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HC vai transferir pneumologia para o Incor

Mudança gera polêmica; médicos temem que filas de espera por cirurgias cardíacas aumentem mais

Por Emilio Sant'Anna
Atualização:

Com filas para cirurgias cardíacas que chegam a ultrapassar três anos de espera, o Instituto do Coração (Incor) deve passar a internar ainda neste semestre todos os pacientes da pneumologia do complexo do Hospital das Clínicas (HC). Atualmente as internações são feitas no prédio do Instituto Central do complexo. A mudança, porém, desagradou aos médicos da unidade - que esperam o aumento das filas - e prometem recorrer ao Ministério Público Estadual. O projeto em curso prevê a instalação de cerca de 50 leitos para pacientes da pneumologia no Incor, que conta hoje com um número flutuante de 540 leitos para internações. De acordo com o superintende do HC, José Manoel Teixeira, todo o oitavo andar do hospital deve ser ocupado com essa finalidade. Segundo ele, a mudança será feita porque as duas especialidades - pneumologia e cardiologia - são complementares. Teixeira diz ainda que antes da criação do Incor as duas já estavam juntas. Na etapa seguinte da mudança, a UTI respiratória também vai para o Incor e, na última fase da migração, será a vez do ambulatório da pneumologia. "Isso vai prejudicar drasticamente o atendimento da população, pois os médicos do Incor já vêm sofrendo com as dificuldades para internar seus pacientes", diz um médico do instituto que teme represálias da direção e prefere não se identificar. A espera é causada pela falta de leitos para a realização de cirurgias eletivas e de urgência. Algumas delas, como a correção de válvula cardíaca, apresentam filas que podem durar até um ano, os exames eletrofisiológicos têm cerca de 2 mil pacientes que devem esperar até dois anos para serem atendidos e, para fazer a implantação de marca-passos, os pacientes ficariam internados em macas no pronto-socorro. O projeto de transferência da pneumologia começou no ano passado. Em meados de 2008, a intenção do Conselho Deliberativo do HC resultou num abaixo-assinado entregue pelos médicos do Incor à direção. Na época, o processo sofreu uma paralisação e agora foi retomado. "Criamos um grupo de trabalho para estudar continuamente essa situação", diz Teixeira. A solução, diz ele, virá da otimização do uso dos leitos do hospital. "Se existe essa fila hoje no Incor, ela será diminuída com a redução do tempo de permanência dos pacientes e com a maior rotatividade nos leitos", explica. "Não é preciso internar um paciente para realizar um exame e é possível dar alta mais cedo oferecendo, por exemplo, tratamento domiciliar." A solução, no entanto, também não encontra consenso entre os médicos. "Não é possível fazer isso, pois os leitos já são adequadamente utilizados. Trabalhamos na nosso limite", afirma um médico do Incor. "Quem será prejudicado são os pacientes, na maioria usuários do Sistema Único de Saúde (SUS)." Outro médico que pede para não ser identificado diz que a mudança pode provocar problemas. "Colocar no mesmo local um paciente do pós-operatório com alguém com pneumonia, por exemplo, é tudo que não pode acontecer", diz. CINCO ANOS Enquanto não se chega a um consenso para diminuir a fila e ainda receber os pacientes da pneumologia no Incor, pacientes como Juliane Araújo Machado, de 15 anos, continuam aguardando. No caso dela, que precisa fazer uma cirurgia para a correção de um defeito congênito, a espera já chega a cinco anos. O coração de Juliane tem uma falha de cerca de 1 cm que permite a passagem de sangue de um ventrículo para outro e que causa pressão baixa e constantes desmaios. "Eles (Incor) me dizem que não têm leitos para me internar, que só têm para crianças de até 9 anos", diz. O pai dela, Lourival Cerqueira, explica que já tentou reclamar, mas acabou se conformando. "Uma vez apareceu uma vaga em São José do Rio Preto, mas não tínhamos como bancar isso, só de passagem para ela, a mãe e eu, era mais de R$ 200." Procurada, a direção do Incor repassou o pedido para a superintendência do HC. A Secretaria de Estado da Saúde afirmou que a transferência é uma decisão do hospital e por isso não se manifestaria.

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