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Japão tem mais de 90 casos de gripe

Salto de ocorrências, que somavam 8 no sábado, surpreende OMS; Brasil pressiona por acordo sobre vacinas

Por Jamil Chade e GENEBRA
Atualização:

O número de casos da gripe suína no Japão subiu quase 12 vezes em 24 horas e surpreendeu a Organização Mundial da Saúde (OMS). Enquanto a entidade, braço de saúde pública das Nações Unidas, avalia a conveniência de declarar uma pandemia, o Brasil definiu a estratégia de aproveitar a abertura da Assembleia Mundial da Saúde, hoje em Genebra, para fazer um apelo à organização por garantia de acesso a remédios e transferência de tecnologia para todos os países. No fim de semana, o governo americano rejeitou um acordo. Saiba como surgiu a gripe suína e como se prevenir da doença O Japão anunciou que os casos dispararam, de 8 no sábado para mais de 90 ontem - agências internacionais informam entre 92 e 96 ocorrências. Tóquio confirmou que não se trata só de pessoas que retornavam do México ou dos Estados Unidos, mas de pessoas que não tinham saído do país (casos autóctones). Dezenas de afetados são adolescentes. Escolas foram fechadas e eventos, cancelados. "Precisamos acompanhar de perto o que ocorre no Japão", afirmou Gregory Hartl, porta-voz da OMS. Na tarde de ontem, ocorreu a primeira morte em Nova York de uma vítima da gripe suína, de acordo com reportagem do New York Times. Se houver confirmação da OMS, será a quinta morte nos EUA. Segundo o último boletim oficial da OMS (nº 31), que não inclui a explosão de notificações japonesas, nem a vítima americana, a gripe suína afetou quase 8,5 mil pessoas em 39 países, com 72 mortes. Para que uma pandemia seja declarada, a agência precisa documentar surtos fora das Américas. Por ora, a OMS mantém o nível de alerta pré-pandêmico (grau 5, em uma escala que vai até 6). Outra preocupação é com o aumento dos casos na Espanha e Reino Unido, com 103 e 82 registros de infecção pelo H1N1, respectivamente. Ontem, o Reino Unido confirmou 14 novos casos, dos quais 11 autóctones. SEM CONSENSO Mas nem o aumento no número de casos abriu a porta para um entendimento político entre governos. Segue no centro do embate diplomático a questão do controle de vírus e vacinas. O governo americano se recusou a assinar um acordo que garanta acesso a tecnologias e amostras de vírus por todos os países. A Casa Branca não quer nem mesmo que o tema continue na agenda diplomática nesta semana, durante a assembleia. Já o Brasil tenta, nos bastidores, apoios para reconduzir o tema à mesa de negociações. Ao Estado, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, defendeu a interferência da OMS junto aos produtores de vacinas e de remédios para garantir que todos os governos tenham acesso aos produtos. "O País quer que o setor privado e as instituições públicas produtoras, ao desenvolverem vacinas, insumos diagnósticos e medicamentos contra o vírus da nova gripe, concedam à OMS licença voluntária para sua produção por todos os países, em especial aqueles em desenvolvimento", afirmou Temporão, que ontem iniciou negociações com o governo da Espanha. "Diante do risco de pandemia, não pode haver privilégios no acesso a essa tecnologia. Não se questiona, aqui, o direito de patente, mas (queremos) a construção de um modelo que permita o acesso ao tratamento, ao diagnóstico e a medidas preventivas", defendeu. "Isso requer descentralização da produção", completou. Temporão ainda reiterou que o Brasil defenderá o acesso aos benefícios das pesquisas científicas a todos os países membros da OMS. "Afinal, são informações obtidas dos diversos sistemas públicos (nacionais de saúde) e analisadas por instituições credenciadas pela OMS. Assim, são dados que pertencem a toda a comunidade internacional", completou. O presidente mexicano Felipe Calderón também afirmou desejar que a vacina seja desenvolvida dentro da rede de laboratórios da OMS para garantir que não sejam patenteadas e que os preços não fiquem fora do alcance de governos mais pobres. Para o México, a vacina deve ser um "bem público global". O país entregou sábado amostras do vírus H1N1 à OMS para contribuir com o desenvolvimento de uma vacina. A organização não governamental Oxfam estima que metade da capacidade global de produção de vacinas já está negociada para abastecer Europa e EUA. Amanhã, a diretora da OMS, Margaret Chan, e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, se reúnem com empresas de todo o mundo para tratar da questão. O encontro contará com o Instituto Butantã, além da Glaxo e da Sanofi. COM AP

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