Chegou o dia de castrar meu gato. Fui atrás de todas as informações para garantir segurança ao Doritos (o gato) e me deixar tranquila. Descobri a real importância de gastar um pouco mais e contar com um veterinário anestesista.
Primeiro fato muito importante para esclarecer: anestesia não é tudo igual. Eu achava que existia um único princípio ativo, que era injetado de acordo com o peso do animal, e pronto. Nada disso! São inúmeros anestésicos, cada um para uma espécie, dependendo da idade do animal, situação, tipo e local da cirurgia.
Anestesia geral
Ela pode ser geral intravenosa (direto na veia), inalatória ou mesclada. Quem irá decidir é o médico veternário.
Existe um mito de que existe uma anestesia geral, na qual o animal fica consciente, porém sem conseguir se mexer. Porém, o termo "geral" implica na perda de consciência.
Por mais simples que seja a cirurgia nos animais, é sempre utilizada a anestesia geral. Isso para que eles possam ficar mais tranquilos e sem se mexer durante o procedimento.
Não há tempo ideal entre uma anestesia e outra. Há animais, como o cavalo que pode precisar ser sedado semanla
Anestesia local
Em humanos é possível dar apenas um sedativo ou tranquilizante e aplicar a anestesia local. Porém é inviável fazer isso nos animais. A anestesia local é um complemento, que ajudará na recuperação do peludo, para que ele sinta menos dor.
Riscos
Segundo a médica veterinária e professora titular de anestesiologia da FMVZ-USP, Denise Fantoni, o risco, hoje, é considerado bem baixo. Isso porque são usados fármacos mais modernos, feita a monitoração ao longo da cirurgia (o que antigamente era pouco usado na medicina veterinária) e avalia-se melhor o estado de saúde do animal, através dos exames pré-operatórios (hemograma, função renal, hepática,eletrocardiograma e ecocardiograma). "Nesse contexto, é muito mais seguro" explica.
O grande problema é quando não há toda essa preocupação. Em uma campanha de castração, por exemplo, ou em uma clínica veterinária sem monitoramento, o risco é muito maior. Infelizmente alguns veterinários ainda trabalham com técnicas mais antigas de anestesia, nas quais não são levadas em consideração as características individuais de cada animal. Aí a chance de problemas é maior.
Por isso, para garantir o sucesso da cirurgia, fiz todos os exames solicitamos pela veterinária. Além disso, optei por uma clínica com anestesista e monitoramento ao longo de todo o procedimento.
"Antigamente, no começo do século passado, a anestesia era feita com éter, com clorofórmio. A taxa de mortalidade em humanos era altíssima. Esse medo arrasta até hoje. É muito raro haver morte por anestesia. Há 30 anos atrás, quando eu comecei a trabalhar com anestesia, era um horror, morria dois ou três animais por semana. Porque o seu cuidados eram diferentes. Não se conhecia esse paciente de verdade. Apesar de já usar anestesia inalatória, os exames pré-operatórios não eram feitos" pondera Dra Denise.
Animal idoso
O risco é maior pelas funções renais e hepáticas que podem estar piores por conta da idade. Mas é super possível operar um animal de 16 anos, sem problema algum, desde que seja feito tudo corretamente.
Mesmo o animal com problema renal, cardíaco ou diabetes é possivel que ele seja operado. A maior parte dos animais operados tem algum tipo de problema. Mas ao saber disso, é possível pensar qual o melhor anestésico a ser utilizado, sem correr qualquer risco.
Nesses casos, é muito importante ter um anestesista experiente. "Anestesia é igual piloto: precisa ter horas de voo. Pode ter 10 cirurgias tudo bem, mas a próxima pode dar algum problema" lembra a anestesista.
Procedimento
Antes da cirurgia de castração do Doritos, a veterinária Daniela Mungioli pediu um hemograma com função renal e hepática e um eletrocardiograma. Ela fez diversas perguntas sobre o estado de saúde dele. No dia da cirurgia, ela pediu jejum de 8 horas.
Chegado o temido dia da cirurgia, lá fomos eu e o Doritos à clínica. Ao chegar, levamos o pequeno gato ao consultório para ser examinado e em seguida à sala de preparo. Como ele estava na bolsa de transporte com seu cobertor, ficou até que tranquilo. Eu que estava mais nervosa.
Primeiro passo cirúrgico: raspar a pata do gato e pegar a veia. A bióloga mole aqui quase desmaiou. O Doritos? Tava bem de boa com o carinho da Dra Daniela e da Dra Carla Holms (anestesista).
Na veia, foi colocado o soro. Aos poucos, a Dra Carla foi introduzindo o pré-anestésico. O Doritos foi entrando na lombra. Depois de uns 30 minutos, as pupilas estavam dilatadas e ele já estava bem lesado.
Aí que começou a cirurgia em si. Com o gato já sedado, foi feita a tricotomia (raspagem dos pelos) da região a ser operada (as bolinhas, no caso). Enquanto isso, a Dra Carla colocou diversos fios para monitorar pulsação, oxigenação e mais um monte de coisa.
Segunda hora tensa: entubar. Nem olhei! As veterinárias tiraram de letra e em menos de cinco minutos o gato já estava com anestesia inalatória e em posição de cirurgia: de barriga para cima. Por último, foi feita uma anestesia local. Aí já era demais para mim. Saí da sala e fiquei conversando pela porta com as vets.
Uns 20 minutos depois, o Doritos estava sem as bolinhas e ainda sedado. Pouco a pouco a sedação foi tirada, ele foi desentubado e colocado no cobertor com o cheiro dele. "Luiza, cuidado que ele pode voltar agressivo da anestesia" disse a Dra Carla. Sim, alguns animais apresentam comportamentos bizarros ao voltarem da sedação. Mas não foi o caso do Doritos, fofinho.
Ele estava tão tranquilo, que ainda fiz um vídeo com as veterinárias. Nele, a Dra Carla fala sobre o que nós, tutores, podemos fazer de mais errado antes da cirurgia. Olha só:
Pós-operatório
Com o gato acordado, coloquei na bolsa e levei para casa. Ele ficou umas horas andando engraçado, trançando as patas. Dei muita risada, fiz diversos instastories... e finalmente ele voltou ao normal.
Depois de dois dias ele comeu os pontos, mas mesmo assim a cirurgia foi um sucesso. Hoje ele nem lembra mais que um dia teve bolinhas. Parou de tentar copular com meu braço e não faz mais xixi na minha bolsa e sapatos.