O Brasil está deixando de ser um imitador para se transformar em um inovador no ramo dos produtos relacionados à saúde. O diagnóstico foi feito em um estudo publicado ontem pela revista Nature Biotechnology por pesquisadores do Centro McLaughlin-Rotman para Saúde Global (MRC, na sigla em inglês), ligado à Universidade de Toronto (Canadá). "Mas ainda falta coordenação", ressalva Peter Singer, co-autor do estudo, em entrevista ao Estado. "Em todos os países, há uma tensão natural entre o setor público e privado na área da saúde, mas, no Brasil, essa tensão é maior." Ele aponta as barreiras regulatórias e a falta de colaboração entre atores públicos e privados como os principais obstáculos para que o Brasil seja um competidor global de verdade. O vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Carlos Gadelha, concorda com a necessidade de coordenação. "Somos como um quebra-cabeça que já possui todas as peças, mas que precisa ser montado." As peças em questão são: corpo científico qualificado, mercado interno em expansão e o maior parque industrial do setor na América Latina. Mas ele acredita que as dificuldades apontadas no artigo estão sendo vencidas. "A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) está aprimorando seus métodos para aumentar a eficiência sem diminuir o rigor. E, pela primeira vez, incentivar a indústria biotecnológica é um dos itens prioritários da política nacional de saúde pública." O trabalho é baseado no estudo de caso de 19 empresas privadas brasileiras e de quatro instituições públicas que produzem inovações na área de saúde. O físico José Fernando Perez foi diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) por 12 anos. Deixou a função e fundou uma empresa de biotecnologia aplicada ao tratamento do câncer, a Recepta Biopharma, que participou do estudo. "Fiz isso porque aposto na oportunidade representada pelo setor", afirma. Além de fornecer informações para o governo brasileiro e as empresas nacionais, o estudo também pretende oferecer aos investidores estrangeiros uma visão mais clara das oportunidades de negócios no País. "O mundo mudou. A biotecnologia não é somente São Francisco e Boston. É também São Paulo e Xangai", afirma Singer. O texto divulgado ontem é a terceira parte de um estudo mais abrangente que já analisou o potencial de inovação biotecnológica da China e da Índia. "Graças ao estudo, foram firmadas parcerias entre empresas desses países e companhias americanas", lembra Sarah Frew, pesquisadora do MRC. O próximo alvo do centro canadense será a África do Sul.
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