve higienizar as mãos?
O ideal seria fazer isso a cada duas horas. Ou sempre que tocar no rosto, além de no início e no fim da aula.
Ele pode se sentar com amiguinhos?
Não. Os professores vão precisar ser criativos nas atividades que antes eram feitas em dupla ou grupo e para impedir que se aproximem para brincar. Na Coreia do Sul, por exemplo, os professores deram asas de anjos para as crianças, para ajudá-las a manter a distância de 1,5 metro.
Há risco em pedir material escolar emprestado?
A recomendação é que cada um tenha o seu material. Quando não houver essa possibilidade, é preciso passar álcool antes e depois do uso. Ao chegar em casa, o material deve ser lavado com água e sabão ou exposto ao sol.
A merenda da escola é segura?
“Se tiver oportunidade de levar o lanche, é preferível. Mas sabemos que muitas crianças dependem da refeição escolar”, observa Marcelo Otsuka, da Sociedade Brasileira de Infectologia. Ele diz que é preciso que as responsáveis pela merenda sejam treinadas e que haja rodízio no refeitório.
Como identificar crises de ansiedade?
Segundo Boggio, alguns dos sintomas de ansiedade e pânico mais comuns são: tensão no corpo, falta de comunicação, semblante assustado, aumento na transpiração e nos batimentos cardíacos.
É verdade que a crianças não pegam e não espalham o vírus?
Não, as crianças também são contaminadas, mas nelas os casos são geralmente pouco graves. “São raros os sintomas graves e mesmo risco de óbito em crianças. Elas podem se infectar e transmitir. Elas têm um papel importante a depender da exposição delas à covid-19”, explica o professor Dr. Alexandre Naime Barbosa, chefe da Infectologia da UNESP e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Quais são os principais riscos do retorno às aulas?
O aumento da probabilidade de se infectar pelo coronavírus. “Há uma repercussão do ponto de vista individual, em que a própria pessoa fica doente, quanto do entorno dessa pessoa. Há menos crianças sintomáticas e com probabilidade de doença grave. A principal preocupação seria a criança transmitir o vírus para outras pessoas”, explica o médico infectologista André Bueno. De acordo com ele, caso a transmissão aconteça, é muito mais difícil impedir o contágio no nível domiciliar. A Prefeitura de São Paulo está conduzindo testes sorológicos em professores e alunos da rede municipal para tentar mitigar esse problema.
E para os professores e funcionários?
Ainda há o risco de transmissão no ambiente escolar e a possível evolução para formas mais graves da doença, sobretudo aqueles com maior faixa etária e com comorbidades. “O cenário de volta tem que considerar os riscos e promover a volta em momento de baixa circulação do vírus e os protocolos de segurança pelas escolas. As escolas da rede pública têm uma chance maior de não seguirem as medidas de segurança com o rigor necessário, com equipamentos de proteção individual, reposição de recursos humanos. É um cenário mais difícil que em escolas privadas”, completa o médico infectologista André Bueno. Para mitigar os riscos, a Prefeitura de São Paulo está conduzindo testes sorológicos em professores e alunos da rede municipal.
Qual o papel das crianças nesse cenário?
Em crianças menores de 12 anos, principalmente, há uma baixa adesão às medidas de proteção. “Como fazer que uma criança de 6 anos use máscara, não tenha contato físico com outras crianças, não coloque as mãos no rosto e lave as mãos com frequência? As crianças são potenciais amplificadores da covid-19, podendo contaminar a família e os próprios educadores”, ressalta o infectologista Alexandre Barbosa
Com qual frequência os materiais escolares, carteiras e etc devem ser higienizados?
A higienização com álcool 70% deve ocorrer após o contato com cada criança.
A distância segura nas escolas continua 1,5m?
Sim, segundo infectologistas a distância de segurança ideal é de pelo menos 1,5m de distância entre as crianças e entre as carteiras na sala de aula.
Minha professora que ministra a aula remota estará comigo no retorno presencial?
Isso depende de cada escola e de cada situação pessoal do professor, como se pertence ou não ao grupo de risco. Se o profissional não tiver a possibilidade de retomar as atividades neste momento, um outro professor se encarregará das atividades presenciais. Segundo Vanini Mesquita, orientadora pedagógica do Colégio Santa Maria no Ensino Fundamental de sua unidade, além de estar com a professora titular no ensino remoto, os alunos terão a oportunidade de encontrá-la no contraturno também com atividades de acolhimento, considerando as habilidades socioemocionais.