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Candidatos a prefeito, não desistam dos estudantes

Mesmo entre os mais apaixonados e envolvidos alunos da escola, há abandono. São também vítimas da pandemia

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Foto do author Renata Cafardo
Por Renata Cafardo
Atualização:

Apesar de muitos candidatos a prefeito no País se guiarem por pesquisas de opinião pública sobre voltar ou não às aulas presenciais, a preocupação dos eleitores deveria se voltar ao que está sendo proposto para lidar com os prejuízos das escolas fechadas em suas cidades. Ainda não há números fechados, mas estima-se que 30% dos jovens podem deixar a escola por causa da pandemia - mais uma triste consequência do coronavírus para a educação. 

Atualmente o País já tem uma taxa alta de evasão de adolescentes: 4 em 10 jovens de 19 anos não concluem a escola. Por mais que a rede municipal quase não ofereça o ensino médio, onde os jovens normalmente estão, também é responsabilidade do prefeito quando cidadãos param de estudar. 

Atualmente o País já tem uma taxa alta de evasão de adolescentes: 4 em 10 jovens de 19 anos não concluem a escola Foto: Werther Santana/ Estadão

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Há situações em que escola não tem nada a ver com o fato de um adolescente abandoná-la. Principalmente na pandemia. Os jovens têm deixado a escola porque não têm internet ou equipamento para fazer aulas online - por melhor que elas sejam. Porque suas famílias, por diversos motivos, não os estimularam suficientemente e não mostraram a importância da educação para o seu desenvolvimento. E, claro, por causa da situação financeira. 

Mesmo entre os mais apaixonados e envolvidos alunos da escola, há abandono. Fernanda Lopes Cunha, de 16 anos, mora na cidade de Barra do Choça, na Bahia, a mais de 500 quilômetros de Salvador. Fala com um sorriso lindo sobre tudo o que aprendeu na escola. Da alegria que tinha ao chegar, cumprimentar os professores, aprender. Lembra da sua última feira de ciências, em que apresentou um projeto que falava “de como a educação salva”.

“A primeira vez que fui ao cinema foi porque professores me levaram”, contou no 4º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, na semana passada. Mas Fernanda recentemente deixou a escola, no 2º ano do ensino médio. E ainda teve de mudar de cidade, não há emprego onde mora e ela precisa trabalhar para ajudar a família durante a pandemia. A ex-estudante emocionou a todos ao imaginar sua vida daqui pra frente, longe da escola. “O ensino médio era um sonho pra mim.”

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Não há em nenhum dos planos de governo dos três primeiros colocados à eleição municipal de São Paulo, a maior cidade do País, uma palavra sobre jovens e crianças como Fernanda. A preocupação precisa ser imediata, depois de um tempo fora da escola é ainda mais difícil voltar. 

O atual prefeito Bruno Covas (PSDB) menciona rapidamente em seu projeto entregue ao Tribunal Superior Eleitoral uma “proposta pedagógica eficaz que garanta o aprendizado de todos e oferte reforço escolar a nossas crianças e adolescentes no pós-pandemia”. Celso Russomano (Republicanos) até se estende ao falar de projetos para a educação no pós-pandemia, citando acolhimento emocional de professores e alunos, avaliação diagnóstica e reforço escolar. Mas, mais uma vez, a atenção é para aqueles que estão na escola. O plano de Guilherme Boulos (PSOL) é o mais vago nesse sentido, fala em garantia do emprego do professor e o retorno às aulas “somente quando for seguro”.

O Unicef enfatiza que entre os danos das escolas fechadas estão o aumento dos casos de gravidez na adolescência, do trabalho infantil e os jovens levados para o tráfico. E oferece ajuda. O projeto Busca Ativa Escolar ensina municípios a encontrar e levar de volta os estudantes que se evadiram. É parceiro também, com outras entidades, numa campanha pop contra a evasão, que lançou neste mês filme e música com os cantores Carlinhos Brown e Lexa. A letra pede aos jovens: “não desista do seu direito de aprender”. Candidatos a prefeito, não desistam do direito deles aprenderem. Não deixem a pandemia fazer mais essas vítimas. 

É REPÓRTER ESPECIAL DO ESTADO E  FUNDADORA DA ASSOCIAÇÃO DE  JORNALISTAS DE EDUCAÇÃO (JEDUCA)

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