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'Mandamos um recado claro para a censura', diz Felipe Neto após distribuir livros LGBT na Bienal

Youtuber disponibilizou 14 mil livros com temática LGBT para serem distribuídos gratuitamente no último sábado, 7, no Rio de Janeiro

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Por Redação
Atualização:
Jovem mostra livro distribuído pelo youtuber Felipe Neto na Bienal do Livro do Rio de Janeiro em 2019. Foto: AFP Photo / Rio de Janeiro Biennial International Book Fair / Fernando Souza

O youtuber Felipe Neto falou sobre o resultado da ação em que distribuiu gratuitamente cerca de 14 mil livros com temática LGBT durante a Bienal do Livro no Rio de Janeiro no último sábado, 7

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"O dia em que mandamos um recado claro para a censura e os opressores: vocês nunca irão calar o amor! O bem sempre vence e sempre vencerá. Foram 14 mil livros de temática LGBTQ+ distribuídos gratuitamente", escreveu Felipe em seu perfil no Instagram.

Na sequência, prosseguiu: "Foi lindo, foi amor, foi luta por um mundo melhor! No final, chegaram os carros dos agentes da censura de Crivella e 20 homens armados prontos para recolher todos os livros. Só tinha um problema: todos já tinham sido entregues de graça."

"Hoje, o amor venceu! Hoje, o Brasil venceu! Feliz 7 de setembro. Comemore hoje, a luta continua amanhã", encerrou o youtuber.

Ato chamado de 'Beijaço' foi realizado na noite de sábado, 7 de setembro, na Bienal do Livro do Rio de Janeiro em protesto ao prefeito da cidade, Marcelo Crivella. Foto: Wilton Júnior / Estadão

Os 14 mil livros, comprados na própria Bienal, foram envolvidos em plástico preto acompanhados de um adesivo: "Este livro é impróprio para pessoas atrasadas, retrógradas e preconceituosas."

Livros como Confissões de Um Garoto Tímido, Nerd e (Ligeiramente) Apaixonado, de Thalita Rebouças, Arrase!, de RuPaul e O Mau Exemplo de Cameron Post, de Emily M. Danforth estiveram entre os exemplares entregues ao público na praça central da Bienal.

Entenda a polêmica envolvendo a Bienal do Rio de Janeiro

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Agentes da Secretaria de Ordem Públicarealizam vistoria nos estandes da Bienal do Livro, no Rio Foto: Marcos de Paula / Prefeitura do Rio

A decisão de Felipe Neto foi tomada após o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB) ter determinado o recolhimento de um livro dos Vingadores com personagens homossexuais por suposto "conteúdo sexual para menores" na quinta-feira, 5. Fiscais da Secretaria Municipal de Ordem Pública do Estado estiveram na Bienal do Livro do Rio no início da tarde desta sexta-feira, 6, e foram vaiados por parte do público. Porém, os fiscais não encontraram nenhum exemplar do livro, pois em cerca de 40 minutos após a abertura do evento a HQ Vingadores - A Cruzada das Crianças já havia se esgotado.

Bienal do Livro no Rio de Janeiro em foto tirada na sexta-feira, 6 de setembro de 2019. Foto: Wilton Júnior / Estadão

No último sábado, 7, Bienal do Livro do Rio anunciou que iria recorrer ao Supremo Tribunal Federal contra a decisão do presidente do Tribunal de Justiça do Rio, Claudio de Mello Tavares, que autorizou a prefeitura do Rio de fazer busca e apreensão de livros com conteúdo considerado impróprio para crianças e adolescentes que estejam sendo vendidos sem lacre e alerta escrito quanto à temática.

Com a medida, a Bienal pretende "garantir o pleno funcionamento do evento e o direito dos expositores de comercializar obras literárias sobre as mais diversas temáticas – como prevê a legislação brasileira".

Manifestantes em protesto realizado na noite de sábado, 7 de setembro, na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, contra oprefeito da cidade, Marcelo Crivella (PRB). Foto: Wilton Júnior / Estadão

Ainda no sábado, à noite, um grupo de manifestantes realizou um protesto contra o que classificam como censura do prefeito Marcelo Crivella. Carregando livros com temática LGBT, o grupo circulou pelos corredores da Bienal gritando palavras de ordem como "não vai ter censura". 

Em dado momento, próximo ao local onde fiscais da prefeitura permaneciam em reunião com organizadores da Bienal, um casal de homens se beijou na boca. O grupo também declamou o artigo da Constituição Federal que proíbe a censura, além de versosda oração de São Francisco.

A atual Porcuradora-Geral da República, Raquel Dodge, pode ser reconduzida ao cargo, mesmo fora da lista tríplice Foto: Dida Sampaio/Estadão

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, que barre a busca e apreensão se livros com a temática LGBT na Bienal do Rio de Janeiro.

Em requerimento encaminhado ao ministro na manhã deste domingo, 8, ela se manifesta pela suspensão da decisão do presidente do Tribunal de Justiça do Rio, Cláudio de Mello Tavares, proferida no sábado, 7.

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A PGR pede urgência ao Supremo que decida, posto que a Bienal se encerra ainda neste domingo. Raquel vê a decisão de Tavares como ‘lesiva à ordem pública’ (clique aqui para ler mais).

O presidente do STF, ministro Dias Toffoli Foto: Dida Sampaio/Estadão

Uma decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, suspendeu liminarmente despacho do presidente do Tribunal de Justiça do Rio, Cláudio Tavares, que havia voltado a autorizar ação de fiscais da gestão Marcelo Crivella no evento.

O ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, também determinou que a gestão Marcelo Crivella, se abstenha de apreender livros de temática LGBT na Bienal do Rio. Em seu despacho, afirmou que a Prefeitura fez ‘verdadeira censura prévia’ e promove ‘patrulha do conteúdo de publicação artística’.

Clique aqui para ler as decisões de Toffoli e Gilmar que derrotam Crivella na Bienal do Rio.

Gilmar Mendes pediu explicações à Presidência da República e ao Ministério da Economia Foto: Wilton Junior/Estadão

Entrevista com Felipe Neto

Na última sexta-feira, 6, Felipe Neto falou ao E+ sobre a sua intenção com a distribuição dos livros na Bienal.

"A ideia foi minha, nascida de um absurdo que a gente está experimentando e vivenciando quase todos os dias no governo brasileiro como um todo. Foi uma resposta a essa intolerância. Num mundo onde a gente precisa incentivar cada vez mais a diversidade, o amor e a aceitação, nós temos líderes políticos e religiosos no Brasil lutando pelo oposto, pelo autoritarismo, pelo excesso de regras baseadas no próprio conceito de moral e não no amor e na aceitação", explicou.

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Segundo o youtuber, foram disponibilizados apenas "livros que tenham como pauta a diversidade, aceitação e o LGBT como uma coisa natural da humanidade."

Felipe Neto Foto: YouTube / @Felipe Neto

"Sejam personagens protagonistas LGBT, histórias de superação, histórias reais, sempre voltado para que, quem leia, leia uma história que tenha a pauta da diversidade como algo absolutamente natural da humanidade", prosseguiu.

Questionado sobre a possibilidade de represálias por parte do público, Felipe respondeu: "Se alguém quer ter algum tipo de represália contra histórias de aceitação, de amor, realmente essa pessoa tem muito ódio dentro de si."

"Não imagino que as pessoas vão ficar contra livros serem distribuídos gratuitamente para a sociedade. Num país onde a gente precisa aumentar e incentivar a leitura e o consumo de livros, acho que é uma ação onde só tem coisas positivas acontecendo. Se alguém enxergar algo negativo nisso, acho que essa pessoa precisa buscar ajuda", concluiu, na ocasião.

++ Bienal do Livro do Rio, Crivella, 'Vingadores' e censura: saiba o que aconteceu

Felipe Neto também publicou um vídeo falando sobre a distribuição de livros na Bienal. Assista:

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