Parece chover no molhado, mas é preciso repetir que a educação que um país oferece às suas crianças e jovens tem muito a ver com esses tempos difíceis que vivemos. Crimes com motivação política, intolerância, desvalorização da democracia e dos direitos humanos, estupro até durante o parto.
Pesquisa recente do projeto Demos (Democratic Efficacy and the Varieties of Populism in Europe), que reúne professores de universidades europeias, analisou currículos de 14 países e demonstrou que é preciso ensinar cidadania na escola. O estudo sugere que deva haver um número mínimo de horas, até numa disciplina específica, para o tema.
Nessas aulas, os estudantes discutem processos políticos, conceitos da democracia e aprendem sobre sua participação na sociedade civil. Entre os países pesquisados estão Bélgica, Finlândia, França e Estônia, cujo desempenho dos alunos é o melhor do mundo no Pisa, a prova da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
O resultado dessa educação cívica são jovens com mais interesse por política, menos propensos a ideias populistas e com fortes valores de equidade, tolerância e autonomia.
O mesmo grupo analisou 18 países e também concluiu que o clima na escola é essencial para desenvolver atitudes democráticas. Para isso, a educação precisa ocorrer em ambientes onde as crianças sentem que são acolhidas e que fazem parte do grupo, onde a competição não é o principal e, sim, a cooperação. Quando há bullying e discriminação, o resultado é o oposto.
As escolas brasileiras têm muitas deficiências básicas, mas na educação é preciso atacar em muitas frentes para que haja resultado. Elas devem ensinar a ler e a escrever, mas também formar cidadãos. Não teremos um país melhor se acharmos que a criança pode sair da escola com o mínimo.
E é só mínimo, ou talvez nem isso, que haverá se for confirmado o corte de R$ 26 bilhões para a educação, decorrente da redução do ICMS para combustíveis. Ele é o imposto que sustenta as escolas públicas. Vem da arrecadação do ICMS o dinheiro para o Fundeb, o fundo de financiamento da educação, e o investimento constitucional de 25% feito por Estados e municípios.
Jair Bolsonaro diz que ajuda os pobres ao aumentar o Auxílio Brasil, mas tira da educação. Ele vetou a possibilidade, que estava na lei, de compensação aos Estados e municípios dessas perdas. Uma população que tivesse aprendido na escola o que é um populista e como se faz política pública na democracia não cairia nesse engodo.l
Escolas devem ensinar a ler e a escrever, mas também precisam formar cidadãos