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Circo muda a vida de estudantes pobres em SP

Por SERGIO POMPEU E EDUARDO KATTAH
Atualização:

"Meu, fico imaginando como fiquei assim, o Homem Elástico, que é como as pessoas me chamam. Acho que é porque eu adoro o circo. Por isso consigo fazer todas essas coisas impressionantes." Quem fala essas "coisas impressionantes" é Fabrício Pires de Campos, de 12 anos, morador de Cidade Tiradentes, distrito pobre, com 220 mil habitantes, no extremo leste de São Paulo. O "Homem Elástico" era um dos 30 garotos que participavam na quinta-feira da oficina de circo do centro cultural do grupo teatral Pombas Urbanas, escolhido um dos melhores projetos de educação integral do País em 2007 no Prêmio Itaú-Unicef. O hiperativo Fabrício está no projeto há dois anos. Diz que está mais tranquilo na escola. "Tento ser dedicado. Mas às vezes piso na bola, como todo mundo." Ao contrário do esguio e falante Fabrício, Patrick Luís Flausino, de 12, é introspectivo. Teve paralisia em parte do corpo aos 2 anos. Mas se empolga quando fala do circo. "Na cambalhota eu era todo desajeitado. Agora tá perfeito!" O mesmo progresso ocorreu na escola, garante. "Ficava brigando, era malcriado com as professoras. Agora elas me elogiam." "A avaliação do trabalho do Pombas Urbanas é muito positiva, entre alunos, pais e professores", diz Elisângela Leal, de 35 anos, coordenadora pedagógica da escola municipal Maurício Goulart, onde Fabrício estuda. "Este ano, incluímos a parceria em nosso projeto pedagógico." Apesar do entusiasmo dos participantes, a avaliação objetiva dos efeitos da educação integral ainda é incipiente. O primeiro trabalho de fôlego nessa área foi um estudo encomendado pela prefeitura de Belo Horizonte sobre o programa Escola Integrada, lançado há dois anos, que ampliou para nove horas a jornada educativa de 17 mil alunos de 63 escolas. Realizado pelo Cedeplar, centro de estudos ligado à Universidade Federal de Minas, o levantamento contou com entrevistas de 2.675 pessoas, entre estudantes, seus parentes, diretores, professores e monitores. Concluído no ano passado, ele mostrou que as crianças passaram a ler mais e a mostrar maior motivação para o estudo, dedicando mais tempo à lição de casa e ao computador e menos à TV. "Houve até melhora nos hábitos de higiene e na nutrição", diz Neuza Macedo, coordenadora do Escola Integrada. A pesquisa não analisou o impacto direto na aprendizagem, o que será verificado este ano, com base nos resultados de exames federais. Mas a prefeitura já ampliou o programa. "A meta é chegar a 100 mil alunos até 2012", diz a secretária da Educação, Macaé Evaristo.

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