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Quem são os líderes comunitários que se tornam ‘jovens embaixadores’ nos EUA

Quarenta e seis estudantes foram selecionados entre quase 9 mil candidatos e estão passando três semanas em cidades americanas para vivenciar a cultura local e trocar experiências

Foto do author Gonçalo Junior
Por Gonçalo Junior

Mateus Silva de Oliveira tinha 9 anos quando o pai morreu de meningite bacteriana. A mãe, que já era dependente química, passou a usar drogas de uma forma ainda mais abusiva. O menino ainda se lembra de comprar seringas a pedido dela. Uma denúncia ao Conselho Tutelar da região de Piracanjuba, interior de Goiás, onde moravam, separou Mateus das duas irmãs menores e desfez a família.

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Mateus foi encaminhado ao Rancho Novo Horizonte, ONG fundada por imigrantes americanos e que acolhe e capacita meninos e adolescentes órfãos ou abandonados em Cristianópolis, distante 90 km da capital Goiânia. Ele se tornou voluntário, líder e mentor dos meninos que chegam com os mesmos traumas que ele vivenciou.

A liderança precoce de Mateus chamou a atenção do governo dos Estados Unidos. O goianiense de 18 anos está entre os 46 alunos da rede pública selecionados para o programa Jovens Embaixadores, iniciativa da Embaixada e Consulados dos Estados Unidos no Brasil.

Grupo de jovens líderes brasileiros viaja aos Estados Unidos para intercâmbio cultural Foto: Felipe Menezes

A ação oferece um intercâmbio de curta duração para jovens líderes comunitários que ajudam a promover o bem-estar social em suas comunidades. É uma oportunidade bastante concorrida: foram quase 9 mil inscrições do Brasil inteiro. O intercâmbio conta com o apoio institucional do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Secretarias Estaduais de Educação e da rede de Espaços Americanos espalhados pelas mais diversas partes do País.

“Os melhores embaixadores e os grandes líderes não são apenas os representantes das embaixadas, mas sim jovens que entendem como a vida é, podem aprender e trocar experiências”, diz Luke Ortega, adido de Imprensa da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil.

Desde 2003, 798 jovens líderes já visitaram os EUA. O sucesso da iniciativa por aqui motivou o governo americano a levá-la para toda a América Latina. Neste ano, a edição é especial pela celebração do bicentenário das relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos. “Quando falamos de relações diplomáticas, pensamos na diplomacia, mas os frutos dessas relações são programas como esse, que criam oportunidades de aprendizados para jovens dos dois países”.

A estudante sergipana Isis Santana registra sua passagem pela Flórida em um intercâmbio oferecido pela Embaixada dos EUA no Brasil Foto: Isis Santana/Arquivo Pessoal

A iniciativa está acontecendo entre 20 de janeiro a 4 de fevereiro. A primeira parada em solo americano foi a capital Washington, com oficinas sobre empreendedorismo, reuniões com representantes do governo, além de visitas a escolas da região. Em seguida, eles foram divididos em grupos menores que viajam para várias cidades onde são hospedados por famílias voluntárias.

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A sergipana Isis Maria Goes Santana, de 15 anos, está em Pensacola, na Flórida. “O dia da semana é muito organizado, com planos já definidos. Fomos a uma escola do ensino médio e apresentamos o dia do brasileiro para o grupo Youth Diplomats of Pensacola, por exemplo”.

Isis conta que a troca cultural acontece com as famílias, as chamadas hosts (anfitriãs). “Apresentei um pouco da MPB e eles me falaram sobre a música country. Eles nos levam para jantares, museus e até à praia. Em outras famílias, cozinharam pratos típicos brasileiros”, explica.

A língua inglesa não tem sido uma barreira. Isis saiu do Brasil já com inglês avançado após vários anos de estudo do idioma em escolas particulares. “Ninguém do grupo se sente perdido. Nosso inglês está sendo aprimorado consideravelmente”, diz.

Mateus Oliveira é voluntário em projeto que acolhe meninos órfãos no interior de Goiás Foto: Felipe Menezes

Isis foi selecionada por ser voluntária na “Associação Gloriense Kobayashi Karatê-Do Shorin-Ryu”, que visa capacitar, por meio das artes marciais, jovens expostos à criminalidade e à violência na cidade de Nossa Senhora da Glória, interior de Sergipe. A estudante do 3º ano do Ensino Médio evita detalhes, mas afirma que já perdeu amigos em situações violentas.

Para Mateus, o inglês também não tem sido um empecilho para aproveitar a experiência nos EUA. Ele aprendeu o idioma exatamente no projeto onde atua, em Cristianópolis.

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