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‘Ser drag não é uma questão de gênero ou identidade, mas puramente artística’, diz Lorelay Fox

Referência em comportamento e maquiagem, a drag queen é jurada na nova temporada de 'Superbonita', do GNT

Por Bárbara Pereira
Atualização:
Lorelay Fox destaca-se como uma das maiores drags queens do Brasil. Foto: Tricia Vieira / GNT / Divulgação

Danilo Dabague é um publicitário de 31 anos, nascido e criado em Sorocaba, interior de São Paulo. Com essa descrição, poderia se tratar de uma pessoa completamente comum. No entanto, o sorocabense criou um alter ego que ficou famoso por todo o Brasil.

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Lorelay Fox é uma das drag queens mais conhecidas do País. Acumula meio milhão de inscritos no YouTube, mais de 300 mil seguidores no Instagram e agora leva esse público e toda sua representatividade à televisão. Ela estreou na nova temporada de Superbonita, do GNT, marcando um novo formato e momento do programa, no ar há 18 anos. Ao lado da atriz e youtuber Giovanna Ewbank, da rapper Karol Conká e do maquiador Renner Souza, a drag queen atua como jurada da competição de maquiagens artísticas.

“Eu sempre fui uma criança que desenhou muito. Desde cedo eu tinha talento e minha mãe me colocou em um curso de desenho quando tinha dez anos. Para mim, até hoje a maquiagem é uma plataforma artística, que permite usar o rosto como um papel, uma tela”, explica. Como jurada no Superbonita, carrega essa bagagem artística e ajuda o movimento das drags a garantirem seu espaço dentro da televisão. Ela acredita que essa importância é bem maior do que aparecer apenas para falar sobre militância, preconceito e homofobia.

“Nossa existência como LGBT vai muito além das questões políticas. É muito legal estar em um programa que tem um público cativo, dentro de uma emissora com um posicionamento tão legal, para dar a opinião como profissional da maquiagem”, reflete. O feedback das redes sociais confirmou o sucesso do programa: “Eles ficam felizes ao ver onde estamos indo, os lugares que estamos chegando, o que estamos conquistando”.

'Para mim,a maquiagem é uma plataforma artística', diz Lorelay. Foto: Fernando Cysneiros / The Drag Series / Divulgação

Lorelay começou no universo das drags por influência de um amigo, que queria participar de um concurso, mas não tinha coragem de se montar sozinho. “Achava muito estranho no começo, era um mundo muito diferente e eu não tinha vontade. Comecei assim, meio que ao acaso. A gente participou do concurso e desde então comecei a trabalhar com isso”, relembra.

“Ser drag não é uma questão de gênero ou identidade, mas puramente artística. O fato de eu aparecer sem estar montada, fora da drag, é pra lembrar as pessoas de que é apenas meu uniforme de trabalho. As pessoas olham muito como se ela tivesse vida própria e não é assim; é a expressão de quem a criou, como a obra de todo artista. É importante levar em consideração o criador da drag”, analisa.

Agora, suas maiores inspirações são as drag queens da própria cidade: “Me inspiro muito nelas”. Por muitos anos, Sorocaba se destacou na cena LGBT. Quando as oportunidades pararam de surgir, Danilo percebeu que era hora de pensar em algo novo. “Eu pensei: ‘ou paro de montar, ou faço algo diferente e que tenha a ver comigo”, relembra. Como já era muito fã de youtubers e consumia esse conteúdo com frequência, criou o próprio canal no começo de 2015. O sucesso não demorou a chegar e Lorelay atraiu uma legião de fãs não somente interessados em aprender sobre o universo drag, mas também em produtos e maquiagens artísticas.

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No começo do mês, publicou um vídeo falando sobre o termo pink money (dinheiro rosa, em português), que está crescendo nas redes sociais e se refere ao poder de compra da comunidade LGBT. Pesquisas recentes estimam que a disponibilidade financeira do público gay equivale a aproximadamente 10% do PIB brasileiro. Para Danilo, precisa existir uma coerência em empresas que declaram apoio à comunidade: “Tudo bem as marcas usarem nosso público, desde que elas realmente estejam engajadas nas nossas pautas. A principal maneira de entender isso é olhar o posicionamento interno dessas empresas”, sugere.

Ele vai além e faz um paralelo com a política, comparando com candidatos que prometem mudanças durante a campanha, mas na hora de agir, tomam decisões diferentes. Quando feito de maneira consciente, pode favorecer (e muito) a causa: “É legal o movimento do pink money para perceberem que nosso poder de consumo consegue pautar decisões de artistas, marcas e empresas na sociedade”, completa.

* Estagiária sob supervisão de Charlise Morais

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